Ibovespa sobe 0,72% na sessão e fecha mês em alta, mas cai 1,29% no 3º trimestre; juro nos EUA é destaque

Em um trimestre marcado pela alta de juros nos EUA, dado de inflação por lá no seu último dia dá um respiro para os ativos de risco

Vitor Azevedo

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O último pregão de setembro foi de alta para o Ibovespa, com o índice fechando o mês no positivo graças ao desempenho desta sexta-feira (29). Na véspera, o Ibovespa estava no zero no desempenho mensal acumulado.

O benchmark da Bolsa brasileira subiu 0,72% hoje, aos 116.565 pontos, chegando a subir 1,01%, a 116.899 pontos, na máxima do dia. O índice avançou mais forte pela manhã acompanhando principalmente Nova York, que tinha um dia de alívio após a publicação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), importante indicador de inflação norte-americano.

O PCE é a medida de inflação mais acompanhada pelo banco central norte-americano. Ele registrou uma alta de 0,4% em agosto em relação a julho de 2023. No acumulado dos 12 meses, o índice acumula alta de 3,5%, um crescimento leve em relação ao mês anterior. Já o núcleo do PCE teve um aumento marginal de 0,1% e, no acumulado dos 12 meses, se encontra em 3,9% ante a 4,3% no mês anterior.

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“Essa queda relevante é positiva para o cenário do Federal Reserve, dado que a medida de núcleo é uma das mais importantes”, fala Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “Ambos os dados vieram dentro das expectativas. Caso o núcleo mantenha essa trajetória baixista até a próxima reunião do FOMC, a tendência é de não termos mais elevações na taxa de juros”.

No entanto, a notícia de que uma ala do partido republicano derrotou um projeto de lei na Câmara que evitava a paralisação do governo pesou sobre os índices americanos.

Dow Jones e S&P 500 caíram 0,47% e 0,27%, enquanto o Nasdaq subiu 0,14%. Em setembro, na mesma ordem, todos caíram: 3,49%, 4,88% e 5,81%, respectivamente. Já no terceiro trimestre, as baixas foram de 2,62%, 3,65% e 4,12%.

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Os treasuries yields chegaram a cair forte, com a perspectiva de fim de ciclo de alta ganhando força por conta da inflação mais fraca. No entanto, a possibilidade de um shutdown do governo americano, com republicanos e democratas sem chegar a um acordo sobre o orçamento do país, pesou. No fim do dia, os rendimentos dos títulos para dez anos, que chegaram a perder quase 10 pontos-base mais cedo, fecharam a 4,75%, com queda de apenas cerca de dois pontos.

“Nos Estados Unidos ainda corre o risco de shutdown. Não foi resolvido. E isso pode provocar, na semana que vem, alguma volatilidade nos mercados, especialmente porque, se ele ocorrer, alguns indicadores econômicos deixarão de ser divulgados”, diz João Piccioni, analista da Empiricus Research.

O temor mais profundo, nesta frente, é ainda que a paralisação do governo impacte a economia, com milhões de servidores públicos deixando de receber seus salários.

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O recuos da curva de juros americana de hoje não foi suficiente para minimizar as altas do trimestre. No começo de julho, para fins de comparação, o treasury para dois anos pagava cerca de 4,94% e o para dez, 3,85%.

Trimestre foi marcado por alta dos juros americanos

Dados macroeconômicos mais fortes nos Estados Unidos, falas de membros do Federal Reserve, alta do petróleo (após cortes da Opep) e, posteriormente, a possibilidade de problemas fiscais na maior economia do mundo, contudo, ainda marcam o intervalo como um período de alta das taxas e de queda dos ativos de risco.

“A gente teve esse fenômeno de altas de juros, os títulos globais, principalmente dos títulos dos Estados Unidos. Isso é resultado de uma economia americana ainda resiliente, do tom mais duro do Federal Reserve, principalmente nesse último comunicado, tanto que o nosso time de economia atualizou as projeções, achando que a gente pode ver mais uma alta na taxa por lá”, fala Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos.

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“Segundo tema importante neste ponto foi o petróleo. Recentemente, a gente viu altas significativas no preço dessa commodity, isso por conta de um desequilíbrio entre oferta e demanda. Por um lado, a economia global ainda resiliente, consumindo mais. China, apesar das baixas expectativas, está reabrindo de qualquer forma. Economia americana está forte. Isso acelera o consumo. Do outro lado, vimos mais cortes dos países membros da OPEP”, fala.

O Ibovespa, com os juros mais altos, acabou fechando o terceiro trimestre com uma queda de 1,29%, apesar de ter subido 0,71% em setembro graças ao desempenho desta sessão.

“No trimestre que fechamos agora tivemos os resultados do segundo trimestre, com alguns sinais mistos. Mas, de forma geral, o que comandou muito o desempenho na segunda metade foi a questão macro. Tivemos até um otimismo do lado do Brasil, com o fiscal sendo endereçada de maneira melhor, mas no final, no apagar das luzes, a discussão sobre os juros americanos dominou as Bolsas”, diz Tiago Cunha, gestor de porftólio da Ace Capital.

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Apesar de o ciclo de queda dos juros já ter começado por aqui, o fluxo de saída dos estrangeiros, causado justamente pela alta dos treasuries yields, derrubou a maioria dos ativos de risco.

Companhias do setor petroleiro ainda tentaram puxar o benchmark brasileiro para cima, na esteira da alta do petróleo. As ações ordinárias e preferencias da Petrobras (PETR3;PETR4), por exemplo, subiram 21,5% e 22,75% nos últimos três meses

“Quando a gente olha o Ibovespa no acumulado do mês, está praticamente no zero a zero, enquanto o S&P acumula queda de quase 5%. Temos a falsa impressão de que foi um mês tranquilo, praticamente sem notícias, mas quando olha a composição do índice, vê claramente que nomes mais ligados a commodities, como Petro e Vale (VALE3) acabaram tendo uma performance bem positiva”, aponta Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset. “Olhando o resto, papéis mais ligados a economia interna, a história é bem diferente”.

A perspectiva de que o Federal Reserve pode voltar a subir sua taxa básica de juros, hoje no intervalo de 5,25% a 5,50%, e mantê-la em níveis mais altos por mais tempo pressiona a curva de juros brasileira e levanta dúvidas sobre até quando o Banco Central poderá cortar a Selic.

O dólar, com a leve queda do rendimento dos treasuries de hoje, perdeu um pouco de força mundialmente. O DXY, índice que mede a força da divisa americana frente outras de países desenvolvidos, caiu 0,02%, aos 105,88 pontos.

Frente ao real a queda foi de 0,26%, a R$ 5,026 na compra e a R$ 5,027 na venda. No trimestre, no entanto, a moeda americana ganhou 5,01% contra a tupiniquim.

A curva de juros brasileira recuou hoje junto das do exterior. Os DIs para 2025 perderam cinco pontos, a 10,84%, e os para 2027, 6,5 pontos, a 10,82% As taxas dos contratos para 2029 foram a 11,31%, com menos seis pontos, e as dos para 2031, a 11,58%, também com menos seis pontos.

Companhias ligadas ao mercado interno e de crescimento foram as principais altas do Ibovespa nesta sexta, com o recuo da curva. As ações ordinárias do Grupo Casas Bahia (BHIA3) ganharam 6,78%, as da MRV (MRVE3), 3,79% e as da Hapvida (HAPV3), 5,15%. No entanto, por conta de todo o cenário de julho a setembro, essas mesmas companhias majoritariamente caíram no trimestre.