Ibovespa cai mais de 3% nesta quinta, mas salta 10,3% no melhor abril em 11 anos; dólar sobe 4,7% no mês

Índice teve forte queda nesta quinta com combinação de notícias negativas e cautela dos investidores antes do feriado

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou esta quinta-feira (30) com queda de mais de 3%, mas não evitou que o índice encerrasse abril com ganhos de 10,25%, com os investidores repercutindo positivamente as expectativas de reabertura de grandes economias após duras medidas de isolamento social por conta da pandemia de coronavírus e com esperanças de avanço no tratamento da Covid-19.

Com isso, a bolsa brasileira registrou seu melhor mês desde janeiro de 2019, quando registrou ganhos de 10,82%, ao passo que foi o melhor abril do Ibovespa desde 2009, quando avançou 15,55%, segundo dados da consultoria Economatica. Apesar da forte valorização em abril, o índice ainda acumula perdas de 30% em 2020.

Após o pânico dos mercados em março, abril foi marcado por um início de recuperação, conforme os investidores avaliam os impactos do surto do coronavírus e algumas regiões esboçam ter deixado o pior para trás.

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No Brasil, porém, o clima político ameaçou pesar sobre o bom humor, apesar de não ter apagado os fortes ganhos do mês. Em especial, o Ibovespa sofreu com a demissão do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, mas em especial da saída na semana passada de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

Na ocasião, a bolsa caiu mais de 5%, com investidores temerosos que o próximo a sair poderia ser Paulo Guedes – o que foi tranquilizado nos últimos dias -, mas também por conta das denúncias feitas por Moro de uma tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal.

A Bolsa nesta quinta-feira

Nesta quinta-feira (30), o Ibovespa fechou com queda de de 3,20%, aos 80.505 pontos – com alta de 6,87% na semana -, puxado pela forte queda de ações dos bancos, em especial o Bradesco, que desabou cerca de 7% após divulgar seu resultado, além do recuo de quase 4% da Vale (clique aqui e veja os destaques de ações).

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Enquanto isso, o dólar comercial teve alta de 1,55%, cotado a R$ 5,4363 na compra e R$ 5,4380 na venda – fechando o mês com valorização de 4,7%. O dólar futuro para maio, por sua vez, avançou 1,71%, para R$ 5,427.

Já no mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 4 pontos-base, a 3,62%, enquanto o DI para janeiro de 2023 teve alta de 3 pontos, para 4,80%. O contrato para janeiro de 2025 avançou 3 pontos-base a 6,50%.

Para a equipe de análise da Levante, o cenário amplo ainda é positivo, mas a sessão de hoje foi impactada por uma combinação de fatores negativos, que acabaram derrubando o índice.

Entre os números que impactaram o mercado hoje, além de indicadores econômicos mais fracos no exterior e no Brasil, a queda do lucro do Bradesco, uma realização de lucros após três fortes altas seguidas e o feriado desta sexta, colocaram os investidores em clima de cautela e pesaram na Bolsa. “Neste cenário, o dia é negativo para a Bolsa, no entanto, a visão positiva segue forte”, avalia a Levante.

No exterior, o dia foi de queda, mas também de recordes positivos em Wall Street. Os índices Dow Jones e S&P 500 caíram 1,17% e 0,92%, respectivamente nesta quinta, mas registraram seus melhores meses desde 1987, avançando 10,5% e 12,8% em abril.

Indicadores econômicos

Um dos dados mais aguardados do dia, o número de pedidos de auxílio-desemprego nos EUA na semana passada chegou a 3,84 milhões, e apesar da queda em relação à semana anterior, ficou levemente acima da expectativa mediana dos economistas compilada pela Bloomberg, que apontava para 3,5 milhões de pedidos.

Com isso, o total de pedidos de auxílio-desemprego em seis semanas, desde o início da crise do novo coronavírus, superou 30 milhões. Os pedidos na semana encerrada em 25 de abril chegaram ao nível mais baixo em um mês, após terem batido seu maior nível na semana de 28 de março, quando foram atingiram um recorde de 6,87 milhões.

Enquanto isso, a renda pessoal do americano em março teve queda de 2%, contra uma projeção de 1,7%, ao passo que o consumo teve um tombo de 7,5%.

Por aqui, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que a taxa de desemprego no país subiu para 12,2% no trimestre encerrado em março, atingindo 12,9 milhões de pessoas e já mostrando o impacto inicial da pandemia do coronavírus sobre o mercado de trabalho no país.

A expectativa, segundo consenso Bloomberg, era de que a taxa de desemprego no Brasil iria acelerar para 12,5% em março, ante 11,6% do trimestre móvel até fevereiro.

Na Europa, o Eurostat informou que a economia da União Europeia teve uma retração de 3,8% no 1º trimestre de 2020, o pior resultado desde 1995.

A queda no PIB do bloco europeu ocorreu por causa do avanço da epidemia do coronavírus, que levou à paralisação dos serviços, fechamento do comércio e medidas de quarentena na Itália, Espanha, França, Bélgica e Alemanha. Enquanto isso, a taxa de desemprego subiu para 7,4% da força de trabalho em março.

Já o Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as principais taxas de juros inalteradas em meio à profunda crise econômica da região, afirmando ainda que está pronto para aumentar seu programa de estímulos se for necessário.

O BCE já implantou um pacote massivo de estímulos para mitigar parte do choque econômico. Em março, o banco central começou a comprar títulos do governo como parte de um pacote de 750 bilhões de euros e reduziu os custos dos bancos para apoiar a atividade de empréstimo.

Política 

O presidente Jair Bolsonaro desautorizou na noite de ontem a Advocacia Geral da União (AGU), a qual declarou mais cedo que não entraria com recurso após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ter suspenso a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal. Bolsonaro, após dar posse de ministro da Justiça ao advogado André Mendonça – amigo dos filhos do presidente – afirmou que “quem manda sou eu, e eu quero o Ramagem lá”.

Segundo o mandatário, é dever da AGU recorrer da decisão do STF. Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes declarou em sua decisão a “inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e do interesse público” ao barrar a posse de Ramagem, informam os jornais O Globo e Folha de S. Paulo.

Ainda no radar político, um ponto positivo para mercado é possível reaproximação de Maia e Guedes, noticiada pelo jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a coluna do Estadão, o ministro e o presidente da Câmara voltaram a se falar recentemente, mas de maneira fria e por mensagem. Aliados de ambos buscam marcar um encontro, argumentando que o desentendimento entre Guedes e Maia complica o caminho de pautas vitais ao País, em especial, as econômicas, como o projeto de ajuda aos Estados.

Noticiário corporativo

O Bradesco registrou um lucro líquido recorrente de R$ 3,753 bilhões no primeiro trimestre de 2020, uma baixa de 39,8% na comparação com igual período do ano passado, em meio à provisão de R$ 2,7 bilhões para absorver perdas com o aumento da inadimplência esperado com a crise do coronavírus. O lucro contábil foi de R$ 3,382 bilhões, recuo de 41,9%.

A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) divulgou balanço e informou que obteve lucro líquido de R$ 53,8 milhões no 1º trimestre de 2020, revertendo prejuízo de R$ 158,2 milhões de igual período de 2019. A Cesp afirma que voltou ao lucro após tomar várias medidas de gestão, reduzindo em 63% o custo da energia comprada.

A Multiplan, uma das maiores administradoras de shopping centers do Brasil, também divulgou resultados trimestrais. A empresa reportou lucro líquido de R$ 177,7 milhões no período, expansão de 93% sobre igual trimestre de 2019. Embora os resultados tenham sido impactados pela epidemia do coronavírus, a Multiplan detalhou que eles só ocorreram a partir de 18 de março, com o fechamento de todos os centros comerciais. Os lojistas tiveram queda superior a 11% nas vendas no 1º trimestre.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.