Ibovespa até que “segurou bem”, após volatilidade de juros e câmbio, diz estrategista

Setor de commodities performou bem, ajudando a segurar o índice em meio ao cenário externo desfavorável

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Mercado já começou a precificar um cenário de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. A avaliação é de Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, que participou nesta manhã do Morning Call da XP.

Segundo ele, “o sentimento sobre o Brasil e os mercados emergentes está um pouco menos otimista em relação a janeiro”. Ele lembra que no início do ano havia um cenário melhor de desinflação e expectativa de queda de juros nos EUA.

Mas Fernando Ferreira afirmou que mesmo com toda a incerteza, “chama atenção o fato da bolsa brasileira ter caído, mas ter se segurado bem dado o tamanho do movimento que se viu na curva de juros e do câmbio”.

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Ibovespa e Commodities

O estrategista destaca que ocorreu uma rotação muito forte do setor de commodities, “que tão performando bem e ajudando a segurar o Ibovespa”.

Ele explica que quando se olha o índice de small caps, a queda foi muito maior. Cerca de 30% do Ibovespa é composto de companhias ligadas às commodities.

Ferreira aponta três riscos atuais no mercado. A de que a inflação no mundo e principalmente nos Estados Unidos dão sinais de repique.

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O segundo risco é o quadro geopolítico global, principalmente com os ataques entre Israel e Irã. “No Brasil, a questão fiscal preocupa por conta da revisão do governo das metas”, afirma.

Sensação é de que os esforços do Fed não funcionaram

Caio Megale, economista-chefe de XP, que também participou do Morning Call nesta segunda (22), explicou que quando se olha os dados dos EUA nos últimos meses, a inflação tem sido mais forte, e o PIB e a atividade econômica também.

“Há uma sensação de que os esforços que o Fed fez ainda não foram suficientes para trazer a inflação para baixo”, disse economista. “O que é pior, há quem diga que a inflação não está caindo mais e está voltando a acelerar (nos EUA)”, afirmou o economista.

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Menos corte dos juros

“Tínhamos uma expectativa de três a quatro cortes de juros (nos EUA), mas a projeção foi revisada para um ou dois cortes”, complementou.

Para ele, a política fiscal pode ser a maior razão do aumento da inflação nos EUA. “Desde a pandemia, a gente teve a normalização do comércio internacional e a normalização das políticas monetárias”, comentou no Morning Call da XP.

Política fiscal pode ser o vilão

“Mas não tivemos a normalização das políticas fiscais – isso é verdade para os Estados Unidos, o Brasil e outros países”, disse. Segundo ele, o ano eleitoral nos EUA aponta que a política fiscal pode continuar do jeito que está.

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“Tem um mistério no mercado de trabalho, que está aquecido no mundo inteiro, mesmo em países em que o PIB desacelerou. Precisamos ainda entender isso”, acrescentou.

Novas projeções: dólar e Selic

Diante do cenário atual, a expectativa para o dólar esse ano da XP passou de R$ 4,70 para R$ 5 até o final de 2024.

“Combinado com esse ambiente externo desfavorável também revisamos nossa expectativa de juros (no Brasil). Esperávamos um corte de 0,50 pp na próxima reunião e depois corte de 0,25 pp até a Selic chegar em 9%. Mudamos agora para um corte de 0,25 pp na próxima reunião e depois mais duas vezes de 0,25 pp, chegando ao final do ano a 10% (a taxa Selic)”, disse.

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Inflação pressionada

Sobre a inflação, Megali acha que os próximos dados provavelmente ainda continuarão positivos porque teve-se queda de preços dos alimentos no início do ano e isso deve refletir no IPCA em abril e maio.

“Mas com a desvalorização da taxa de câmbio e a economia ainda muito forte, provavelmente no segundo semestre a gente volte a ver a inflação pressionada, que tende a se expandir para o ano que vem”, esclareceu.

“Como o Banco Central deve reagir a isso e cortar menos os juros, contrabalanceia essa pressão da inflação para esse ano, fazendo que a nossa projeção para o ano que vem fique estável em 4%”, acrescentou.