Exchanges brasileiras optam por manter criptos da Paxos, que tenta isolar crise na Binance USD (BUSD)

Diante de ofensiva nos EUA, até o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, tenta se distanciar da stablecoin Binance USD

Paulo Barros

Publicidade

As criptomoedas emitidas pela empresa americana Paxos, que virou alvo de reguladores nos Estados Unidos nesta semana, seguem disponíveis nas plataformas de negociação brasileiras e saem, até o momento, ilesas da crise que atingiu a Binance USD (BUSD), moeda que funciona como dólar digital dentro da Binance.

Seguindo ordens do principal regulador financeiro de Nova York, a Paxos anunciou que irá interromper a emissão de novos tokens BUSD a partir do dia 21 de fevereiro – os resgates de tokens para dólares acontecerão por pelo menos mais um ano.

Além da BUSD, a Paxos emite outras criptomoedas, como a Pax Dollar (USDP), também indexada à moeda americana, e a Pax Gold (PAXG), que replica o preço do ouro.

Continua depois da publicidade

Em nota, a empresa defende que o alerta recebido do regulador está ligado especificamente à emissão do BUSD, e não tem relação com demais verticais do negócio. “Este alerta da SEC se refere apenas ao BUSD. Para ser claro, inequivocamente não há outras acusações contra a Paxos”, escreveu a empresa.

Parceiros da companhia no Brasil vêm tendo a mesma percepção.

O Mercado Pago, que oferece compra e venda da USDP no aplicativo, afirmou por meio de nota que “está em contato com a Paxos e acompanhando os desdobramentos do caso”. Enquanto isso, a criptomoeda segue disponível na plataforma.

Continua depois da publicidade

O Mercado Bitcoin, que oferece negociação dos dois ativos, adota uma abordagem similar e prefere esperar mais antes de tomar uma decisão. Por ora, avalia que o cancelamento da listagem das moedas da plataforma não se justifica.

“É muito importante termos nossas próprias análises e tomarmos nossas próprias decisões. Seguir o fluxo nesses casos nem sempre é a melhor saída”, explica Fabrício Tota, diretor de novos negócios do MB.

O executivo avalia que questões regulatórias dependem de cada jurisdição, e que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, tem sido muito mais rígida com o setor cripto na comparação com a CVM brasileira.

Continua depois da publicidade

O cenário, relembra Tota, é similar ao da XRP, da Ripple, que enfrenta até hoje uma ação da SEC nos EUA, mas segue viva no mercado – atualmente, é a sexta criptomoeda com maior valor de mercado.

“A gente acabou não deslistando, é um token super relevante no Mercado Bitcoin e no Brasil”, pontua o representante da corretora.

Outra corretora brasileira, a NovaDAX é uma das poucas que oferecem negociação de BUSD, que terá emissões interrompidas na próxima semana. “A NovaDAX possui a BUSD listada e, uma vez que seja descontinuada, deveremos remover seus pares após estabelecimento de prazos”, diz a empresa em nota.

Continua depois da publicidade

A NovaDAX ofereceu negociação de USDP até 30 de novembro, quando parou de aceitar novos depósitos.

A Ripio, dona da Bitcointrade, que também lista as criptomoedas USDP e PAXG, no momento avalia a situação e seus desdobramentos, e promete informar usuários em breve sobre os próximos passos.

“A BitcoinTrade não possui parceria oficial com a Paxos e nem com a Binance. Listamos os tokens para que nossos usuários tenham mais criptomoedas para transacionar”, comenta Santiago Juarros, head global de marketing da Ripio. “Neste momento, seguiremos avaliando o cenário para entender qual impacto terá para nossos clientes”.

Continua depois da publicidade

Após a publicação desta reportagem, a Bitso informou que está interrompendo temporariamente os saques e depósitos de BUSD, mas manterá a parceria institucional com a Paxos – o USDP seguirá disponível na plataforma.

“No momento não estamos tomando nenhum tipo de decisão sobre nosso relacionamento institucional com a Paxos, estamos apenas desabilitando temporariamente os depósitos e saques em BUSD, levando em conta as medidas recentes tomadas pela Paxos”, explicou a Bitso ao InfoMoney.

CEO da Binance tenta se distanciar da Binance USD

Diante da crise, até o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, tenta se distanciar da stablecoin Binance USD.

“A BUSD não é emitida pela Binance”, disse Changpeng Zhao no Twitter nesta terça-feira (14). “Temos um acordo para permitir que eles [Paxos] usem nossa marca, mas isso não é algo que criamos”.

“Com o desaparecimento da BUSD, e a BUSD diminuindo lentamente com o tempo, continuaremos a trabalhar com mais emissores ou criadores de stablecoins”, acrescentou CZ, indicando que empresa irá procurar novos emissores para o ativo.

Zhao também criticou a informação da Bloomberg de que a Circle, emissora da USDC, teria alertado reguladores que a Binance não teria reservas suficientes para lastrear tokens BUSD.

“Realmente não acredito que a Circle faria isso – não acho que um colega profissional da indústria queira fazer isso com outro colega”, disse ele. “Isso apenas prejudica a indústria em geral, como estamos vendo agora. Eu não levaria essa matéria (da Bloomberg) muito a sério agora.”

Paulo Barros

Editor de Investimentos