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O Ibovespa fechou bem próximo dos 112 mil pontos nos negócios desta quinta-feira (24), em uma sessão de volume de negócios reduzido, com feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos e a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo. Com a folga em Wall Street, os investidores voltaram a repercutir o noticiário político em clima de euforia.
“O adiamento da PEC da Transição, apesar de trazer incertezas, é uma sinalização de que o governo está negociando e que podemos ter um valor menor que os R$ 180 bilhões [fora do Teto de gastos] informados inicialmente”, afirma Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria.
O otimismo maior do mercado coincidiu com a notícia do Estadão Broadcast de que Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central, idealizador do Plano Real e integrante do governo de transição, poderia participar com Fernando Haddad da equipe econômica do governo eleito.
Assim, o Ibovespa fechou em alta de 2,75%, aos 111.831 pontos. O volume negociado nesta quinta-feira foi de apenas R$ 18 bilhões.
Todas as ações do índice encerraram o pregão em alta, com destaque para empresas de consumo e voltadas à economia interna. A maior alta do dia ficou com Americanas (AMER3), que subiu 11,02%, seguida por Grupo Soma, (SOMA3), com alta de 8,56%.
Os papéis foram beneficiados pela retração nos contratos de juros DI, que recuaram mais de 30 pontos-base nos vencimentos de maior liquidez.
“O IPCA-15 veio abaixo do esperado e isso ajuda bastante também. Uma inflação mais controlada ajuda a ter perspectiva de juros mais baixa em um tempo mais curto”, diz Espinhel.
O IPCA-15 subiu 0,16% em outubro após registrar deflação por dois meses.
Com o maior apetite por risco do investidor, o real se valorizou frente à moeda americana. O dólar comercial fechou em baixa de 1,20%, a R$ 5,310 na compra e na venda.
Amanhã o pregão deve permanecer esvaziado, já que as Bolsas em Nova York, ainda em clima de feriado, vai funcionar em horário reduzido.
Rumores sobre a dobradinha entre Fernando Haddad e Pérsio Arida
De acordo com a publicação, cresce a aposta em uma dobradinha entre os dois – seja com Arida na Secretaria-Executiva da Fazenda ou à frente do Ministério do Planejamento, a ser recriado a partir de janeiro.
Enquanto isso, Haddad desponta como favorito para o Ministério da Fazenda, o que vinha sendo lido como negativo pelos agentes do mercado. Haddad tem buscado diminuir as resistências do mercado financeiro a seu nome e mantém conversas com agentes do setor – e trabalhar ao lado de Pérsio Arida poderia contribuir para diminuir o ceticismo dos investidores com o nome do ex-prefeito de São Paulo.
“O mercado olha com muitos melhores olhos para o Pérsio Arida do que para o Haddad. O Pérsio, que traria uma visão muito mais técnica, já daria tranquilidade”, aponta Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos.
Noernberg ressalta ainda que a notícia, somada ao fato de que o Ibovespa vinha de baixas (o índice acumulava quedas de 6,2% em novembro até a sessão da véspera, impactado principalmente pelo risco fiscal) e o volume menor na Bolsa por conta do feriado americano, acabou levando o índice a registrar fortes ganhos no intraday. “Ainda é cedo para falar alguma coisa, mas é uma notícia realmente positiva para o mercado”, avalia o especialista.
Pedro Tiezzi, assessor de investimentos da SVN, destaca que o mercado tem operado com muita incerteza de olho nos nomes dos ministérios. Desta forma, o nome de Arida para trabalhar ao lado de Haddad retiraria um risco importante do mercado.
Já Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, destaca que é preciso ter cautela em relação a esses rumores. “A sinalização é positiva, mas não ficaria tão otimista como o mercado está hoje”, aponta.
Por um lado, o analista ressalta que os investidores já precificam que haverá um nome político em um ministério relevante na Economia, seja na Fazenda ou no Planejamento. “Mas temos que observar quais serão os secretários e o mercado está bastante ansioso para ver pessoas técnicas ocupando essas cadeiras, porque aí sim vai ter um balanço entre o político (que tende a impulsionar os gastos), enquanto o mais técnico tende a observar os efeitos na economia e ser mais responsável fiscalmente”, avalia.
A especulação de hoje, para Komura, é uma sinalização positiva, mas é bem diferente do que tem sido mostrado desde o resultado da eleição, com indicações de expansão de gastos do governo eleito. “Então temos que observar se é de fato uma mudança na postura que o novo governo está adotando ou se é só para acalmar os ânimos do mercado”, avalia.
Uma maior visibilidade em relação a esses pontos deve acontecer semana que vem, aponta Komura, quando Lula voltar às negociações com o Congresso sobre a PEC da Transição e deve trazer importantes indicações sobre o fiscal.
“A agenda está muito esvaziada, não temos os mercados nos EUA, então essas notícias podem fazer movimentação grande no mercado, mas estamos mais céticos. Por enquanto, parece que o novo governo está testando até onde o mercado vai com cada tipo de posicionamento em relação à equipe econômica”, finaliza.
