Gol (GOLL4) dá adeus ao Ibovespa com queda de 68% no mês e riscos de diluição massiva

Analistas veem ação no limbo com recuperação judicial nos EUA, ainda que vejam que saída teve razão objetiva para preservar atividades

Lara Rizério

Atualmente, Azul, Gol e Lata, sao as companhias que dominam o mercado aéreo no Brasil. Foto: Pixabay

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As ações da Gol (GOLL4) tiveram uma despedida “amarga” do Ibovespa na sessão da última terça-feira (30) em meio ao pedido de recuperação judicial nos EUA, acumulando baixa de 68% apenas em janeiro. Caso os ativos permanecessem no índice até esta quarta (31), muito provavelmente acumulariam a maior queda da carteira no fechamento do mês, uma vez que Casas Bahia (BHIA3) – a segunda maior desvalorização até a véspera -, registra baixa acumulada de 33,22%.

Apenas na sessão do último dia 30 de janeiro, as ações da Gol fecharam com uma queda de 26,97%, a R$ 2,87, e um valor de mercado de R$ 1,2 bilhão, seguindo uma baixa de 33,61% na segunda. A aérea acumulou perdas de R$ 2,55 bilhões no ano de 2024 até 30 de janeiro, com uma desvalorização de R$ 444 milhões apenas no último dia, conforme aponta levantamento de Einar Rivero, diretor da Elos Ayta Consultoria.

Desde que a Gol pediu a recuperação judicial nos EUA (Chapter 11), na última quinta-feira (25) e após muitas especulações sobre o tema, a queda das ações é de 56,84%, com as baixas especialmente concentradas nas duas últimas sessões, em meio a avaliações sobre como as medidas a serem adotadas durante o processo podem afetar os acionistas e também com o anúncio da B3 de excluir os papéis da aérea de todos os seus índices.

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Na última segunda, o Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York aprovou o acesso provisório da empresa à parte (US$ 350 milhões) do Debtor in Possesion (DIP) de US$ 950 milhões comprometido por determinados detentores de títulos da Abra. Contudo, o juiz responsável pelo caso, Martin Glenn, manifestou preocupação com o elevado custo do financiamento. Os advogados da aérea afirmaram que um quarto (25%) do financiamento poderia ser absorvido por taxas bancárias e custos relacionados.

A empresa também publicou informações financeiras preliminares e não auditadas do 4T23 no contexto dos procedimentos do Chapter 11, reportando uma queda de 15% no ativo circulante no trimestre, para R$ 3 bilhões, e no ativo não circulante, um aumento de 1% no trimestre, para R$ 13,8 bilhões. O passivo circulante da GOL caiu 9%, para R$ 10 bilhões, enquanto o passivo não circulante aumentou 26%, para R$ 10 bilhões (ambos líquidos de dívida). A dívida permaneceu em R$ 20,2 bilhões.

Na visão do Bradesco BBI, os US$ 350 milhões em recursos iniciais do financiamento DIP podem ajudar a liquidez e a continuidade das operações da empresa no curto prazo, mas a um custo alto.

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No fim da semana passada os analistas do banco rebaixaram a recomendação das ações GOLL4 para equivalente à venda e reduziram o preço-alvo em 90%, para R$ 1 por papel, em meio a preocupações sobre a diluição dos acionistas durante o processo, uma preocupação que também foi destacada pelo BB Investimentos ao cortar a recomendação do papel também para a venda nesta semana, mas com preço-alvo de R$ 2,40.

Antes da Justiça americana aprovar o pedido de RJ da aérea, o BBI afirmou que, “com ou sem o ‘Chapter 11’, todos os cenários levam a uma enorme diluição do capital”.

Victor Mizusaki e equipe ponderaram no relatório do BBI que a reestruturação de passivos de aproximadamente R$ 25 bilhões provavelmente eliminará os acionistas minoritários devido à conversão de US$ 2,3 bilhões de dívida em ações.

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Os analistas disseram que chegaram a esse valor somando os US$ 950 milhões do financiamento DIP, US$ 1,2 bilhão relacionados aos títulos de dívida ESSN de 2028 e US$ 100 milhões de dólares em passivos de arrendamento de aeronaves.

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O BB Investimentos (BB-BI), por sua vez, estimou uma diluição acima de 60% devido ao processo de reestruturação financeira, citando a possibilidade de que parte da dívida seja convertida em ações. O controlador da Gol, o Abra Group, possui cerca de US$ 1,2 bilhão em títulos de dívida.

“Em um cenário base em que o controlador realize tal conversão, estimamos um fator de diluição acima de 60% para os acionistas correntes […] Por isso, acreditamos que a relação risco/retorno neste momento é desfavorável ao investidor e, para evitar destruição de valor, sugerimos a saída do papel”, apontou o analista Luan Calimério, que assina o relatório do BB-BI.

Para o analista, o pedido de proteção no Chapter 11 da justiça americana tem razão objetiva, uma vez que as condições para continuidade das operações e para a recuperação são, historicamente, mais favoráveis no processo americano do que no brasileiro.

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“De modo geral, há maior preservação dos ativos essenciais às atividades da companhia (no caso da Gol, as aeronaves), o que proporcionaria manutenção da oferta de voos e maior probabilidade de geração de caixa para futura saída do processo”, citou.

Contudo, a visão de que isso virá a um alto custo aos acionistas se mantém: enquanto o BB-BI vê ainda uma queda de 16% dos ativos em relação ao seu preço-alvo de R$ 2,40, o Bradesco BBI vê uma baixa ainda maior, de 65%, para chegar ao seu target de R$ 1, mesmo após a derrocada das ações. Isso, associado à saída da empresa dos índices da B3 fazem com que as ações iniciem o mês de fevereiro praticamente no limbo após um janeiro bastante difícil para os acionistas da aérea.

(com Bloomberg e Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.