Estrangeiros impulsionam rali da Bolsa em novembro, mas continuidade do movimento depende do fiscal

Reformas, privatizações e sinais claros de compromisso com a sustentabilidade das contas públicas são necessários para que o dinheiro siga para a B3

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Depois de uma maciça fuga de capital da B3 até outubro, os investidores estrangeiros voltaram e foram os grandes responsáveis pelo rali da Bolsa em novembro, injetando R$ 14,5 bilhões só na última semana, com o saldo positivo líquido de novembro já totalizando R$ 17,8 bilhões. Em novembro, o Ibovespa já sobe quase 13% apesar da queda da véspera sendo que, na terça-feira, o índice ultrapassou os 107 mil pontos, no maior patamar desde fevereiro.

Essa entrada de recursos também ajudou o dólar a se desvalorizar em 7,11% ante o real desde o início do mês, indo a R$ 5,33, de maneira complementar à sinalização do Banco Central de que pode aumentar a quantidade de swaps cambiais oferecidos para atender à alta demanda por dólares nas próximas semanas.

Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, explica que esse retorno dos estrangeiros está ligado ao menor número de focos de incerteza no cenário internacional passadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

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“Não foi necessariamente a eleição do [democrata, Joe] Biden, mas em especial a inexistência de uma ‘Onda Azul’, com democratas dominando Câmara e Senado”. Se esse cenário se concretizasse, lembra Indech, poderia haver a aprovação de medidas que repercutiriam mal em Wall Street como o aumento de impostos e políticas para combater o poder de mercado das grandes empresas de tecnologia.

O estrategista comenta ainda que existem razões particulares que atraem o investidor ao Brasil neste momento.

“Ao mesmo tempo em que temos boas notícias de vacinas e eleições nos EUA, o [presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo] Maia (DEM-RJ), declarou recentemente seu interesse em pautar projetos ligados ao ajuste fiscal no fim do ano. Isso é um bom sinal depois de tanto tempo sem falarmos nas reformas”, avalia.

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Para ele, a combinação das expectativas de que vacinas como a da Moderna ou a da Pfizer/BioNTech já sejam distribuídas na segunda semana de dezembro com a retomada de pautas como a reforma administrativa devem atrair o investidor que estava com menor apetite por risco e mais receio em alocar seu capital em ativos brasileiros.

A Levante Ideias de Investimentos destaca ainda que o movimento foi ajudado pelos preços relativos. “Passada a incerteza da eleição [dos EUA] e com uma vacina viável aparentemente a caminho, fica claro que os ativos brasileiros estão muito baratos em dólar. Mesmo considerando-se uma taxa de câmbio abaixo de R$ 5,40, as ações brasileiras estão sendo negociadas a preços muito convidativos”, avalia a equipe de análise.

Contudo, Rossano Oltramari, estrategista e sócio da 051 Capital, entende que a continuidade desse movimento depende de sinais claros de que o governo não perderá o controle da questão fiscal. “Tivemos um aumento grande dos gastos públicos na pandemia. Passando o período pandêmico, os investidores vão questionar ainda mais essa responsabilidade fiscal por parte do governo”, argumenta.

Na avaliação de Rossano, a agenda de privatizações precisa andar também para que o País siga atraindo os estrangeiros. “Era uma promessa do [ministro da Economia,] Paulo Guedes, e isso tem frustrado investidores.”

Em relatório, a equipe de economistas da XP Investimentos escreve que as semanas seguintes à eleição municipal serão críticas para reforçar o compromisso com o teto de gastos e a estabilidade da dívida pública.

“A discussão sobre a [Proposta de Emenda à Constituição] PEC emergencial e eventuais medidas para expandir os programas de transferência de renda deve voltar”, afirmam.

De acordo com a XP, em um momento no qual a dívida bruta alcança 90,6% do Produto Interno Bruto (PIB), em alta de 15 pontos percentuais em relação ao final de 2019, a cautela em torno do ambiente fiscal se impõe mesmo sem um novo programa de transferência de renda no lugar do Auxílio Emergencial.

“A dinâmica das contas públicas segue o principal risco para 2021. A resistência do Ministério da Economia e a melhor perspectiva para a economia global com a vacina para a Covid-19 respaldam nosso cenário de que o teto de gastos será mantido, trazendo algum alívio no curto prazo. Nossas projeções para a relação dívida PIB estão em 94,4% para 2020 e 96,3% em 2021, considerando leve melhora diante da recuperação da arrecadação e do resultado esperado para governos regionais”, prevê a XP.

A projeção de Indech, apesar das incertezas no cenário, é otimista. Para ele, seguramente existe espaço para um segundo rali do Ibovespa. Se o primeiro rali pós crise do coronavírus foi puxado pelo investidor nacional, este novo viria em decorrência do dinheiro de quem não mora no País.

“Se passarmos projetos como a reforma administrativa com certeza podemos ver a Bolsa subindo mais graças ao dinheiro que vem de fora”, destaca.

Mais no curto prazo, outra questão que mexe com os mercados e pode levar a uma maior aversão ao risco, consequentemente afetando mais os emergentes, é a preocupação com o aumento de casos de coronavírus no mundo (incluindo no Brasil, veja mais clicando aqui). Ontem, a decisão de Nova York de fechar escolas por conta da aceleração do número de casos afetou fortemente os ativos, fazendo o Ibovespa cair 1,05%.

Enquanto os investidores ficam divididos entre o otimismo com uma vacina próxima e os temores com a segunda onda, que pode levar a novas restrições de mobilidade e afetar a atividade econômica pelo globo, a volatilidade deve ser a palavra de ordem nos mercados, como observado na sessão da última quarta.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.