Ibovespa fecha em queda de 4,4% no mês em meio a preocupação com estatais; dólar sobe 2,4% em fevereiro

Mercado aumentou a aversão a risco diante da cada vez mais incerta pauta liberal do governo

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (26) e encerrou o mês com perdas de 4,37%, a maior desde setembro de 2020, mês em que a Bolsa sofreu uma desvalorização de 4,8%, e a semana com uma queda de 7,09%, a maior desde 25 de outubro, quando o índice recuou 7,22% em cinco sessões.

Se o mês começou otimista devido à apresentação da agenda de prioridades das então novas presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, alinhadas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, a frustração foi aos poucos tomando conta conforme tanto o noticiário doméstico quanto o externo se enchiam de incertezas.

Começou com as indefinições acerca da criação de um novo auxílio emergencial e de como esse programa seria financiado em um ambiente fiscal tão apertado como o que a máquina pública brasileira enfrenta hoje.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não poderia condicionar a aprovação do auxílio à aprovação de medidas de ajuste fiscal como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial.

Depois foi a vez do cenário externo prejudicar o desempenho das ações aqui. O rali nos rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos passou a trazer preocupações em relação à perda de atratividade da renda variável, uma vez que os ativos mais seguros do mundo estavam rapidamente aumentando os juros pagos.

Por fim, veio a decisão do presidente Jair Bolsonaro de criticar o aumento de preços dos combustíveis promovido pela Petrobras (PETR3; PETR4) e demitir o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, indicando o general Joaquim Silva e Luna para o lugar.

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Mesmo com as sinalizações pró-mercado realizadas nos dias seguintes como a entrega da Medida Provisória da capitalização da Eletrobras (ELET3; ELET6) e do Projeto de Lei de privatização dos Correios no Congresso, alguma desconfiança perdurou e parece ter se exacerbado nesta sexta.

De acordo com informações do jornal O Globo, que cita fontes do Palácio do Planalto, o presidente do Banco do Brasil (BBAS3) André Brandão, colocou o cargo à disposição do presidente Jair Bolsonaro.

No início da semana, Brandão teve uma reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, quando manifestou o desconforto em permanecer no cargo, depois dos rumores de que Bolsonaro queria substitui-lo.

A notícia foi mais uma que mostrou interferência política em empresas estatais ou de economia mista, reforçando as apostas de que a mudança de comando da Petrobras não foi um fato isolado e simboliza uma guinada populista do governo Bolsonaro, que enfraquece o ministro da Economia, Paulo Guedes, enquanto fortalece os militares.

Hoje também foi dia de repercussão do resultado da Vale (VALE3). A mineradora reportou um lucro líquido de US$ 739 milhões. No ano, o lucro da mineradora totalizou US$ 4,88 bilhões. Além disso, no noticiário da companhia, a Polícia Federal informou que a queda da barragem de Brumadinho (MG) ocorreu devido a uma perfuração promovida pela empresa.

Voltando ao radar político, foi adiada a leitura da PEC Emergencial, uma vez que oposicionistas e até governistas não aceitam o fim dos mínimos obrigatórios de investimentos em saúde e educação.

Na noite de ontem, em live, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que o novo auxílio emergencial se estenderá por quatro meses num valor de R$ 250 e que voltará a partir de março.

Entre os indicadores, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, reportou uma taxa de desemprego de 13,9% no trimestre de outubro a dezembro, uma queda de 0,7 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, em linha com as projeções dos economistas compiladas pela Refinitiv. Apesar da baixa, ainda é o maior nível de desocupação desde o início da série histórica 2012.

Lá fora, o desempenho das bolsas internacionais foi negativo mais uma vez principalmente com as quedas de ações de bancos e do setor de energia na NYSE. Os investidores em Wall Street ficaram atentos aos dados de inflação divulgados pela manhã: o núcleo do PCE (indicador mais acompanhado pelo Federal Reserve), cresceu 0,3%, acima dos 0,2% projetados pelos economistas.

Com isso, o Ibovespa teve queda de 1,98%, a 110.035 pontos com volume financeiro negociado de R$ 50,189 bilhões.

Enquanto isso, o dólar comercial fechou em alta de 1,66% a R$ 5,605 na compra e a R$ 5,6055 na venda. No mês, a moeda dos EUA se valorizou em 2,39% ante o real, e na semana teve um avanço de 4,09%. Já o dólar futuro com vencimento em março fechou em leve variação negativa de 0,03% a R$ 5,53 em dia de formação da Ptax.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu 12 pontos-base a 3,74%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de 13 pontos-base a 5,58%, o DI para janeiro de 2025 avançou nove pontos-base a 7,23% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de sete pontos-base a 7,84%.

Recorde de mortes no Brasil

O Brasil registrou 1.582 mortes por Covid na quinta, o recorde de toda a pandemia, que já dura um ano. Assim, o país atingiu a marca de 251.661 mortes. A informação é do consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil, que divulgou, às 20h de quinta (25), o avanço da pandemia em 24 h no país.

A média móvel de mortes em 7 dias foi de 1.150, também um recorde. É o segundo consecutivo registrado nessa métrica, que marca 36 dias acima da marca de mil mortes, e alta de 8% em relação ao patamar registrado 14 dias antes. A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 52.177, alta de 15% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 67.878 casos.

Até o momento, 6.338.137 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid no Brasil, o equivalente a 2,99% da população. A segunda dose foi aplicada em 1.750.781 pessoas, ou 0,83% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.

Na quinta, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, realizou um pronunciamento ao lado de representantes de conselhos de secretários de Saúde. Em uma reunião mais cedo, foi fechado um acordo entre as secretarias estaduais e o Ministério da Saúde, sobre o pagamento pela utilização de leitos de UTI. O ministério deve realizar aportes de R$ 500 milhões para fortalecer unidades de saúde e equipes de saúde da família.

Ele falou também sobre a lotação de UTIs nos estados, e afirmou que “Uma das estratégias com relação a leitos é a utilização de leitos de forma remota. São remoções”. Pazuello não deu, no entanto, detalhes sobre como a possível transferência interestadual de pacientes se daria, e não respondeu a perguntas de jornalistas.

Apesar do recorde de mortes em um único dia e da alta da média móvel de mortes, que também bateu um recorde na quinta, Pazuello disse avaliar que o governo observa uma situação de “estabilidade” no número de casos em outubro e novembro. Ele disse esperar que a vacinação ajude a baixar as taxas de Covid no Brasil.

O general afirmou que a nova cepa identificada em Manaus, tem contaminado três vezes mais rápido, se espalha pelos estados e “já é parte do cotidiano”. “Observa-se que começou a aumentar o oeste do Pará, Belém, capitais como Fortaleza, João Pessoa. (…) Você vê Goiás impactado, Chapecó, varias cidades do país focais subindo”, afirmou o ministro da Saúde.

A fala de Pazuello foi seguida por outra de Carlos Lua, presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), que reúne secretários estaduais. Lua afirmou que os estados estão no limite, com alta ocupação hospitalar em Bahia, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Sul, Paraíba, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe.

“A gente termina a contabilidade tendo feito o transporte de mais de 600 pacientes do Amazonas para outros estados. E mais de 60 de Rondônia. Hoje a gente já teria dificuldade bem maior de fazer esse transporte porque todo mundo está no seu limite. Quase todo o Brasil recebeu pacientes do Amazonas”, afirmou.

Além disso, o Ministério da Saúde informou ter assinado um acordo para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, vacina contra a covid desenvolvida pela farmacêutica indiana Bharat Biotech. O investimento será de R$ 1,614 bilhão. Até o momento, não foram divulgados resultados com a eficácia geral do imunizante, que ainda passa por testes de fase 3, mas já vem sendo utilizado sobre a população indiana.

Auxílio emergencial e PEC

Em sua live semanal na quinta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o auxílio emergencial deve retornar, com valor de R$ 250, a partir de março e com vigência de quatro meses. Ele afirmou, no entanto, que as negociações da proposta envolvem os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ambos defendem volta do benefício interrompido no final do ano passado.

“Estive hoje com [o ministro da Economia] Paulo Guedes e, a princípio, o que deve ser feito: a partir de março por 4 meses R$ 250 de auxílio emergencial”, disse Bolsonaro.

“É isso que está sendo disponibilizado, está sendo conversado ainda, em especial, com os presidentes da Câmara e o Senado porque a gente tem que ter certeza de que nós acertamos vai ser em conjunto, não só eu e a equipe econômica, vai ser junto com o Legislativo também na ponta da linha aquilo seja honrado por todos nós”, disse.

Bolsonaro repetiu que a capacidade de endividamento do país está “no limite” e que o auxílio será pago por quatro meses para ver se a economia “pega de vez, pega para valer”.

O Congresso pressiona o governo pela retomada logo do auxílio, embora tenha adiado nesta quinta a leitura da PEC Emergencial. A proposta é tida pela equipe econômica como vital para dar sustentação a novas despesas com o pagamento emergencial e a busca de um equilíbrio fiscal do país, já que permitirá ao governo gastar acima do teto. A votação da PEC está prevista para a próxima quarta-feira.

O presidente disse que espera, após o período de vigência temporária do auxílio, que a partir de julho haja uma nova proposta de reformulação do Bolsa Família.

Sem dar maiores detalhes, Bolsonaro disse na transmissão que o governo federal vai publicar uma norma que permite um refinanciamento de dívidas de bares e restaurantes, setor afetado pela pandemia.

Mais cedo, o presidente havia afirmado, durante cerimônia de lançamento da revitalização do sistema de Corrente Contínua de Alta Tensão de Furnas, em Foz do Iguaçu (PR) que a substituição de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna como presidente da Petrobras visa uma “nova dinâmica”. Castello Branco foi demitido na sexta (19).

Bolsonaro afirmou ainda que “uma estatal, seja qual for, tem que ter sua visão de social (…) Não podemos admitir uma estatal, um presidente que não tenha essa visão”. A fala ocorre em meio a temores de que o presidente esteja planejando maior poder de intervenção sobre a empresa e sobre os preços praticados sobre o combustível. Mas o presidente afirmou que seus nomeados também teriam liberdade de atuação.

Sob Castello Branco, a Petrobras anunciou na quarta o maior lucro trimestral da história das companhias abertas brasileiras. Em videoconferência com analistas na quinta na qual vestiu uma camiseta com o slogan do metrô de Londres, “mind the gap” (cuidado com o vão, em uma tradução literal), Castello Branco afirmou que os preços não são altos nem caros, e que seguem o mercado.

Além disso, também na quinta o presidente Bolsonaro decidiu entregar a Secom (Secretaria de Comunicação) do governo para mais um militar, o almirante Flávio Rocha, atual secretário Especial de Assuntos Estratégicos. Ele substituirá Fabio Wajngarten, que sai depois de uma sequência de atritos com diferentes membros do governo, com a imprensa, com quem deveria fazer a interlocução, e, recentemente, com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, a quem é subordinado.

Radar corporativo

A temporada de resultados é o grande destaque do noticiário corporativo. A atenção maior fica para a Vale, que teve um lucro de US$ 739 milhões no quarto trimestre de 2020; a companhia ainda aprovou a distribuição de R$ 4,26 por ação na remuneração aos acionistas por conta do desempenho no segundo semestre do ano passado.

Já a  BRF teve lucro líquido de R$ 902 milhões no quarto trimestre, acima da média das expectativas dos analistas de R$ 572 milhões, com impulso da forte demanda da China e no Brasil. A alta foi de 30,8% em relação aos R$ 690 milhões em igual período de 2019.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
BEEF3 3.30138 9.7
ENEV3 2.27102 68
QUAL3 0.6962 31.82
MGLU3 0.49875 24.18

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
BRFS3 -7.16431 21.64
VVAR3 -6.01742 11.87
CSNA3 -5.16445 32.87
HGTX3 -5.03505 14.9
SULA11 -5.03163 33.03

O lucro da Localiza disparou 76% no 4º trimestre, com aumento de preços dos veículos, enquanto a Fleury teve alta de quase 150% no lucro no 4º trimestre, com impulso de testes de Covid-19. Já o lucro da Minerva disparou para R$ 697 milhões em 2020 e a companhia propôs dividendo adicional. Ainda no radar, a Localiza também informou na quinta que seu conselho de administração decidiu que Bruno Lasansky será o próximo presidente-executivo, a partir de 27 de abril.

Fora do radar de balanços, a CCR assinou nesta quinta-feira aditivo do contrato de concessão da Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A concessão da NovaDutra se encerraria no próximo domingo, 28, e foi prorrogada por um ano, até 28 de fevereiro de 2022. Segundo informa a CCR em Fato Relevante, o aditivo foi acertado porque a ANTT não teria tempo hábil para realizar um novo leilão para licitação da concessão.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.