Ibovespa cai 5,2% e vai ao menor patamar desde julho de 2017; dólar salta a R$ 5,13

Mercado segue em sua trajetória de aprofundamento da aversão a risco graças à lentidão com que se preparam respostas à pandemia de coronavírus

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em forte queda nesta segunda-feira (23) e retornou aos níveis de 2017 por conta do impasse no Congresso americano, que fracassou duas vezes em aprovar um pacote de socorro de US$ 2 trilhões para enfrentar os efeitos econômicos nefastos do coronavírus.

As bolsas americanas chegaram a desabar 4,2% hoje após a segunda tentativa de acordo entre parlamentares Democratas e Republicanos dar errado à tarde, mas amenizaram as perdas e terminaram em baixas próximas de 3%.

De outro lado, porém, foi bem visto pelo mercado o comprometimento do Federal Reserve em realizar compras de ativos sem limites para ajudar os investidores a enfrentarem a crise do coronavírus. Uma das medidas será um programa de US$ 300 bilhões de apoio ao fluxo de crédito.

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No Brasil, o número de casos de infecção pela Covid-19 chegou a 1.891, com 34 mortes. No mundo todo, o número de infectados atingiu 329 mil pessoas segundo a universidade Johns Hopkins. As mortes estariam em 14,3 mil.

Na Itália, foram confirmadas 601 novas mortes hoje e 4.789 infecções desde domingo. As fatalidades, embora ainda sejam muito altas, caíram pelo segundo dia seguido, pois no domingo 651 pessoas morreram e no sábado foram 793. O país espera uma desaceleração da pandemia esta semana.

Por aqui, o Banco Central anunciou a redução da alíquota do compulsório sobre recursos a prazo de 25% para 17%. “Temporária, a medida tem o objetivo de aumentar a liquidez do Sistema Financeiro Nacional”, destaca o BC em comunicado.

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O Ibovespa caiu 5,22% a 63.569 pontos com volume financeiro negociado de R$ 24,6 bilhões, voltando ao seu menor nível de fechamento desde 10 de julho de 2017, quando o principal índice da B3 encerrou o pregão cotado em 63.025 pontos.

Já o dólar futuro para abril avança 1,33%, a R$ 5,132, enquanto o dólar comercial teve alta de 2,21%, a R$ 5,1357 na compra e R$ 5,1385 na venda.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 24 pontos-base a 5,61%, o DI para janeiro de 2023 subiu nove pontos-base a 7,23% e o DI para janeiro de 2025 avançou 38 pontos-base a 8,67%.

Neste domingo, o BNDES suspendeu o pagamento de dívidas das empresas por seis meses e anunciou que tornará disponíveis R$ 55 bilhões para as companhias. Empresários também pediram um “Plano Marshall” para evitar o colapso da economia brasileira, com o comércio praticamente fechado e os serviços reduzidos por causa da epidemia.

Sobre o pacote de medidas nos EUA, legisladores e autoridades do governo esperavam chegar a um acordo para que ambas as câmaras do Congresso o aprovassem na abertura da semana na segunda-feira e antes que os mercados financeiros reagissem adversamente à crise.

Mas Democratas disseram que o pacote elaborado pelos republicanos favorece as empresas, mas não vai longe o suficiente para ajudar as pessoas que enfrentam desemprego e perda de renda.

Legisladores podem votar novamente em uma moção para prosseguir, caso cheguem a um acordo sobre os esboços do pacote de resgate, mas o senador republicano Mitch McConnell (Kentucky) criticou os Democratas no Senado após a votação. “Estamos de volta à estaca zero”, disse McConnell após o fracasso da votação. Ele disse que tentaria novamente em um momento de sua escolha.

Ata do Copom

O BC divulgou hoje a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em que a Selic foi cortada em 0,5 ponto percentual, para 3,75%, em meio aos impactos do coronavírus para a economia.

Os integrantes do comitê apontaram que “a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural”. Esta avaliação já constou no comunicado da semana passada do Copom.

O documento apontou que o BC vê como adequada a manutenção da Selic no novo patamar. Contudo, destacou que o ambiente para os emergentes tornou-se desafiador, que o coronavírus provoca desaceleração significativa do crescimento global e que o BC continuará fazendo uso de todo o seu arsenal. Neste caso, novas informações são essenciais para tomar os próximos passos.

A ata lista os canais de transmissão do vírus e cita que simulações indicam que seria necessário corte acima de 0,50 p.p., mas ponderou que seria contraproducente diante de interrupção das reformas. Para o BC, o coronavírus provoca desaceleração global e o efeito na atividade pode ser significativo.

Relatório Focus

O mercado reduziu a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 1,68% para 1,48% em 2020, informa a pesquisa Focus conduzida pelo Banco Central com economistas do setor financeiro.

O mercado também projeta um câmbio com dólar mais forte no final do ano, com a taxa saltando de R$ 4,35 na pesquisa da semana passada para R$ 4,50 por dólar na divulgada hoje.

Houve leve redução na projeção da inflação medida pelo IPCA para 2020, de 3,10% para 3,04%.

Para 2021, o mercado manteve inalterada a projeção de um crescimento de 2,5% no PIB e de uma taxa básica de juros, a Selic, em 5,25% ao ano.

Houve uma ligeira mudança na taxa de câmbio para 2021, com a expectativa de o dólar fechar 2021 cotado a R$ 4,25 – na semana passada, a projeção era de R$ 4,20.

Política

O presidente Jair Bolsonaro chamou os governadores dos estados de “exterminadores de empregos” em entrevista a uma emissora de TV na noite de ontem. O presidente voltou a minimizar a epidemia e a atacar a imprensa.

“Você não me vê atacando nenhum governador, eles é que me atacam constantemente. Brevemente, o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nesta questão do coronavírus”, afirmou o mandatário. Porém, embora tenha atacado a imprensa, Bolsonaro a incluiu em decreto firmado no domingo entre os serviços essenciais que não podem parar por causa da pandemia. O decreto firmado ontem tem efeito imediato.

Judiciário 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu por seis meses o pagamento da dívida do Estado de São Paulo com a União, informa o jornal Folha de S. Paulo. Só nesta segunda-feira, deveriam ser pagos R$ 1,2 bilhão.

A medida do STF obriga o governo paulista a investir o dinheiro no combate à pandemia do coronavírus. “A pandemia é uma ameaça real e iminente, que irá extenuar a capacidade do sistema público de saúde, com consequências desastrosas para a população, caso não sejam adotadas medidas de efeito imediato”, escreveu o ministro.

No pedido que fez ao STF, o governo de São Paulo alertou que 70% dos mais de 1.500 casos do coronavírus no Brasil estão no estado, que concentra 20% da população brasileira. A dívida do Estado de São Paulo com o governo federal soma R$ 247 bilhões.

Noticiário corporativo

A mineradora Vale comprou 5 milhões de kits de testes rápidos para detectar o coronavírus. Segundo a empresa, os kits dão o resultado em apenas quinze minutos. A Vale comprou os kits na China e eles serão doados ao governo brasileiro; a primeira remessa, de 1 milhão de unidades, deverá ser entregue à Vale na sexta-feira (27 de março) e poderá chegar ao Brasil na semana seguinte.

Já a Via Varejo e a Lojas Marisa comunicaram no final de semana que fecharam todas as suas lojas no Brasil para tentar conter a epidemia do coronavírus. A Portobello divulgou balanço e informou um lucro líquido de R$ 13,1 milhões no ano passado.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.