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Ibovespa cai 1,42% e acumula perdas de 2,7% nas duas sessões de outubro, com pressão dos títulos americanos; entenda o movimento

Perspectiva de que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, pode ser mais duro continua pressionando Bolsa brasileira

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 1,42% nesta terça-feira (3), aos 113.419 pontos, menor patamar desde o dia 5 de junho, quando fechou a 112.696 pontos. No segundo pregão de outubro, o principal índice da Bolsa brasileira registrou sua segunda queda forte do mês, acumulando uma baixa de 2,70%, impactado, em ambas ocasiões, pela alta dos juros no exterior.

“O Ibovespa voltou a refletir o cenário de aversão ao risco global, puxado pela renovação dos temores de que o Federak Reserve volte a elevar os juros, após a divulgação do relatório Jolts do mercado de trabalho americano, cujos dados vieram acima do esperado”, fala Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

O dado macroeconômico em questão trouxe que a abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos cresceu para 9,61 milhões em agosto, bem acima do consenso do mercado, que previa a criação de 8,9 milhões de vagas.

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“Os sinais de resiliência do mercado de trabalho dos EUA podem dificultar o combate à inflação, o que poderia induzir ao Fed a realizar novas altas dos juros, atraindo fluxo de capitais para o país e ajudando para o movimento de valorização do dólar”, explica o especialista.

Os treasuries yields, com isso, voltaram a subir forte. Os para dois anos ganharam quatro pontos-base, a 5,152%, e os para dez anos, 11,7 pontos, a 4,80% – ambos renovando máximas em aproximadamente 15 anos. Já os benchmarks americanos caíram, com Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuando, respectivamente, 1,29%, 1,37% e 1,87%.

“Apesar de ser um bom indicador para a população, como a principal missão do Fed é controlar a inflação, este dado acaba pesando negativamente. Quando há muitas pessoas empregadas, a inflação tende a se manter ou até aumentar, tendo em vista o maior quantidade de dinheiro em circulação. Isso acaba pressionando a curva de juros”, contextualiza Elcio Cardozo, especialista em mercados de capitais da Matriz Capital.

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O dólar valorizou mundialmente. O DXY, que mede a força da moeda americana frente a outras de países desenvolvidos, chegou aos 107 pontos, maior nível em um ano. Frente ao real a alta foi de 1,73%, a R$ 5,154 na compra e na venda.

“O dólar decolou hoje e atingiu sua máxima desde o final de março, superando a marca dos R$ 5,10, após a divulgação do relatório de emprego Jolts. A moeda norte-americana tem se mantido firme acima dos R$ 5,00, principalmente sob forte influência externa”, explica Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio.

“Com a perspectiva de juros mais altos por mais tempo, os títulos de renda fixa nos Estados Unidos se tornam mais atrativos, o que está impactando negativamente nas bolsas e mais firmemente nas moedas dos emergentes”, acrescenta.

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A alta dos juros americanos acaba também impactando a curva brasileira Os DIs para 2025 ganharam 11 pontos-base, a 12,25%, e os para 2027, 20 pontos, a 11,24%. As taxas dos contratos para 2029 e 2031 subiram 20 e 25 pontos, a 11,70% e 11,95%.

“O que está acontecendo (na curva a termo brasileira) é reflexo principalmente do movimento dos Treasuries lá fora. O rendimento dos títulos norte-americanos, especialmente os de longo prazo, estão sendo negociados bem próximos dos níveis de 2007, antes da crise global”, pontuou Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, para a Reuters.

Com o movimento desta terça-feira, a perspectiva para as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC também se alterou. Para o encontro de novembro, a curva a termo ainda precifica quase 100% de chances de o corte da Selic ser de 0,50 ponto percentual.

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Já para dezembro, de acordo com o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, a curva precificava durante a tarde quase 40% de chances de o corte ser de 0,25 ponto percentual, e não de 0,50 ponto percentual.

Entre as maiores quedas do Ibovespa, com isso, ficaram as companhias mais alavancadas e dependentes do mercado interno. As ações ordinárias do Grupo Casas Bahia (BHIA3) recuaram 7,94%, as do Magazine Luiza (MGLU3), 8,46%, e as da Petz (PETZ3), 6,52%.