Ibovespa cai 0,20%, com ajustes e queda de Vale (VALE3) e siderúrgicas após notícias da China; dólar sobe 0,43%

Companhias ligadas ao mercado interno, contudo, avançaram por causa de reposicionamento de gestores e outros índices avançaram

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 0,20% nesta sexta-feira (20), aos 119.622 pontos, em um pregão marcado, principalmente, pelo recuo de companhias do setor de mineração e siderurgia. O movimento também foi reflexo de ajustes após o benchmark da Bolsa encostar nos 120 mil pontos na véspera, com agentes financeiros aguardando o desfecho da reunião de política monetária do Banco Central, com foco principalmente em sinais sobre os próximos movimentos da Selic.

O minério de ferro fechou em queda de 0,9% no porto chinês de Dalian, a 806,50 iuanes a tonelada – ou US$ 112,47. Operadores de mercado mostraram frustração com a divulgação da nova taxa de juros na China, uma vez que estavam esperando mais estímulos.

O Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) informou hoje que a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de 1 ano caiu apenas de 3,65% para 3,55%, ou seja, em dez pontos-base. A taxa para empréstimos de 5 anos – pela qual muitos credores baseiam suas taxas de hipotecas – também foi cortada em 10 pontos-base, de 4,30% para 4,20%.

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“A decisão veio com uma redução dentro do esperado pelo mercado, porém a expectativa é que haveriam mais incentivos. Isso influenciou nas mineradoras. Tivemos queda do minério de ferro. A Vale, que tem um peso muito representativo no índice, e também de outras empresas ligadas ao setor de mineração e siderurgia abriram em queda e assim continuaram”, diz Acilio Marinello, coordenador da Trevisan Escola de Negócios.

As ações ordinárias da Vale (VALE3) ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, com menos 2,58%, bem como as da CSN (CSNA3), com menos 2,24%. As preferenciais série A da Usiminas recuaram 1,47% e as preferenciais da da Gerdau (GGBR4), 1,41%.

“Houve reflexo óbvio deste movimento sobre as ações da Vale, mas também ajudou para o dólar recuperar parte das perdas recentes e voltar para perto do patamar de R$ 4,80, devido à nossa pauta exportadora”, fala Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos. A moeda americana subiu 0,43% frente ao real, negociada a R$ 4,796 na compra e na venda.

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“A história é de que as questões na China podem trazer aí uma certa desaceleração para as commodities, tirar um pouco o ímpeto dos investidores para comprar esses tipos de papel”, menciona João Piccioni, analista da Empiricus Research. “Por outro lado, a gente está vendo o cíclico doméstico, de certa forma, andar muito bem”.

Índices ligados ao mercado interno, ao contrário do Ibovespa, avançaram. O ICON, que conglomera as companhias do varejo, subiu 0,30%. O IMOB, do setor imobiliário, avançou 1,05%. O SMAL11, de Small Caps, teve alta de 0,68%.

“Está bem nítido, vamos dizer, esse ajuste dos investidores institucionais para as ações ligadas à economia brasileira. Todo mundo está deixando de lado um pouco esse mundo das commodities”, fala Piccioni.

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Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram papéis como os ordinários da Lojas Renner (LREN3), com mais 3,85%, as da Arezzo ([ativo=ARZ33]), com mais 2,70%, e as da Cogna (COGN3), com mais 2,69%. As ordinárias da Cielo (CIEL3) subiram 2,17%.

Isso se deu mesmo com a curva de juros brasileira fechando mista. Os DIs para 2024 e 2025 perderam, respectivamente, 3,5 pontos e 4,5 pontos, a 12,99% e 11,09%. As taxas dos contratos para 2027, porem, ganharam 2,5 pontos, a 10,54%, e as dos para 2029, quatro pontos, a 10,90%.

“Amanhã a gente já tem a divulgação da nova taxa de juros, depois da aguardada reunião do Copom [Comitê de Política Monetária], com destaque às sinalizações para as próximas reuniões. Em paralelo, vamos acompanhar também o trâmite do arcabouço fiscal agora no Senado”, contextualiza Marinello.

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Nos Estados Unidos, os índices também fecharam em queda. O Dow Jones perdeu 0,72%, o S&P 500, 0,47% e o Nasdaq, 0,16%. Por lá, especialistas também apontam a interferência da frustração com a economia chinesa.

“As empresas de tecnologia ainda ‘seguram’ bem o S&P 500, mas quando a gente olha de uma forma mais abrangente, são vários os setores ali que estão caindo bastante, em especial o setor de energia lá fora. Estamos vendo um movimento um pouco melhor dessa recente leve recuperação do crise do óleo. O que está bastante nítido hoje é o desempenho pior daquelas empresas que tem ligação maior com a China. Por exemplo,0 as ações da Nike, que caíram quase 4%. Acredito que seja a leitura de que realmente a China está, vamos dizer, com sua economia em processo de desaceleração”, falou o especialista da Empiricus.