Goldman Sachs rebaixa Americanas (AMER3) para venda, Magalu (MGLU3) para neutra e aponta nova concorrente no setor

Em relatório de revisão de projeções e em que colocou Mercado Livre como preferida, analistas também destacaram rápida expansão da Oxxo

Lara Rizério

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Mais um grande banco revisou suas estimativas para o e-commerce brasileiro após os resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22) e a Black Friday.

O Goldman Sachs destacou alguns pontos a serem debatidos para o mercado varejista brasileiro em 2023  e cortou as suas estimativas para o comércio eletrônico, cortando a recomendação para o Magazine Luiza (MGLU3) de compra para neutro, enquanto cortou Americanas (AMER3) de neutro para venda e manteve a recomendação de Via (VIIA3) em venda.

Os analistas cortaram a recomendação para Magalu apontando que estão à margem dos ativos até que a empresa encontre um novo equilíbrio entre crescimento e rentabilidade. O preço-alvo para os ativos é de R$ 3,80, ou um potencial de valorização de 11% em relação ao fechamento de quinta-feira.

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Eles lembram que, desde que adicionaram as ações MGLU3 à lista de ativos para comprar das Américas em 19 de novembro de 2019, MGLU3 já caiu 70%, ante alta de 2% do Ibovespa, estimando que a empresa se descolasse de seus pares menores e menos capitalizados para compensar um macro mais fraco, apresentando ganhos de participação no que continua sendo um mercado de varejo de bens duráveis relativamente fragmentado no Brasil.

Contudo, com uma rápida mudança no mercado de juros e financiamento, a administração do Magalu mudou seu foco do crescimento para a lucratividade e os analistas avaliam que não olharam o quanto isso pesaria na capacidade da empresa de crescer, ganhar ou mesmo defender sua participação de mercado. “Estimamos que o Magalu perdeu cerca de 75 pontos-base do mercado de comércio eletrônico do Brasil em 2022 (ou cerca de 230 pontos-base excluindo o efeito positivo da consolidação da KabuM!)”, apontam os analistas.

Eles avaliam que se tornariam mais positivos com a empresa em um cenário de melhoras nas perspectivas econômicas nacionais e de quedas nas taxas de juros.

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Já para a Americanas, a recomendação foi reduzida para a venda, uma vez que os analistas esperam que a visibilidade sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e o crescimento de lucros permaneça limitado nos próximos doze meses. O preço-alvo para AMER3 é de R$ 10, ou 5% menor frente ao último fechamento.

“Estamos abaixo do consenso da Bloomberg em nossas projeções sobre os lucros esperados para 2023 e 2024 e acreditamos que um novo rebaixamento nas estimativas futuras pode pesar no preço das ações. A Americanas está sobrecarregada por uma alavancagem financeira relativamente elevada, com dívida líquida sobre o Ebitda de 3,9 vezes (na definição clássica, excluindo arrendamentos, a partir do 3T22) e despesas financeiras líquidas representando 61% do Ebitda nos últimos 10 meses”, avaliam os analistas.

Além disso, a intensa concorrência no espaço online e a necessidade de reinvestir em sua rede de lojas offline (físicas) limitam o espaço para expansão de margem e melhor geração de caixa. “E, embora reconheçamos que a integração operacional total de seus negócios offline e online faça sentido, acreditamos que a integração dos principais sistemas de tecnologia da informação pode criar riscos para 2023”, apontam.

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Os analistas apontam que as ações da Americanas caíram mais de 60% no ano, com crescimento e geração de caixa decepcionantes levando a maior parte do baixo desempenho. A empresa reportou um crescimento abaixo do esperado de 3% em seu volume de mercadoria bruta (GMV, na sigla em inglês) online e uma queima de caixa operacional de R$ 300 milhões nos últimos doze meses. Eles projetam ainda que a Americanas perdeu cerca de 180 pontos-base do mercado de comércio eletrônico do Brasil em 202E. Para 2023, projetam que a Americanas aumente seu GMV online em 11%, abaixo do crescimento de mercado projetado de 15%.

O novo CEO da AMER, Sergio Rial, assume a liderança da empresa a partir de janeiro de 2023, com os analistas reconhecendo que os anúncios sobre a reestruturação corporativa podem incutir um novo senso de otimismo nos investidores, e isso pode representar um risco positivo. “No entanto, também acreditamos que os resultados podem levar tempo, pois a nova liderança precisará atuar em várias frentes diferentes, desde a diferenciação de sua oferta no espaço online, atualizando a experiência in-store de suas lojas off-line e integrando as aquisições recentes”, avaliam.

Já para a Via, também com recomendação de venda, o preço-alvo é de R$ 2,10, ou 4% menor frente o fechamento de ontem.

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O Goldman Sachs aponta ter uma preferência relativa para Magalu frente Americanas, pois vê espaço para o MGLU compensar os ventos contrários/necessidades de investimento de sua operação online com um desempenho melhorar em suas lojas físicas.

Para a Americanas, reconhece que sua principal operação de lojas tende a ser altamente geradora de caixa. “No entanto, acreditamos que a operação precisará passar por um ciclo de capex [investimentos em capital] mais pesado para reformas para manter sua competitividade após anos de subinvestimento.

“Durante muitos anos, a concorrência foi relativamente limitada, permitindo à empresa defender a sua fatia de mercado, mantendo a manutenção/remodelação ao mínimo. No entanto, com a Oxxo (da Femsa) ganhando escala rapidamente (cerca de 200 lojas em São Paulo), uma nova concorrência está surgindo. Além disso, parte do mix de lojas pode ter migrado para o online mais rápido do que o inicialmente previsto, especialmente em eletrônicos (cerca de 25% do mix), mas também em certa medida em roupas básicas e brinquedos”, apontam os analistas.

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Entre as empresas de capital aberto, os analistas esperam que o Mercado Livre (MELI34) continue se distanciando de seus concorrentes tradicionais de comércio eletrônico em 2023, reiterando a ação da empresa negociada na Nasdaq como a única com recomendação de compra no segmento, com preço-alvo de US$ 1.450, ou upside de 56% frente o fechamento da véspera.

“Também esperamos investimentos consistentes da Amazon na construção de sua presença no país para manter a concorrência dinâmica. Portanto, apesar do baixo desempenho acentuado no acumulado do ano, ainda vemos ventos contrários estruturais para MGLU, AMER e VIIA e, portanto, rebaixamos MGLU para neutra e AMER para venda, enquanto mantemos VIIA como venda”, resume a equipe de análise.

Cabe destacar que, também nesta semana, o Morgan Stanley cortou suas projeções para Magalu, Americanas e Via, destacando Mercado Livre como top pick do setor.

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Entre as varejistas brasileiras, os analistas do Goldman recomendam nomes mais defensivos como as de alimentos Assaí (ASAI30 e Carrefour (CRFB3), além de Lojas Renner (LREN3), RD (ex-Raia Drogasil RADL3), Arezzo (ARZZ3), a dona da Centauro SBF (SBFG3) e a Petz (PETZ3), todas com recomendação de compra.

“Como em anos anteriores, esperamos que as perspectivas macroeconômicas do consumidor continuem sendo um ponto-chave de debate, especialmente com forças contraditórias em ação. No caso, inflação (alta, mas caindo), taxas de juros altas (mas provavelmente no pico), mercado de trabalho (amplamente positivo) e mercado de crédito ( alavancagem e carga do serviço da dívida em máximas históricos).

“O consumidor brasileiro entra em 2023 com pressões inflacionárias diminuindo gradualmente, suporte fiscal contínuo e crescimento sólido dos salários reais totais. No entanto, a alavancagem das famílias permanece próxima do ponto mais alto desde 2005, quando o Banco Central começou a reportar essa métrica, e as taxas de empréstimo ainda em alta provavelmente continuarão a pesar sobre a renda disponível mensal até a primeira metade de 2023”, avaliam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.