Frigoríficos no Brasil e no mundo apresentam alto risco pandêmico, diz estudo; confira ranking

Relatório da associação de investidores Fairr mostra que nenhuma de 60 empresas do setor no mundo tem "baixo risco" e boas práticas contra doenças

Rodrigo Tolotti

(divulgação)

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SÃO PAULO – O novo coronavírus é o grande assunto no mundo todo este ano e seu impacto nas empresas ainda não pode ser totalmente calculado.

Apesar do impacto geral nos setores com a queda da atividade econômica global, os frigoríficos eram vistos como um dos poucos que poderiam sair como vencedores por conta da alta do dólar e o consumo maior das pessoas de itens básicos. Contudo, o que se viu foram empresas prejudicadas com alto número de casos entre os funcionários e paralisação de diversas unidades de produção.

Além deste cenário, o momento tem elevado o debate de que o setor não só é bastante exposto à crise da Covid-19, mas também é um dos que tem maior risco a futuras pandemias.

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Como mostra um relatório da associação de investidores Fairr, cujos membros administram US$ 21,2 trilhões em ativos, as empresas produtoras de proteína animal estão em um cenário mais complicado, com altas chances de contraírem e espalharem doenças pelo mundo.

De acordo com um ranking publicado nesta terça-feira (2) pelo grupo, 44 das 60 companhias analisadas, que juntas valem US$ 224 bilhões, são consideradas de alto risco pandêmico. As outras 16 empresas são classificadas com risco médio e nenhuma conseguiu aparecer como “baixo risco”.

Dentre as empresas brasileiras, duas aparecem entre as de médio risco: Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3), enquanto JBS (JBSS3) e Minerva (BEEF3) estão no grupo de alto risco.

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O chamado Ranking Pandêmico da Fairr combina seis fatores de risco e também um fator de oportunidade de “proteínas saudáveis”, que é o investimento da empresa em proteínas alternativas, como produtos à base de plantas. Estes fatores foram retirados de uma série de itens que compõem um índice de 2019 de riscos para os frigoríficos. As empresas ganham notas de 0 (alto risco) até 100 (melhores práticas).

“As pontuações apontam para uma clara falta de boas práticas nos fatores de risco ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa, na sigla em inglês), muitos dos quais serão críticos para mitigar a volatilidade e criar resiliência contra possíveis choques externos futuros, como a próxima pandemia”, diz o relatório.

Segundo a Fairr, o ranking mostra que no momento atual, mesmo os produtores classificados com as melhores pontuações tiveram desafios em conseguir mitigar os riscos e dar respostas contra a crise. “Até o momento, a crise nos mostrou a importância de buscar sinais claros de resiliência nos modelos de negócios e estruturas de governança das empresas”, afirma a associação.

Confira o ranking completo abaixo:

(Fonte: Iniciativa Fairr)

Os problemas

O ranking é constituído por sete itens, com notas individuais em cada um deles, para que no fim se atinja uma nota final de Risco Pandêmico. Os itens são: Desmatamento e perda de biodiversidade; desperdício e poluição; uso de antibióticos; bem estar animal; condições de trabalho; Segurança alimentar; e proteínas sustentáveis.

Em alguns deles, o Brasil e as empresas locais são diretamente citados. No item sobre desmatamento, a Fairr diz que 88% das empresas asiáticas de proteínas, que são as compradoras da maior parte das exportações brasileiras de soja, não têm nenhuma discussão interna ou com os vendedores do Brasil sobre os riscos de desmatamento. Estão incluídas nesta situação oito dos maiores conglomerados chineses, que são líderes na produção de porcos.

Já no quesito “condições de trabalho”, o relatório destaca que na cadeia pecuária, em mercados emergentes como Brasil e Tailândia, a escravidão e os abusos de direitos humanos são amplamente prevalecentes nos setores de carne e aquicultura, respectivamente.

Nos EUA, por sua vez, as preocupações predominantes estão relacionadas à saúde e segurança dos trabalhadores. A Fairr afirma que lesões graves que exigem dias de folga do trabalho (ou restrições ao trabalho) são três vezes mais altas na indústria de frigoríficos do que em outros setores.

Por fim, na questão do uso de antibióticos, as 60 empresas tiveram uma nota média de apenas 20 pontos, de 100 possíveis, o que segundo a Fairr, indica uma contínua falta de engajamento nessa importante questão. E neste cenário, a brasileira Marfrig, junto com a Bakkafrost, GFPT e Lerøy Seafood, foram as únicas que se comprometeram a interromper o uso rotineiro de todos os antibióticos em animais de criação.

Ao InfoMoney, Maria Lettini, diretora executiva da Iniciativa Fairr, afirmou que, a nível regional, a América Latina ficou em 3º de 6 em termos de pontuação, atrás da Europa e da Oceania, com as empresas brasileiras ficando próximas, dentro da faixa de “risco médio”, com exceção do Minerva, que é classificado como “alto risco”.

Sobre os itens acima, em que as empresas brasileiras tiveram um desempenho ruim, ela explicou como cada item se encaixa na montagem do índice:

“Desperdício e poluição devem ser bem gerenciados para poder evitar qualquer tipo de surto de doença. Sabemos que o gerenciamento inadequado de resíduos pode levar as bactérias a escapar das fazendas e a contaminar a água doce. O mau gerenciamento de antibióticos também leva a bactérias resistentes a antibióticos, que não apenas afetam os animais da fazenda, mas também os trabalhadores e suas comunidades vizinhas”.

Já no quesito da proteína sustentável, Lettini diz que ela é considerada um fator de oportunidade, já que produtores de carne que começaram a diversificar sua oferta de proteínas para incluir mais opções vegetais são capazes de suportar melhor os choques zoonóticos. Além disso, estas empresas terão cadeias de suprimentos mais resilientes e poderão substituir qualquer déficit no suprimento de carne por produtos à base de plantas.

Confira abaixo o desempenho das empresas em cada critério do índice:

(Fonte: Iniciativa Fairr)

Empresas se posicionam

Em resposta ao InfoMoney, a Marfrig destacou ter sido a companhia brasileira melhor posicionada no ranking. “O resultado reflete a consistência das estratégias e ações da companhia na área da sustentabilidade. Isso inclui a forma como a Marfrig vem lidando com a segurança e a saúde de seus colaboradores em meio à pandemia de covid-19”, disse a empresa em nota.

“Entre as medidas adotadas estão o afastamento de colaboradores pertencentes a grupos de risco, a adoção de regras de distanciamento social, a aferição diária da temperatura corporal de todos os funcionários, o aumento da frequência da higienização de ambientes e uniformes e o fornecimento de equipamentos de proteção individual”, continua a Marfrig ressaltando que anunciou a testagem para o coronavírus de todos os seus funcionários no Brasil.

“Na frente ambiental, a Marfrig também é destaque no ranking Coller Fairr Protein Producer Index 2019, com foco em sustentabilidade. Foi a empresa brasileira mais bem posicionada dentre as 60 companhias globais. Esse índice baseia-se em 9 fatores de risco relacionados a Meio Ambiente, Social e Governança (ASG)”, conclui a Marfrig em nota.

Procuradas, JBS, Minerva e BRF não responderam até o fechamento desta matéria.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.