Ibovespa cai 13,9% após mais um circuit breaker, com coronavírus, e dólar fecha acima de R$ 5,00 pela primeira vez

Mercado teve seu quinto circuit breaker em duas semanas diante dos esforços globais para combater a Covid-19

Ricardo Bomfim

(Getty Images)

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SÃO PAULO – O Ibovespa teve mais um pregão de pânico nesta segunda-feira (16), diante de mais uma decisão extraordinária do Federal Reserve e da queda de 9% nos preços do petróleo, motivada pelo movimento da Arábia Saudita de vender a commodity a US$ 25 o barril.

A B3 teve seu quinto circuit breaker em duas semanas. Lá fora, Wall Street também teve que paralisar as negociações depois de uma queda que superou os 7%. Os índices Dow Jones e S&P 500 recuaram 12,94% e 11,98% respectivamente. Já o Nasdaq caiu 12,32%, em seu pior pregão na história.

Na véspera, o Fed cortou os juros nos Estados Unidos em um ponto percentual para uma banda entre 0% e 0,25%. Foi a segunda reunião extraordinária desde o início da crise do novo coronavírus, e, novamente, a interpretação dominante dos mercados é de que o banco central americano exaure suas ferramentas de estímulo monetário sem ser capaz de reaquecer a economia, em meio à pandemia em curso.

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Além do corte, o Fed anunciou um programa de compras de US$ 500 bilhões em títulos aos moldes do quantitative easing usado na crise de 2008 mais US$ 200 bilhões em hipotecas.

Já teleconferência dos líderes do G-7, muito aguardada pelos investidores, foi encerrada com o compromisso de que uma resposta à pandemia é prioridade. “Ao agirmos em conjunto, trabalharemos para resolver os riscos econômicos e à saúde causados pela pandemia do Covid-19 e prepararemos o terreno para uma forte recuperação do crescimento econômico e da prosperidade forte e sustentável”, comunicou o G-7.

O Ibovespa caiu 13,92% a 71.168 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 52,8 bilhões.

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Enquanto isso, o dólar comercial subiu 4,86% a R$ 5,044 na compra e a R$ 5,0467 na venda. O dólar futuro para abril teve alta de 4,19%, para R$ 5,034.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 registrou baixa de 21 pontos-base a 4,85%, o DI para janeiro de 2023 ficou estável a 5,91% e o DI para janeiro de 2025 avançou 16 pontos-base a 7,11%.

No radar doméstico, os investidores aguardam pelo pacote de medidas do ministro da Economia, Paulo Guedes, para estimular a economia fragilizada pela Covid-19. Ele não descartou a liberação de novos saques do FGTS e defendeu que parte dos R$ 15 bilhões do orçamento que são alvo de disputa entre Palácio do Planalto e Congresso sejam usados para reforçar setores da economia e para custear medidas na área de saúde.

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O ministro da Economia afirmou ainda, desta vez em entrevista à Folha de S. Paulo, que ganhou uma missão do presidente Jair Bolsonaro: ir ao Congresso pacificar as relações entre o governo e os parlamentares. Guedes disse ainda que na semana passada obteve no Congresso projeções do Banco Central que mostravam que a velocidade de contágio no Brasil era mais rápida que e outros países, inclusive na China. “Foi alarmante”, afirma o ministro.

Os investidores também seguem atentos aos efeitos do coronavírus para a política monetária. Após a decisão do Fed, o UBS passa a projetar corte de 1 ponto percentual da Selic e diz que Copom pode agir ainda hoje. O UBS ainda avalia que BC pode adotar outras medidas, como redução do compulsório e amplo programa de atuação no câmbio.

Já a XP Investimentos mantém a visão que o BC anunciará um corte de 0,50 ponto percentual, reforçando junto com outras medidas de estímulo. “Possivelmente uma redução mais acentuada dos compulsórios (sobre depósitos a vista e a prazo) e medidas de liquidez para bancos pequenos e médios para estimular o mercado de crédito. Além disso, o BC deve aumentar o grau de intervenção no mercado de câmbio (swaps, linha e a vista) para permitir que a Selic possa cair ainda mais sem pressionar tanto o câmbio”, avalia (confira a análise completa clicando aqui).

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O Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou que vai facilitar a renegociação de operações de créditos de empresas e de famílias que possuem boa capacidade financeira e mantêm operações de crédito regulares e adimplentes em curso, permitindo ajustes de seus fluxos de caixa, o que contribuirá para a redução dos efeitos temporários decorrentes do COVID-19.

A segunda medida do CMN expande a capacidade de utilização de capital dos bancos a fim de que estes tenham melhores condições para realizar as eventuais renegociações no âmbito da primeira medida e de manter o fluxo de concessão de crédito.

Indicadores

A produção industrial da China recuou 13,5% no primeiro bimestre de 2020, ante igual período de 2019, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês). O resultado é pior do que os 3% de queda esperados por analistas ouvidos pelo Wall Street Journal. As vendas no varejo cederam 20,5%, quando era esperado uma baixa de 5%. Os investimentos em ativos fixos mergulharam 24,5%, ante projeção de queda de 1%. E o desemprego urbano subiu de 5,2% em dezembro para 5,7% no fim de fevereiro.

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Enquanto isso, no Japão, o presidente do Banco do Japão (BoJ), Haruhiko Kuroda, disse nesta segunda-feira que a economia japonesa se enfraqueceu recentemente devido aos efeitos do novo coronavírus e não descartou corte de juros.

Mais cedo, o BC japonês anunciou uma série de medidas para lidar com o impacto do coronavírus, antecipando sua reunião de política monetária, que estava originalmente marcada para os dias 18 e 19 de março. O BoJ, no entanto, deixou suas taxas de juros inalteradas: a de depósito permanece em -0,1% e a meta do rendimento do bônus do governo japonês (JGB) de 10 anos continua em 0%.

Petróleo

A Petrobras também registra forte queda acompanhando a cotação do petróleo, que cai mais de 8%. “A queda na demanda de forma tão rápida é algo que ninguém havia testemunhado”, disse Pearce Hammond, analista da Simmons Energy, em nota aos clientes no domingo.

Além do impacto do coronavírus na busca pela commodity, ainda pesa a decisão da Arábia Saudita de inundar o mundo com petróleo a US$ 25 em uma guerra de preços com a Rússia. Os sauditas lideram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

“Os preços do petróleo reagem de forma extremamente negativa e acreditamos … que ainda não vimos o fundo dos preços”, disse Bjoernar Tonhaugen, diretor de mercados de petróleo da Rystad Energy. “A potencial perda de demanda em março-abril pode diminuir fortemente, justamente quando os produtores da OPEP + abrem as comportas da nova oferta ao mercado”, acrescentou, destacando o aumento da capacidade de produção e queda de preços feito pela Arábia Saudita em retaliação à Rússia após ela não aceitar um acordo da Opep+.

Revisões

Os economistas do mercado financeiro revisaram a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 de 1,99% para 1,68%. Para 2021 a previsão foi mantida em avanço de 2,5%.

Já em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) houve uma revisão de alta a 3,2% para uma menor, de 3,1% em 2020. Para 2021, a revisão foi de 3,75% para 3,65%.

A expectativa para o câmbio ao fim de 2020 foi elevada de R$ 4,20 para R$ 4,35. Para 2021 foi mantida em R$ 4,20.

Por fim, para a taxa Selic, a projeção foi reduzida de 4,25% para 3,75% em 2020 e de 5,5% para 5,25% em 2021.

Noticiário corporativo 

A Petrobras divulgou um teaser para a venda total das suas participações nas usinas eólicas de Mangue Seco 3 e Mangue Seco 4, no Rio Grande do Norte. Em outro comunicado, a Petrobras informou que deu início à fase vinculante para a venda dos 10% restantes que possui na Transportadora Associada de Gás S.A (TAG). Já a Telebras publicou balanço no domingo e informou que em 2019 obteve um prejuízo líquido de R$ 430 milhões.

(Com Agência Estado e Bloomberg)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.