Ibovespa opera no vermelho com derrocada do petróleo e bancos; dólar sobe a R$ 5,31

Mercado registra perdas em meio à derrocada da commodity por conta da falta de demanda no mercado global

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa intensificou a perda pouco antes da última hora de negociações nesta segunda-feira (20). Às 16h21, o índice tinha desvalorização de 0,33%, a 78.726 pontos. O volume financeiro chegava perto dos R$ 30 bilhões.

As ações da Petrobras, que chegaram a operar no azul mais cedo, intensificaram as perdas no fim da tarde, assim como os papéis dos bancos, o que empurrou a Bolsa para baixo.

O mercado era pressionado pelo novo crash do petróleo no mercado internacional, com o contrato do barril americano WTI para maio derretendo mais de 100% e sendo negociado a preço negativo pela primeira vez na história.

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Também gera ruído o noticiário político, após as manifestações do domingo (19), endossadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que incitavam a volta do regime militar.

O dólar futuro para maio tem alta de 1,32%, a R$ 5,31. O dólar comercial sobe 1,3%, a R$ 5,301 na compra e R$ 5,303 na venda. Na máxima da sessão, a moeda americana chegou a bater nos R$ 5,31.

Embora era esperada que a liquidez do pregão hoje fosse comprometida pelo feriado de Tiradentes amanhã, com muitos traders sem negociar na emenda do feriado, os volumes estiveram próximos dos níveis atingidos em dias normais de negociação. A B3 estará fechada nesta terça-feira (21).

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Crash do petróleo

O contrato do barril de petróleo americano WTI para maio, que vence nesta terça-feira (21), recua mais de 100% e é negociado a um preço negativo pela primeira vez na história.

Segundo analistas, o movimento reflete a percepção do mercado de que o corte de 9,7 milhões de barris diários anunciados semana passada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) não será suficiente para fazer frente à queda na demanda global por conta dos impactos econômicos do coronavírus, de cerca de 30%.

“O preço negativo mostra que os produtores estão dispostos a pagar para ter seu petróleo estocado, num momento em que há uma grande oferta e uma demanda baixa”, explica Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos especializado em petróleo.

A Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos informou que as reservas de petróleo subiram 19,25 milhões de barris na semana passada.

Assim, como o vencimento do contrato de barril de WTI para entrega em maio termina amanhã, aqueles investidores que o assinaram têm de encontrar compradores físicos — uma tarefa quase impossível no atual cenário se não abaixarem os preços.

Os operadores de contratos futuros geralmente conseguem passar com tranquilidade do contrato vencido para o próximo, mas dessa vez estão encontrando poucos compradores dispostos a receber os barris do vencimento maio.

A corrida para se desfazer dos papéis a qualquer custo gerou o crash no preço observado hoje. Às 16h12 (de Brasília), o contrato WTI para maio caía 266,4%, para US$ 30,40 negativos.

Já o contrato para junho tinha queda de 14,14%, para US$ 21,49. Enquanto o contrato mais negociado do petróleo tipo Brent, que opera em Londres e tem vencimento em junho, que chegou a cair mais de 5% na sessão, inverteu o movimento e subia 3%, para US$ 26,34.

As Bolsas da Ásia fecharam em queda, com a exceção de Xangai, onde o Banco do Povo da China cortou a taxa de juros em 0,20 ponto porcentual, para 3,85% ao ano. As Bolsas europeias tiveram um dia instável, mas fecharam no azul.

Nos Estados Unidos, a IBM publica balanço hoje, enquanto Coca-Cola, Netflix e Texas Instruments divulgam resultados na terça-feira. Mas o investidor americano está mais preocupado com a reabertura da economia, que Trump anunciou para 5 de maio, e com um pacote de US$ 450 bilhões para pequenas e médias empresas em discussão no Congresso.

No Brasil, a Câmara dos Deputados vota nesta semana o chamado “orçamento de guerra” para o combate aos efeitos da epidemia do coronavírus. A Câmara deve votar a matéria na quarta-feira, após o feriado de 21 de abril.

Entre os indicadores, o Relatório Focus mostrou que os economistas projetam uma queda de 2,96% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020. O dado é bem mais negativo que o da semana passada, quando a mediana das previsões dos especialistas era de uma retração de 1,96%. Para 2021, contudo, a projeção foi elevada de 2,7% na semana anterior para 3,1% agora.

A expectativa para a taxa básica de juros ao fim de 2020 foi reduzida de 3,25% para 3% ao ano. Para o ano que vem, a projeção foi mantida em 4,5% após três semanas consecutivas de revisões para baixo.

Em meio a medidas de isolamento social visando minimizar a disseminação do coronavírus, as expectativas para inflação e crescimento da economia do país também foram novamente reduzidas. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção de alta foi cortada pela sexta vez consecutiva, de 2,52% para 2,23%, em 2020, e cortada também de 3,5% para 3,4% em 2021.

No que tange às previsões para o mercado cambial, o relatório Focus revelou que a estimativa para o dólar teve alta de R$ 4,60 para R$ 4,80, em 2020, e um aumento de R$ 4,47 para R$ 4,50, ao fim de 2021.

Política

O presidente Jair Bolsonaro participou no domingo de um ato a favor de um golpe militar, do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e contra as quarentenas para conter a epidemia do coronavírus no Brasil. O ato ocorreu na frente do quartel-general do Exército em Brasília (DF).

No ato, Bolsonaro prometeu “defender a democracia e a liberdade”, mas também afirmou que não vai “negociar nada” com o Congresso. No final de semana ocorreram carreatas contra a quarentena em Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, onde os participantes atacaram o governador João Doria (PSDB).

Doria condenou os atos e a participação de Bolsonaro na manifestação no Distrito Federal no domingo. “É lamentável que o presidente da República apoie um ato antidemocrático”, afirmou o governador de São Paulo.

Na capital paulista, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram feitos panelaços contra o presidente na noite de domingo. As declarações do mandatário geraram mal-estar na cúpula das Forças Armadas, bem como no Congresso e na Procuradoria-Geral da União.

Nesta manhã, Bolsonaro ao falar com a imprensa na porta do Palácio do Planalto disse que defende a democracia e quer o Congresso e o STF abertos, livres e com transparência.

Pandemia

O número de mortos pelo coronavírus ultrapassou mil ontem em São Paulo, chegando a 1.015 no estado. Em 32 dias, São Paulo chegou a 14.267 pessoas infectadas. Só no cemitério da Vila Formosa, na zona Leste da capital paulista, 13 retroescavadeiras abriram covas no final de semana.

O Ministério da Saúde informou que ocorreram 115 mortes pela doença no Brasil em apenas um dia, do sábado para o domingo. Segundo dados do Ministério, o Brasil tinha na noite de ontem 38.654 casos confirmados e 2.462 mortes.

Noticiário corporativo

A AES Tietê rejeitou na noite de domingo a oferta da Eneva para comprar a empresa. Em fato relevante, o Conselho de Administração da AES Tietê citou a “incompatibilidade” entre as estratégias das empresas.

Já a Eletrobras aprovou a oferta de R$ 232 milhões que a Evoltz Energia fez na sua participação restante na Manaus Transmissora de Energia (MTE).

Em outras notícias, a construtora MRV informou que pagará R$ 163,9 milhões em dividendos mínimos obrigatórios aos acionistas, relativos ao exercício de 2019. A MRV ainda não fixou uma data, contudo, para o pagamento.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.