Com privatização cada vez mais próxima, até onde as ações da Eletrobras podem ir na Bolsa? Analistas projetam alta de até 60%

Medida Provisória da Eletrobras foi aprovada na véspera pelo Senado; analistas do BBI veem papéis chegando aos R$ 70, enquanto Credit vê ação ELET6 a R$ 65

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em uma vitória para o governo e para a equipe econômica, que temiam ver o texto caducar diante da resistência de parte das bancadas, o Senado aprovou a Medida Provisória que permite a privatização da Eletrobras (ELET3;ELET6) em uma votação acirrada, por 42 votos favor ante 37 contra.

Depois de uma queda de cerca de 3% dos ativos ELET3 e ELET6 na véspera em meio às incertezas sobre a aprovação, a sessão desta sexta-feira (18) foi de ganhos para os papéis, ainda que com os papéis fechando longe das máximas. Os  papéis ELET3 subiram 5,98%, a R$ 46,22, enquanto ELET6 avançou 5,94%, a R$ 45,85; na máxima do dia, a alta foi de cerca de 10%.

Conforme destacam Carolina Carneiro e Rafael Nagano, analistas do Credit Suisse, a versão final do texto contém mudanças, mas mantém partes importantes do texto original, como o formato de aumento de capital, limitação dos direitos de voto e mudança de contratos de regime de cotas para de produtor independente.

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O modelo de privatização prevê a emissão de novas ações a serem vendidas no mercado sem a participação da empresa, resultando na perda do controle acionário de voto mantido atualmente pela União. A projeção é de que o governo reduzirá sua fatia nas ações com direito a voto de 61% para 45%. O aumento do capital social da empresa será por meio da oferta pública de ações.

As modificações no texto mais importantes feitas pelo Senado foram: (i) a elevação das exigências de leilões de reserva de energia térmica em 2 gigawatt (GW) adicionais (na região Sudeste), passando assim de 6 GW para 8 GW. Porém, agora esses leilões não precisam acontecer antes do processo de capitalização (para os analistas, isso ajuda no calendário de privatização); e (ii) remoção da extensão de subsídios para térmicas a carvão.

Agora, o projeto de lei retorna à Câmara dos Deputados para a avaliação final, sendo que os deputados já aprovaram o texto principal por grande maioria (313 versus 166); assim, Carolina e Nagano acreditam que as mudanças propostas pelo Senado provavelmente serão aprovadas. Já foi anunciada a data da votação, na próxima segunda-feira (21).

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Confira os principais pontos do texto da Medida Provisória aprovado pelo Senado na véspera:

  • Diluição da participação do governo na Eletrobras por aumento de capital e oferta pública de ações (que pode incluir ofertas primárias e secundárias); expectativa é de diluição de 61% para 45%;
  • Extensão da concessão em até 30 anos para as usinas hidrelétricas controladas operando em regime de cotas, com posterior extinção desse regime, e prorrogação da concessão das hidrelétricas Sobradinho, Itumbiara e Tucuruí;
  • Custos relacionados aos riscos hidrológicos (GSF) serão repassados ​​à Eletrobras;
  • Benefícios das prorrogações dos contratos serão repartidos entre os consumidores e a União por meio do pagamento de outorga à União e pagamentos efetuados pela Eletrobras para a CDE durante o prazo da concessão;
  • Eletronuclear e Itaipu serão mantidas sob o controle da União por meio de uma nova empresa pública a ser criada; ou seja, haverá uma cisão dos ativos;
  • Previsão de criação de golden share a ser detida pela União, dando poder de veto de votos individuais ou coletivos acima de 10% dos direitos de voto da Eletrobras;
  • Financiamento pela Eletrobras dos seguintes programas: i) revitalização do Rio São Francisco com pagamento de até R$ 350 milhões ao ano por 10 anos; ii) redução do custo de energia estrutural na Amazônia Legal com o pagamento de R$ 295 milhões ao ano por 10 anos; iii) revitalização de bacias hidrográficas nos reservatórios de Furnas com pagamento de R$ 230 milhões ao ano por 10 anos;
  •  Senado fará a sabatina e aprovação dos indicados para a diretoria do Operador Nacional do Sistema, órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN);
  • Volume de energia a ser contrato de térmicas a gás para 8 mil megawatts (MW), em localizações específicas, mas leilões não precisam acontecer antes do processo de capitalização e
  • Regra para contratação mínima de 40% de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nos próximos leilões mesmo depois do atingimento de 2 mil MW.
*Fontes: Safra, Credit, Agência Senado

Definições ainda no radar

Após a aprovação do projeto de lei, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve dar continuidade aos trabalhos e concluir o valuation para a oferta de ações, seguindo a validação do processo pelo Tribunal de Contas (TCU).

Os analistas veem celebram o fato de que a aprovação permite o processo de capitalização, o que deve ser positivo para a Eletrobras por levar a perspectivas de mais eficiência, novos contratos e expectativa de melhora da governança. Além disso, também pode ser positivo para o setor no que diz respeito à geração hídrica, já que a capacidade firme da Eletrobras deve ser recalculada e ela vai arcar com os custos do GSF (medida de risco hídrico) como outras hidrelétricas.

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Por outro lado, os analistas avaliam que a interferência no planejamento da politica energética, mais uma vez com a tentativa de redução de preços via subsídios, pode ser um fator negativo para a alocação de capital e futuro da matriz, impactando negativamente o setor.

De qualquer forma, uma vez que a equipe de análise do Credit Suisse acredita que a probabilidade de aprovação final da MP na Câmara é alta, avalia que o papel poderia se aproximar do cenário mais otimista que possui, de R$ 65 por ação ELET6, o que corresponde a um potencial de valorização de 50% em relação ao fechamento da véspera. Atualmente, os analistas possuem recomendação neutra para o ativo preferencial, com preço-alvo de R$ 45, ou alta de 4% frente o fechamento de quinta.

Francisco Navarrete, André Silveira e João Fagundes, analistas do Bradesco BBI, apontam que a votação de ontem no Senado marcou a efetiva aprovação da privatização da Eletrobras, que agora dependerá do BNDES não atrasar a modelagem  e a execução da operação de capitalização, além do TCU aprovar todo o processo.

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Por causa das eleições presidenciais em 2022, apontam, muitos no governo veem o primeiro trimestre de 2022 como um prazo limite para privatizar a Eletrobras.

O Safra destaca também como o principal risco o tempo para a conclusão da privatização, com o cronograma esperado podendo atrasar em razão da eleição, trazendo volatilidade às ações.

Já em relação à votação final da Câmara dos Deputados até 22 de junho, os analistas do BBI também não esperam surpresas negativas, já que houve aprovação do projeto na Casa por uma larga margem.

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Assim, a próxima etapa crítica é finalizar a modelagem da operação de capitalização, que é liderada pelo BNDES. Dentre os diversos pontos a serem abordados nesse processo o principal desafio, na visão dos analistas, é definir o valuation da usina nuclear de Angra 3, para a qual ainda faltam estudos sobre capex (ou investimentos em capital) ainda pendente (estimado em R$ 15 bilhões) além da tarifação final a ser concluída. A subsidiária Eletronuclear, incluindo Angra 1, 2 e o projeto Angra 3, tem que ser “cindida” da Eletrobras antes da privatização.

O BNDES também precisa definir o título de concessão a ser pago pela Eletrobras ao governo federal, que, com base em uma avaliação preliminar, refletindo as mudanças de ontem feitas pelo Senado, seria de cerca de R$ 20 bilhões.

Em relação à análise do TCU, que normalmente poderia ser muito demorada, a Eletrobras vem realizando reuniões semanais com o órgão para mantê-lo informado e facilitar o andamento da aprovação, destacam os analistas.

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O BBI aponta que a relação risco-recompensa para as ações da Eletrobras apresentou melhora substancial após a aprovação da MP. Os analistas do banco destacam que o valor justo de uma Eletrobras privatizada poderia ser entre R$ 60 e R$ 70 por ação, implicando um aumento substancial dos atuais R$ 43 tanto dos ativos ELET3 quanto dos ativos ELET6. O potencial de valorização, de acordo com esses valores destacados pelo banco, seria entre 37% e 61% acima frente o fechamento da véspera.

Veja também:
Quais os cenários para as ações da Eletrobras após a aprovação da MP?

Supondo que a privatização prossiga, os analistas apontam que a única questão é se, dado o aumento de capital esperado de cerca de R$ 25 bilhões, para diluir a participação do governo para menos abaixo do controle, as ações poderiam encontrar um teto temporário entre cerca de R$ 50 e R$ 55 dado o tamanho da operação. Ainda assim, isso representa uma alta média de 22% em relação ao fechamento de quinta-feira.

Os analistas notam que o tamanho do aumento de capital ainda não foi determinado pelo governo, ainda a depender dos estudos do BNDES. Uma alternativa seria uma capitalização menor da Eletrobras assumindo dívida para pagar o título de concessão devido ao governo federal – nesse cenário, o governo precisaria vender as ações diretamente no mercado para haver uma diluição abaixo do controle.

O Safra, por sua vez, elevou a recomendação para a ação da Eletrobras de neutro para compra, assumindo agora uma chance de 100% para a privatização. O preço-alvo é R$ 55,30 para ELET6 (potencial de alta de 28%) e de R$ 53,80 para ELET3 (upside de 23%).

“Nosso modelo considera os benefícios da privatização como um fluxo de caixa separado, portanto, não fazemos grandes mudanças em nossas estimativas de lucros. Em nossas estimativas, os benefícios da privatização incluiriam R$ 23,40 por ação ao nosso preço-alvo, e estimamos um spread (diferença de valores entre as classes de ações) justo entre ELET6 e ELET3 de R$ 1,50”, destacam os analistas.

O Bank of America, por sua vez, destaca o cronograma para os próximos passos planejados para a privatização da Eletrobras: 1) em 21 de julho de 2021, o BNDES analisa o processo, 2) em 21 de agosto de 2021, ocorre a revisão da capacidade das usinas hidrelétricas, 3) em 21 de setembro de 2021, os dados finais da taxa de concessão, 4) em janeiro de 2022, a votação dos acionistas sobre o processo, 5) também em janeiro de 2022: aprovação do Tribunal de Contas e 6) em fevereiro de 2022: oferta de ações na qual o Governo Federal será diluído para uma participação menor de 50% de suas ações com direito a voto.

Atualmente, os analistas do banco americano possuem recomendação de compra para as ações ELET3 e ELET6, com preço-alvo de R$ 47 (7,8% de upside frente o fechamento da véspera) para as ordinárias e de R$ 52 para as preferenciais (ou potencial de valorização de 20%).

Com base nos termos preliminares publicados anteriormente pelas autoridades, os analistas estimam que a privatização poderia somar R$ 17 por ação ao preço-alvo atual de R$ 47, totalizando R$ 64 (ou alta de 47% frente o fechamento da véspera). “Apesar de alguns termos indesejáveis na lei de privatização (por exemplo, obrigações de expansão de capacidade), vemos a privatização como muito positiva para o setor também, tendo em vista a melhor dinâmica de preços de energia (especialmente no mercado regulado) e menor percepção de risco sobre o setor”, apontam.

O Morgan Stanley, por sua vez, avalia que, embora a ação ELET6 já tenha subido 32% nos últimos três meses, os analistas ainda esperam um aumento significativo no preço das ações. A expectativa é de que o preço das ações convirja para R$ 56 (alta de cerca de 29%) no cenário pós aprovação da MP pelo Senado, o que ainda representa um desconto de cerca de 20% no cenário da Eletrobras operando como uma empresa privada (de R$ 70 por ação, ou alta de mais de 60%). Atualmente, os analistas do Morgan possuem recomendação overweight (exposição acima da média) para os ativos ELET6, mas com preço-alvo de R$ 36, o que configura um valor 17% frente o fechamento de quinta.

Confira as projeções para a ação da Eletrobras após a privatização:

Instituição (ação analisada) Projeção para a ação com privatização*
Itaú BBA (ELET3) R$ 64 (alta de 47%)
Bank of America (ELET3) R$ 64 (alta de 47%)
Credit Suisse (ELET6) R$ 65 (alta de 50%)
Morgan Stanley (ELET6) R$ 70 (alta de 61%)
Bradesco BBI (ELET3 e ELET6) R$ 70 (alta de cerca de 60%)
Safra (ELET3) R$ 53,80 (alta de 23%)
Safra (ELET6) R$ 55,30 (alta de 28%)
*em relação ao fechamento das ações na sessão de 17 de junho de 2021

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.