Halving do Bitcoin: como fica a cotação depois que a recompensa dos mineradores cair pela metade?

Analistas destacam um grande aumento de volatilidade no curto prazo, mas que tendência é de alta entre 6 e 12 meses após o halving

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Nos próximos dias ocorre um dos grandes eventos para o Bitcoin, com o chamado halving (clique aqui para saber mais) reduzindo pela metade a oferta de novas moedas digitais no mercado. Mas apesar de ser algo já previsto, o seu real impacto, principalmente no preço da criptomoeda, está longe de ser um consenso entre os especialistas.

A teoria econômica explica que, se há uma redução na oferta de um ativo e a demanda se mantém, acaba ocorrendo uma pressão de alta sobre o preço dele. Diante disso, a maioria dos analistas acredita que o Bitcoin irá se valorizar, mas as opiniões divergem sobre a magnitude e velocidade destes ganhos.

O que se vê muito no mercado são análises comparando o histórico, já que esta é a terceira vez que o Bitcoin passa por um halving. Nas duas primeiras, houve uma explosão no preço da criptomoeda cerca de 12 meses após o evento, sendo que na segunda vez, em 2016, um ano depois ela bateu sua máxima histórica até hoje, em US$ 20 mil.

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O InfoMoney conversou com diversos especialistas para entender os reais impactos do halving no Bitcoin e por que muitos deles acreditam que este é um bom momento para se investir na criptomoeda.

Como explica Daniel Coquieri, COO da BitcoinTrade, haverá um grande choque na oferta, que hoje é de 1800 novos bitcoins criados por dia, para apenas 900 novas moedas, enquanto do outro lado a demanda segue em crescimento.

“Este efeito fatalmente fará uma pressão no preço do ativo para vermos novos topos e provavelmente ultrapassar o preço mais alto de dezembro de 2017”, afirma ele ressaltando, porém, que “a alta no preço não irá ocorrer em um prazo curto, será um processo gradual com o passar dos próximos meses”.

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Nova máxima para o Bitcoin?

Já Thiago Cesar, CEO da Transfero Swiss AG, explica que a projeção de alta vai além da questão de oferta e demanda, já que envolve também os mineradores, que usam sua força computacional para gerar os novos bitcoins. Como o custo deles é em moeda fiduciária, com a queda da recompensa, eles passam a ter um problema para sustentar os negócios, o que força uma correção do valor do Bitcoin.

“Mineradores e empresas que trabalham com Bitcoin acabam tendo que reajustar sua estrutura de custo, e o preço acaba acompanhando porque a demanda vai continuar a mesma, e até aumentar”, explica ele.

Cesar se mostra bastante otimista e ressalta que é normal que ocorra uma grande volatilidade no mercado antes e depois do halving, mas que, no geral, este evento coloca o Bitcoin em um novo patamar de preço. O CEO da Transfero acredita que até o fim do ano, a criptomoeda esteja negociando entre US$ 16 mil e US$ 20 mil.

E se os especialistas acreditam em novas máximas dentro de 12 meses, para o investidor brasileiro este período pode não só ser mais curto como também ser melhor. Isso porque para quem investe nas exchanges (corretoras de Bitcoin) brasileiras, o preço do ativo está em real, o que atrela isso não só ao próprio preço da moeda digital no exterior, mas também ao movimento do dólar ante o real.

Para João Canhada, CEO da Foxbit, devemos ter este efeito no Brasil conforme o dólar opera em níveis recordes. “Estávamos otimistas com o preço em dólar [do Bitcoin], esperando um novo recorde de valor em 2021, mas dado os patamares atuais da moeda americana no Brasil, é provável que o bitcoin supere o preço histórico de 2017 muito mais rápido em nosso país do que no restante do mundo”, afirma.

Outro fator que pode ajudar o Bitcoin é a crise global do novo coronavírus, que mesmo tendo derrubado a criptomoeda em março, já parece ter ficado para trás. Desde a mínima atingida em 12 de março, o Bitcoin subiu 140%, enquanto no ano os ganhos são de cerca de 40%.

Ricardo Da Ros, country manager da Ripio, afirma que este comportamento mais positivo da moeda digital na crise reforça a imagem de que ela pode ser um investimento para hedge (proteção) nestes momentos de pânico dos mercados tradicionais, já que ela não tem grande correlação com a macroeconomia.

“O aumento da presença do Bitcoin no portfólio dos investidores como forma de hedge pode acabar por neutralizar o efeito da diminuição do quanto tem sobrado para as pessoas investirem todo mês. Acredito que a crise será positiva para o Bitcoin em termos de crescimento e reconhecimento pelo mercado tradicional”, diz o especialista.

Cautela nas projeções e foco nos efeitos práticos

Não é difícil encontrar pessoas projetando fortes altas do Bitcoin nos próximos meses. Há quem já fale no nível de mais de US$ 100 mil (caso do Plan B, um perfil no Twitter que faz análises e é acompanhado por quase 100 mil pessoas).

O modelo utilizado por ele também foi citado por Safiri Felix, diretor da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) em artigo recente e se chama Stock-to-Flow (S2F), que mede a relação de preço de diversas commodities relacionando a capacidade de produção com a demanda do fluxo comprador.

Quando adaptado ao bitcoin, o modelo – que projetou corretamente as altas pós-halving nas duas vezes que isso aconteceu – atesta a perspectiva do principal ativo digital alcançar US$ 100 mil em 2021, refletindo este corte da emissão agora de maio.

Mas a visão da maior parte dos analistas consultados pelo InfoMoney é mais cautelosa. Eles evitam falar em um preço específico para o Bitcoin após o halving, indicando apenas que a tendência é que ocorra uma alta, principalmente no médio prazo. Mas mais do que isso, olham para os efeitos deste evento no sistema.

Samir Kergage, head de tecnologia da Hashdex, destaca que estas visões diferentes sobre o efeito do halving no preço do Bitcoin e do seu impacto para os mineradores devem gerar uma grande volatilidade no curto prazo.

“Esta grande repercussão cumpre um papel relevante de educar as pessoas sobre o que faz do Bitcoin um ativo previsivelmente escasso, atributo essencial de uma boa reserva de valor, e tende a promover a adoção dele, especialmente no momento atual, em que os bancos centrais das maiores economias do mundo estão imprimindo dinheiro em quantidades recordes”, afirma.

Na mesma linha, Alexandre Vasarhelyi, sócio da BLP, diz que outra característica do halving é trazer “propaganda” para o Bitcoin, já que muita gente começa a conhecer a criptomoeda conforme aumentam as discussões sobre o evento, e que isso, por consequência tende a trazer uma maior demanda para o mercado.

“Nossa expectativa é que tenha um impacto grande no preço em 6 meses”, diz ele sem dar um valor para a moeda digital. Vasarhelyi diz que até é possível que o mercado se antecipe, precificando antes o corte da oferta, mas que, do outro lado, não tem como antecipar o provável aumento da demanda.

“É difícil saber o quanto vai gerar de interesse [nas pessoas], e a gente usa muito a métrica de olhar no Google. Isso no passado realmente trouxe preço. Isso que é difícil colocar na conta”, afirma. Segundo a ferramenta Google Trends, nunca na história se procurou tanto sobre o termo “bitcoin halving” como nestas últimas semanas.

Safiri mesmo, apesar de comentar sobre o S2F, não dá uma projeção própria de preço, mas afirma que “o potencial de valorização do Bitcoin segue inabalado”. Para ele, a essência da criptomoeda, criada como resposta à intervenção dos bancos centrais na economia, se mostra ainda mais forte diante da atuação recente deles em injetar liquidez diante da atual crise.

O impacto para os mineradores

A análise do impacto do halving no preço do Bitcoin também passa por como ele vai afetar os mineradores, já que a essência do evento esta no processo de mineração.

Como explicado anteriormente, a redução pela metade da recompensa destes mineradores cria um problema de custo para eles, já que a os gastos computacionais seguem os mesmos. Por conta disso, Bernardo Schucman, CEO da FastBlock, afirma que os pequenos mineradores devem sentir mais, vendo sua lucratividade cair.

Por outro lado, ele diz que os “mineradores industriais”, que possuem uma estrutura para realizar este processo, devem conseguir manter os resultados positivos já que, por ser um processo essencial na produção de novos bitcoins, o que pode acontecer é uma redução na força total do chamado hashrate (medida de força dos computadores no processo de conclusão de blocos da rede).

“Mineradores industriais devem manter seu custo com eletricidade abaixo de US$ 0,05 por kw/h e eficiência do processo em torno de 50W/Tetra hash processado”, afirma Schucman,

Durante conversa em episódio recente do podcast Bloco Cripto, os especialistas Safiri Felix (diretor da ABCripto), Daniel Duarte e Ray Nasser (sócio fundador da OR Blockchain Investments) debateram este impacto no negócio de mineração e reflexo no preço do Bitcoin.

Para eles, há uma lógica de que se o preço do Bitcoin não subir após o halving, a situação dos mineradores ficará complicada e muitos correrão o risco de quebrar. Isso por si também ajuda a forçar um ajuste para cima na cotação da criptomoeda.

Dentro do mercado de Bitcoin, uma das grandes forças vendedoras vem exatamente dos mineradores, já que eles ganham as novas criptomoedas criadas, mas precisam vendê-las para conseguir seu lucro com a operação.

Não há como garantir que todas os bitcoins criados por dia são vendidos (há quem prefira segurar para vender mais para frente), então o máximo de excesso de venda que os mineradores colocam no mercado diariamente hoje é de 1800 bitcoins. Porém, após o halving, isso cairá para 900 bitcoin por dia. Por conta disso, Nasser enxerga uma menor pressão vendedora, o que deve favorecer o preço.

É hora de comprar Bitcoin?

Diante deste cenário e analisando os impactos, especialistas apontam que este é um bom momento para quem quer investir na criptomoeda, já que por mais que não haja um consenso sobre o quanto o Bitcoin irá subir, todos eles acreditam que a tendência é de alta.

E existe sempre a ressalva de que o investidor não deve exagerar. Mesmo com este otimismo, eles lembram que este é um ativo de maior risco, e que é muito bom para diversificação de carteira. Alguns especialistas sugerem que a exposição em carteira não deve superar 5% do total investido.

Por fim, é importante ter em mente que o dia do halving não deve exatamente marcar esta mudança de patamar de preço do Bitcoin, e que isso irá acontecer ao longo dos próximos meses. Para o investidor que decidir entrar no mercado agora, a volatilidade é quase garantida, mas a recomendação dos analistas é olhar para o longo prazo.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.