Ibovespa fecha em queda de 2,4% e dólar sobe a R$ 5,71 após ata do Fomc: o que desagradou tanto os investidores?

Alta dos treasuries americanos pesa diretamente nos índices de países emergentes

Vitor Azevedo

(Shutterstock)

O Ibovespa fechou o pregão desta quarta-feira (5) em queda de 2,42%, a 101.005 pontos, tendo acelerado as perdas após o Federal Reserve publicar a ata da última reunião de comitê de política monetária, o Fomc.

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A queda do principal índice da bolsa brasileira se dá de modo paralelo à alta do rendimento dos treasuries americanos – o com vencimento em dez anos, por exemplo, fechou em alta de 3,2 pontos-base, a 1,698%, com a publicação do documento.

Apenas 4 ações do Ibovespa fecharam com ganhos: BRF (BRFS3, R$ 22,70, +1,25%), cuja recomendação foi elevada pelo Credit Suisse, além de Vale (VALE3, R$ 77,81, +0,95%]), Banco Pan (BPAN4, R$ 9,46, +0,32%) e Bradespar (BRAP4, R$ 24,94, +0,24%). Já Locaweb (LWSA3, R$ 10,37 -12,78) e PetroRio (PRIO3, R$ 18,49, -10,76%) fecharam em baixa de mais de 10%.

O dólar comercial, que caiu durante boa parte do dia, acabou avançando 0,39%, a R$ 5,711 na compra e a R$ 5,712 na venda.

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O destaque na publicação ficou para o fato de os dirigentes do Federal Reserve terem assumido que a inflação está acima do esperado, tendo deixado de ser transitória, e que as condições para a alta do juros podem ser alcançadas em breve.

Além disso, o Fed também indicou que não ficará somente na alta dos juros e no tapering (ou a redução do ritmo de compra de ativos), como também deve passar a buscar a redução do tamanho do seu balanço patrimonial.

“Por mais que o Fed tenha trazido notícias boas, falando por exemplo que o mercado de trabalho trouxe dados muito positivos e que a variante Ômicron não muda praticamente nada as projeções para a economia, a preocupação com a inflação dominou a atenção do mercado”, explica Henrique Esteter, especialista de mercados do InfoMoney. “A sinalização de que a elevação da taxa de juros pode acontecer antes do esperado balançou as bolsas”.

Para Rodrigo Franchini, head de relações institucionais da Monte Bravo, a ata foi dura. “Ela afirma que a inflação será controlada de qualquer jeito, que a alta de juros irá acontecer com certeza e que tappering não será alterado, terminando em março e ponto-final”, comenta.

O Dow Jones fechou em queda de 1,07%, o S&P 500 recuou 1,94% e a Nasdaq, 3,34%.

Próxima reunião, em março, pode já contar com alta de juros

As falas do diretores do Fed deixam os investidores ainda mais atentos para a próxima reunião, que acontece em março. A negociação dos juros futuros nos Estados Unidos, logo após a publicação, mostrava que há cerca de 70% de uma alta vir já no terceiro mês deste ano.

“Na hora que um Banco Central de um país emergente, como o Brasil, fala em inflação permanente, isso muitas vezes não é nada demais, por muitas vezes decorrer da desvalorização da moeda e de maiores gastos com importação. Quando um mercado de primeira linha, porém, fala algo do tipo, é que o bicho realmente está pegando”, contextualiza Franchini.

Ainda segundo o sócio da Monte Bravo, a retirada dos estímulos por parte Fed tem um peso de destaque nas economias emergentes, por diminuir o fluxo de capital para essas.  “A tendência de investimentos em países emergentes cai e essas nações precisam se esforçar ainda mais para se tornarem mais atrativos aos investidores”, explica.

Como o Brasil enfrenta uma série de problemas fiscais, a forma como o mercado precifica o país ficando mais atrativo é através da alta dos juros também por aqui. A curva de juros subiu, com isso, em bloco. O contrato DI com vencimento em janeiro de 2023 teve alta de 0,8 ponto-base, para 12,11%. O para janeiro de 2025 avançou 28 pontos-base, para 11,43%. O para o mesmo mês de 2027, subiu 23 pontos, para 11,32%.

“Se a bolsa brasileira, enquanto lá fora houve uma sequência de rompimento de máximas históricas, conseguiu fechar 2021 com uma queda bem grande, agora você imagina com o mercado internacional perdendo força com a redução de liquidez”, finalizou Esteter.

Mercado passa também a aguardar redução de balanço do Fed

Além do fim do tappering e do início do ciclo de alta dos juros, investidores, como já mencionado, agora, passam também a aguardar que o banco central americano inicie a redução do seu balanço.

“Durante a pandemia, o balanço do Fed foi de US$ 4 trilhões para US$ 8 trilhões em menos de um ano, em poucos meses. Desde a crise de 2008, o balanço havia saído US$ 500 bilhões para US$ 4 trilhões. Uma quantia alcançada em mais de dez ano mais do que dobrou durante cerca de seis meses de pandemia”, comenta Dan Kawa, CIO e sócio da TAG Investimentos. “O Fed, agora, vê uma necessidade de normalização monetária”.

De acordo com Kawa, o fim do processo de compra de títulos, que deve acabar já em março, é o primeiro passo para a normalização. Depois disso, o Fed deve começar a pensar quando dará inicio às altas dos juros e, posteriormente, como fará a recomposição do balanço – que seria a venda dos ativos que a instituição adquiriu durante o período mais crítico da crise.

“Terá de decidir se deixará os papéis que estão dentro desses US$ 8 trilhões vencerem ou se pegará parte desses ativos e venderá a mercado para retirar parte da liquidez que injetou”

“Honestamente, eu só viria um cenário de sinalização mais dura se a ata contasse já com uma confirmação de alta na próxima reunião do Fomc”, completou Kawa.

João Leal, economista da Rio Bravo, destaca que houve uma discussão mais intensa sobre a possibilidade de antecipar a alta dos juros, trazendo uma indicação ou dando força à tese de que o juro americano já comece a subir ainda em março deste ano e não em junho, como o mercado vinha precificando anteriormente.

Houve outros pontos relevantes, como endereçamento de algumas particularidades da inflação, de onde o Fed está observando as pressões inflacionárias e as principais preocupações do Fed com relação à inflação.

“A principal preocupação do Fed foi em relação ao supply chain (cadeia de suprimentos), que na visão dele ainda vai demorar um tempo para se normalizar, dando uma perspectiva de uma inflação um pouco mais persistente do que se tinha anteriormente”.

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