Fundos de criptomoedas têm captação em meio à crise e superam desempenho do Bitcoin

Investimento em títulos públicos na composição dos índices ajudaram fundos a reduzirem as perdas em março

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se no começo da atual crise o Bitcoin acompanhou a derrocada das bolsas globais, sua recuperação tem sido rápida, com ganhos que já superam 70% desde a mínima atingida em 12 de março.

Passado o pânico inicial, em que até o ouro caiu, a maior criptomoeda do mundo tem sido favorecida por sua imagem de combater a intervenção dos bancos centrais, com especialistas apontando que ela deve ser beneficiada pela forte injeção de liquidez feita pelas instituições do mundo todo.

E é neste cenário que alguns investidores estão vendo maior atratividade nos ainda novos fundos de criptomoedas. Além de ser um forma de exposição aos criptoativos, esta modalidade acaba trazendo uma certa proteção ao investidor, já que vários destes fundos contam com investimento em títulos públicos em sua composição (clique aqui para entender como funcionam estes fundos).

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“O risco x retorno dessa classe de ativos [criptomoedas] esta ficando cada vez mais claro”, afirma Axel Blikstad, sócio e gestor da BLP Asset.

“Num primeiro momento de risk-off com o cisne negro da Covid-19, junto com a guerra do preço do petróleo, todas as classes de ativos sofreram, até o ouro caiu. Somente quando a poeira começa a baixar que os investidores vão reavaliar suas posições e tomar novas decisões de investimento”, explica.

Mas se de um lado os fundos de renda fixa, multimercado e ações perderam, juntos, quase 320 mil cotistas, os números dos fundos de criptomoedas foram no sentido oposto.

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Considerando os três fundos locais geridos pela Hashdex, houve um aumento líquido de 45 novos cotistas no mês passado, com uma entrada de 303 investidores e saída de 258.

No total, a captação líquida em março ficou em R$ 1,168 milhão, mas incluindo ainda o fundo offshore, as aplicações superaram os resgates em cerca de R$ 3 milhões, de acordo com a gestora.

Já no caso da BLP, o cenário foi misto em março. De acordo com a gestora, houve um “pequeno resgate líquido” no BLP Criptoativos, fundo voltado ao varejo e que tem até 20% de exposição ao mercado cripto, enquanto o Crypto Assets (para o investidor profissional) ficou praticamente estável.

Por outro lado, considerando todo o primeiro trimestre, as captações dos fundos da BLP ainda estão positivas. Estes dois somados ao fundo master offshore, o Genesis Block Fund, tiveram captação líquida de R$ 2,5 milhões (considerando o dólar a R$ 5,20) entre janeiro e março.

Desempenho

Escapar das perdas em março foi algo bem difícil para qualquer um. Mesmo assim, os fundos de criptomoedas tiveram desempenho bem melhores que o próprio Bitcoin, superando outros benchmarks como o Ibovespa. E mesmo com fortes quedas, a maior partes deles segue com fortes ganhos no ano.

No mês passado, o fundo Discovery da Hashdex (voltado para o investidor de varejo e com exposição máxima de 20% em criptos) teve uma queda de 2,38%, enquanto o Bitcoin desabou 26,5% no mesmo período e o Ibovespa caiu 29,90%.

Já o fundo para investidor profissional e com exposição de até 100% ao mercado cripto, o Voyager, registrou perdas de 17,65% em março. O terceiro fundo da gestora, o Explorer, não teve seu desempenho divulgado por ainda não ter seis meses de existência.

Vale lembrar que, no caso da Hashdex, a exposição é feita por meio do Hashdex Digital Assets Index (HDAI), um índice lançado pela própria gestora e negociado na bolsa americana Nasdaq.

A BLP teve números parecidos, com seu fundo de varejo, o Criptoativos, tendo uma queda menor, de 3,74%, enquanto o Cypto Assets, para o investidor profissional, recuou 20,52% em março. O fundo offshore da gestora, por sua vez, caiu 31,65% no último mês.

Este desempenho tão diferente entre os fundos de varejo e os para investidores profissionais pode ser explicado por conta de uma regra estabelecida pela CVM, em que há um limite de exposição às criptomoedas nos fundos para o público geral, que é de apenas 20%.

Com isso, o resto do investimento destes fundos é feito em títulos de dívida pública. Neste cenário de pânico dos mercados, este tipo de composição acabou criando uma proteção que evitou perdas maiores nos fundos com menor exposição às criptos.

A tendência também foi de um desempenho superior em relação ao Bitcoin porque estes fundos fazem uma diversificação dentro do próprio mercado cripto, mitigando a pressão de um ativo dentro do portfólio.

E para completar, além da queda bem menor, quem investiu nos fundos de criptomoedas também conseguiu manter ganhos expressivos no acumulado do primeiro trimestre.

Enquanto o Bitcoin caiu 12,2% e o Ibovespa recuou 36,8% nos três primeiros meses de 2020, o fundo Crypto Assets da BLP acumulou alta de 18,1%, ao passo que o fundo Criptoativos avançou 5,31%.

Já no caso da Hashdex, o fundo Discovery registrou valorização de 5,57% no primeiro trimestre, enquanto o Voyager saltou 15,96% no mesmo período.

Estes números mostram outra característica dos fundos de criptomoedas. Se, de um lado, os fundos de varejo (com menor exposição) reduzem as perdas em períodos negativos, quando o momento é bom, eles também têm ganhos menores, o que pode ser visto quando comparado com o desempenho dos fundos para profissionais.

Este tipo de fundo ainda é recente no Brasil e cada um conta com uma estratégia diferente de investimento. Para quem não quer comprar diretamente Bitcoin ou outra moeda digital, eles começam a se mostrar uma boa opção de entrada neste mercado. Mesmo assim, especialistas ressaltam que este é um mercado bastante volátil e com maior risco do que outros ativos, tornando-se um bom investimento quando o objetivo é a diversificação.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.