Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4): ao menos por enquanto, ômicron e 5G devem trazer poucos problemas

Analistas esperam que recuperação do setor continue, a despeito da ômicron, e ainda não veem questão do 5G no Brasil como ameaça

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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Com a temporada de balanços chegando, o mercado começa a traçar suas expectativas para o que esperar das companhias. O setor aéreo, na bolsa brasileira representado pela Azul (AZUL4) e pela Gol (GOLL4), continua em destaque, por ter sido um dos que mais sofreu durante a pandemia – se não o que mais foi afetado.

O surgimento da Ômicron e o problema do 5G nos Estados Unidos voltaram a colocar uma nuvem sobre os resultados das companhias que trabalham com aviação civil comercial, com o mercado temendo impactos em empresas que já estão “cambaleando”. No Brasil, porém, as expectativas são que a Gol e a Azul não tragam grandes marcas desses dois eventos em seus documentos trimestrais, sejam eles do quarto trimestre de 2021 ou do primeiro de 2022.

“As companhias não têm notado impactos da ômicron como aconteceu nas ondas anteriores. Não há cancelamentos de voos. Também há pouco impacto na busca de passagens. As pessoas, por agora, continuam querendo viajar”, pontua Alexandre Kogak, analista da Eleven Investimentos.

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A demanda, então, continua aquecida e as vendas apesar da nova variante caminham mês a mês para um patamar mais próximo do “normal”.

Mas há o risco, do outro lado, de o problema atingir não a procura por passagens, mas sim a oferta – as companhias vêm tendo dificuldades em oferecer voos por conta do alto número de infectados dentro de seus quadros de funcionários.

“Temos ouvido das empresas que a demanda continua latente, ainda mais em um período de alta temporada como dezembro e janeiro , e os cancelamentos de voos estão acontecendo mais por conta da gestão de funcionários doentes”, explica Pedro Bruno, especialista da XP Investimentos no setor aéreo. “Deve ter pouco impacto ou nenhum no quarto trimestre, tendo começado no finalzinho de dezembro. Trabalhamos com a perspectiva de que perdure até meados de fevereiro”, comenta.

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A ômicron foi detectada pela primeira vez no fim de novembro de 2021, mas sua transmissão se intensificou apenas no fim do último mês do ano.

Nos Estados Unidos, no período de festas, intervalo importante para o setor, mais de 20 mil voos foram cancelados entre o período de Natal e os primeiros dias do ano por conta do crescimento dos casos, principalmente dentro das equipes.

Mesmo assim, grandes companhias americanas trouxeram balanços com números melhores do que os esperados pelos analistas. A American Airlines (AALL34) teve um prejuízo líquido por ação de US$ 1,42, ante consenso Refinitiv de US$ 1,48. A Delta Airlines ( DEAI34) teve um lucro líquido ajustado por ação de US$ 0,22, ante consenso de US$ 0,14 – esta afirmou em seu documento que a ômicron cancelou no fim de ano apenas cerca de 1% de seus voos, ainda que tenha sinalizado um possível impacto maior no começo de 2022.

No Brasil, a variante demorou um pouco mais para aparecer e também para se tornar predominante. “O Brasil é um país que está muito avançado em termos de vacinação. Se não evita a propagação, ao menos diminui os casos mais graves e as mortes”, expõe Kogak.

De qualquer forma, se houver impacto da ômicron nos balanços da Gol e da Azul, o provável, segundo os analistas, é que ele apareça mais entre janeiro e março desse ano.

“O quarto trimestre de 2021 deve seguir com a recuperação, esperamos ganhos melhores para as duas empresas, cada uma em sua velocidade”, afirma o analista da XP. “Gol e Azul já divulgaram dados operacionais para o período entre outubro e dezembro e os números já apresentaram melhoras. Nós acreditamos que no primeiro trimestre deste ano isso também deve continuar”, diz o especialista da Eleven.

Azul pode ser mais impactada pela ômicron do que a Gol

No caso de a ômicron se fazer sentida, é provável que a Azul seja a que mais sofra com seus efeitos. A companhia tem “retomado ao normal” de forma mais rápida do que a Gol. O que inicialmente parece totalmente positivo, em um momento de crise pode gerar problemas.

A Gol, por estar voltando ao normal de forma mais lenta, tem uma maior capacidade ociosa – a companhia está realizando cerca de 60% dos voos realizados no período pré-pandemia.

O que os analistas explicam é que por não ter demitido ninguém durante a crise da covid-19, e por estar com seu nível de operação ainda menor do que o antes, a companhia consegue, neste cenário, repor mais facilmente seu quadro de funcionários. A mesma coisa não acontece com a outra companhia: “A Azul já está em um patamar acima do nível pré-pandemia, qualquer funcionário que não pode trabalhar é uma perda”, explica Kogak.

Além disso, as diferenças dos modelos de negócios entre as duas empresas também podem pesar. “A Gol tem uma frota única, qualquer comissário pode fazer qualquer viagem”, contextualiza o analista da Eleven. “A Azul tem diferentes aviões e os comissários, por conta dos treinamentos necessários, não realizam todos os voos da malha”.

Há algumas variáveis que ainda podem influenciar – positiva ou negativamente – os balanços das aéreas quanto o assunto é ômicron.

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), por exemplo, vem flexibilizando regras para que as companhias consigam voar com menos funcionário a bordo, o que pode diminuir o problema com o quadro de funcionários e permitir que mais voos sejam realizados. Do outro lado, o crescimento de número de casos e um possível aumento de restrições, principalmente na época do Carnaval, são ameaças.

Para a Eleven, até então, a busca por viagens está dentro do esperado, “mesmo com o Nordeste já tendo cancelado o Carnaval oficial”. A XP Investimentos projeta por enquanto que os impactos da ômicron na receita das duas aéreas não ultrapassarão um intervalo que vai de 5% a 10% durante o tempo em que a variante perdurar.

Impacto do 5G nos aeroportos brasileiros ainda é incerto

Quanto à questão do 5G, os impactos possíveis ainda dividem.

A indústria da aviação está preocupada que o serviço de 5G seja utilizado em frequências do espectro similar aos utilizados pelos radares de altímetros, instrumentos críticos de voo que medem a altitude através de sinais de rádio, que é entre 4.2 e 4.4GHz, afetando dessa forma os instrumentos dos aviões”, explica Fred Oliveira, analista da Inside Research.

O problema surgiu inicialmente nos Estados Unidos, onde uma associação comercial que representa as principais companhias aéreas país chegou a pedir ao secretário de Transportes, Pete Buttigieg, e aos principais reguladores de comunicação e aviação do país para impedir que operadoras de telefonia móvel implementem serviços 5G perto de aeroportos. Segundo a carta, a nova tecnologia poderia trazer impactos “catastróficos” no setor aéreo, causando acidentes.

Segundo Oliveira, ainda é cedo para definir se o problema se repetirá no Brasil. “O impacto da instalação das torres de 5G na operação comercial brasileira neste momento é muito difícil de estimar”, afirma.

De um lado, é necessário ponderar que os aeroportos brasileiros já possuem, naturalmente, um “clima instável”. Ao mesmo tempo, porém, nos leilões realizados no Brasil a frequência disponibilizada foi menor do que nos EUA, indo de 3,4 a 3,8 Ghz, mais parecido com o que é visto na Europa, onde não foram identificados problemas. “Segundo a indústria, na Europa, Japão e Coreia do Sul o risco é bem menor, dado que existe uma margem maior de frequência entre o espectro usado pelas frequências de 5g e dos radares de altímetros”, pontua Oliveira.

Para a XP, até a implementação do 5G no Brasil sair do papel, algo que deve começar a se intensificar neste ano, haverá mais “experiências prévias”, que podem guiar os próximos passos a serem seguidos.

Por agora, o impacto dos cancelamentos nos voos deve passar despercebido nos balanços da Gol e da Azul. “Até houve voos saindo do Brasil indo para o exterior sendo cancelados, mas foi algo ínfimo. As operações internacionais das duas companhias ainda praticamente não voltaram”, expõe Pedro Bruno.

Em dezembro, a capacidade oferecida pela Azul em voos internacionais medida Assentos‐Quilômetros Oferecidos (ASKs, na sigla em inglês) foi de 363 milhões, ante 946 milhões no mesmo mês de 2019, antes da pandemia. A Gol, por sua vez, ofertou 64 milhões, ante 597 milhões no mesmo mês de dois anos atrás.

Pior para companhias aéreas pode já ter passado

De qualquer forma, mesmo com 5G e a ômicron, a crença geral é que o pior já tenha passado para a Gol e para a Azul, apesar de ainda existirem pontos a serem monitorados.

“Acho que o grande trabalho que as companhias já tiveram, já foi feito. Elas estão conseguindo repassar o aumento dos custos, fizeram a renegociação de arrendamento de aeronaves, acertaram a parte financeira, com alongamento de dívida. Em curto prazo, não temos preocupações. Tanto a Gol quanto a Azul estão em linha com o esperado”, comenta Kogak.

O analista da Inside Research pontua que é preciso analisar, de olho nas dívidas, o aumento da Selic. “As aéreas em geral utilizam leasings operacionais (arrendamentos de aviões) que são sensíveis às movimentações da taxa de juro na hora da renovação de contratos. Além disso, as recentes subidas provavelmente aumente o custo das dívidas”, explicou.

Em comum, todas as casas apontam que um grande risco para as companhias aéreas é o surgimento de uma nova variante, que traga características mais preocupantes do que a ômicron ou que consiga escapar da proteção fornecida pelas vacinas.

Os analistas de mercado estão divididos quanto às recomendações. Para as ações preferenciais da Gol, segundo compilação feita pela Refinitiv, há no momento quatro recomendações de compra, quatro de venda e três neutras. O preço-alvo médio é de R$ 22,51, upside de 31% frente o fechamento de quarta-feira (26). Já para a Azul, há cinco recomendações de compra (com direito a um “strong buy“), cinco neutras e duas de venda. O preço-alvo médio é de R$ 39,30, ou potencial de alta de 43% em relação ao fechamento da véspera.

A XP é uma das casas que possuí recomendação neutra para as duas companhias. Os analistas da corretora fixaram preço-alvo de R$30,00 para as ações da Azul (preferida da casa), com 16% de upside, e de R$22,00 para a Gol, com potencial de 15% de valorização.  Apesar de as duas empresas terem potencial para melhorar no futuro – a primeira com pouca concorrência em suas rotas e a segunda com as sinergias proveniente da implementação da Smiles, por exemplo -, os preços das ações já estariam seguindo valuations justos no momento.

A Gol publica seu balanço do quarto trimestre no dia 17 de fevereiro e a Azul deve divulgar seus números no dia 24 do mesmo mês.

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