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O Ibovespa fechou em queda de 1,67% nesta sexta-feira (24), aos 105.798 pontos. O índice, por mais um dia, sofreu acompanhando o mercado externo, como foi em toda a semana, na qual acumulou uma baixa de 3,09%.
Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram, respectivamente, 1,02%, 1,05% e 1,69%. Na mesma sequência, nos últimos cinco pregões, as quedas foram de 2,99%, 2,67% e 3,33%.
Por lá, o temor é de que o Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária americana, não conseguirá frear, ou reverter, a alta de juros ainda em 2023. Dados macroeconômicos continuam a aumentar o temor de que as taxas terão de ficar altas por mais tempo e até mesmo chegar a patamares finais mais elevados, de forma a frear a inflação e a economia americana, esta última ainda muito aquecida.
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Hoje, foi a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), o favorito do Fed, que pesou sobre o sentimento do mercado. O núcleo do indicador registrou alta de 0,6% em janeiro na comparação mensal, ante 0,4% da projeção da Refinitiv. Antes, números como a inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês), já tinham aumentado esse temor.
“Tivemos um dia bem negativo tanto localmente quanto no exterior e o principal catalisador para esse movimento foi o relatório do PCE, que trouxe dados acima das expectativas”, comenta Jennie Lie, estrategista de ações da XP Investimentos. “Nos últimos dias, nas últimas semanas, temos visto uma série de dados que tem contribuído para uma visão cada vez mais forte de que a economia americana ainda está muito aquecida, o que dá espaço para o Fed continuar a apertar os juros no futuro”.
Os treasuries yields para dez anos com isso, chegaram a tocar os 4%, o que não era visto desde novembro do ano passado, mas fecharam a uma taxa de 3,949%, com um alta de 6,8 pontos-base. Os títulos do tesouro americano para dois anos fecharam a 4,814%, com mais 12,1 pontos.
“Tivemos um inicio de ano forte, com mercado precificando um cenário positivo de soft landing, com desaceleração econômica mais moderada, sem entrada em uma crise ou em uma recessão, com inflação caindo gradualmente e juros menores em todo o mundo. Esse cenário está se revertendo”, explica Lie.
O dólar ganhou, hoje, força mundialmente. O DXY, índice que mede a força da divisa americana frente a outras de países desenvolvidos, subiu 0,59%, aos 105,22 pontos, patamar não visto desde dezembro. Frente ao real, a moeda americana subiu 1,23% no dia, a R$ 5,198 na compra e R$ 5,199 na venda, e 0,6% na semana.
“Inflação dos Estados Unidos veio acima do esperado, o que deixou o mercado mundial bem azedo. Estamos vendo o DXY subindo forte e puxando o dólar para cima sobre todas as moedas. O Brasil não é exceção e entra no pacote”, comenta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
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O cenário externo, com tudo isso, roubou a cena do interno. Em semana mais curta e sem muitos acontecimentos políticos por conta do Carnaval, foi o exterior que mais pesou sobre o Ibovespa, sobre a curva de juros brasileira e sobre o dólar. Mas com o fim do Carnaval, Brasília volta aos holofotes.
A discussão sobre a reoneração dos combustíveis voltou a chamar atenção nesta sexta, alimentando novos embates entre o ministro da Fazenda Fernando Haddad e ala política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O temor do mercado é que a manutenção da isenção dos impostos sobre os combustíveis por mais tempo piore a situação fiscal brasileira.
Entre as principais quedas do Ibovespa, também por isso, ficaram as ações preferenciais da Raízen (RAIZ4), com menos 4,93%. Investidores seguem temendo que a continuação da desoneração dos combustíveis fósseis pode impactar a companhia, que trabalha, principalmente, com etanol.
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“No Brasil, o que a gente viu foi a discussão sobre a remuneração da gasolina e do álcool, que voltará no primeiro de março caso o governo não faça nada. Há muito burburinho em cima disso”, debate Marcelo Ornelas, PM de renda Variável da Kínitro.
A curva de juros brasileira, com pressão externa e interna, fechou toda no verde. Os DIs para 2024 ganharam 7,5 pontos-base, indo a uma taxa de 13,47%, e os para 2025, 15,5 pontos, a 12,77%. Os contratos para 2027 encerraram o pregão a 13,04%, com mais 17 pontos. Os DIs para 2029 e 2031 subiram, respectivamente, 17 e 15 pontos, a 13,41% e 13,54%.
Pesou nela também a publicação da prévia da inflação brasileira, o IPCA-15 de fevereiro, com alta de 0,76%, ante 0,72% do consenso.
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“Se tivermos um cenário ruim lá fora, de probabilidades de recessão aumentando, acho que pode ter um impacto negativo por aqui sim, especialmente porque o cenário doméstico também tem sido bem difícil”, fala a estrategista de ações da XP.