Segunda onda da pandemia no Brasil pode ter chegado — e ser mais preocupante do que a primeira

Contágios e mortes estão com maior tendência de alta desde maio. Especialistas ouvidos pelo InfoMoney mostram o que motiva possível segunda onda no país

Allan Gavioli Mariana Fonseca Priscila Yazbek

Coronavírus no Brasil (Fonte: Getty Images)

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SÃO PAULO — A segunda onda da pandemia do novo coronavírus pode já ter chegado ao país — e ser mais preocupante do que a primeira.

As últimas checagens sobre casos, internações e óbitos endossam a visão de que podemos estar em uma segunda onda. Um dos levantamentos indica as maiores tendências de alta em contágios e mortes desde o mês de maio, por exemplo. Outras notificações mostram o aumento nas internações por conta da Covid-19.

O InfoMoney reuniu esses dados e conversou com especialistas para entender o que motiva esta possível segunda onda no Brasil — e como devemos encarar casos, óbitos e internações.

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“Se não conseguirmos mudar as atitudes, pode ser que tenhamos uma situação muito pior. Não dá para ter vida normal sem antes combinar com o vírus”, afirmou Natalia Pasternak, PhD em Microbiologia e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

Natalia evita usar o termo segunda onda, no entanto, porque diz que o Brasil não chegou a sair realmente da primeira onda. “Mas temos um segundo pico muito preocupante, sim”, diz.

O Dr. Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também acredita que os recentes dados sobre aumentos de internações nos hospitais podem sinalizar uma segunda onda, ou pelo menos um “repique da primeira onda”. Contudo, os números precisam de um acompanhamento maior para que alguma conclusão seja tomada.

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Kfouri alerta para uma “conhecida subnotificação de casos no Brasil”, além de notificações atrasadas e acumuladas. Como o número de casos varia de acordo com a disponibilidade e eficácia da testagem, é preciso olhar mais para o número de mortes e de internações. “É difícil fazer previsões concretas. Os dados das próximas semanas vão dar uma ideia se esse crescimento que estamos vendo é sustentado ao longo dos dias, que é o que caracteriza um real aumento.”

O médico afirma que qualquer nova atualização sobre a pandemia deve ser encarada regionalmente, diante da extensão do território brasileiro. “Temos centenas de momentos epidemiológicos diferentes ao mesmo tempo. O que acontece em Manaus certamente não é o que ocorre em São Paulo ou em Florianópolis. Mesmo dentro das cidades, vemos disparidades grandes nos números.”

Alta em contágios, mortes e internações

Um novo levantamento da situação da pandemia em casos e óbitos foi divulgado nesta terça-feira (17) pelo consórcio de imprensa que une os veículos G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL. A pesquisa foi feita a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.

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Em número de casos, o consórcio afirma que 5.909.002 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, sendo que 32.262 desses casos foram confirmados nesta terça-feira (17). A média móvel nos últimos sete dias foi de 29.674 novos diagnósticos por dia, avanço de 71% em comparação à média de 14 dias atrás, o que indica uma tendência de alta nos contágios por Covid-19. Esta é a maior alta registrada desde o mês de maio.

O Brasil teve 676 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 166.743 óbitos desde o começo da pandemia. A média móvel de mortes no Brasil nos últimos sete dias foi de 557, a maior desde o dia 12 de outubro. A variação foi de 45% em relação aos óbitos registrados na média há duas semanas. Esse também é o maior crescimento percentual registrado desde o mês de maio.

Os veículos de imprensa ressaltam que a variação pode ter sido grande porque houve uma queda de registros há 14 dias, por conta do Dia de Finados. Mesmo assim, quase 30 mil casos e 550 óbitos como média nos últimos sete dias seriam “dados preocupantes”. 14 estados brasileiros registraram alta no número de mortes, enquanto oito deles, mais o Distrito Federal, viram estabilidade – quatro tiveram queda.

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Médicos pedem lockdown em São Paulo

São Paulo prorrogou a quarentena até 16 de dezembro, acompanhando um aumento nas internações. Segundo a Folha de S.Paulo, os hospitais municipais tinham 693 internados em decorrência da Covid-19 no dia 13 de novembro (última sexta-feira). As internações cresceram ao longo dos dias e chegaram a 814 nesta terça-feira.

O Governo de São Paulo afirmou, também na terça-feira, que as taxas de ocupação dos leitos de UTI são de 48,2% na Grande São Paulo e 42,7% no Estado. Na sexta-feira, as taxas eram de 45,2% na Grande São Paulo e 41,4% no Estado.

Ainda de acordo com o jornal, um grupo de infectologistas de São Paulo enviou uma carta a amigos para alertá-los de um “aumento expressivo de casos de Covid-19 nos hospitais de São Paulo”. As instituições de saúde estariam completamente lotadas por conta de aumento de “100%” em alguns serviços.

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Na carta, os médicos recomendam novamente praticar o isolamento domiciliar. “Não ir a bares, restaurantes e festas. Não organizem encontros ou eventos sociais. Acreditamos que vocês estejam cansados de tudo isso, mas lembrem-se que nós estamos MUITO mais…. e ainda estamos vendo pessoas morrerem, famílias inteiras contaminadas, e os casos aumentando progressivamente sem nenhuma medida sendo tomada por parte dos governos”, escrevem.

O Jornal Nacional, noticiário da TV Globo, afirmou que o aumento de internações também pode ser visto em hospitais privados. O Albert Einstein, em São Paulo, tinha visto uma média de 50 a 55 pacientes internados por Covid-19 nos últimos três meses. O número começou a subir e foi para 68 na última sexta-feira (13). A ocupação de leitos por conta da doença chegou a 93 nesta terça-feira.

Segundo pico

Mesmo ressaltando que o Brasil nunca superou a primeira onda, Pasternak reforça que o país enfrenta um segundo pico alarmante da doença.

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A PhD em Microbiologia e diretora-presidente do IQC usa como base para a afirmação o fato de a taxa de transmissão (RT) estar maior do que 1 desde o dia 11 de novembro. Esse número permite estimar como a doença se espalha na população, espelhando quantas pessoas serão contaminadas a cada novo infectado. Quando fica maior do que 1, isso significa que o número de casos tende a aumentar.

O Imperial College, universidade de Londres focada em ciência, engenharia e medicina, voltou a classificar a epidemia no Brasil como “fora de controle”, ao também constatar que a taxa de transmissão está maior do que 1. No final da semana passada, o instituto colocava a RT do país por volta de 0,94. A nova taxa coloca o país em situação semelhante a regiões europeias que passam pela segunda onda atualmente, como Itália, Portugal e Reino Unido.

O pico da pandemia, ou maior média móvel de mortes, foi registrado em 25 de julho, com 1.097 óbitos. Mas, para a pesquisadora, o Brasil pode acabar vivenciando um cenário mais alarmante em uma segunda onda.

Questionada se o país pode chegar a registrar números de óbitos diários superiores aos registrados no período de pico, em julho, ela respondeu: “Isso não dá pra saber, o atendimento médico melhorou muito. Mas se os hospitais lotarem, as pessoas morrem por falta de atendimento adequado.”

Ela acrescenta que, mesmo que tenhamos desenvolvido um aprendizado médico melhor do que no começo das infecções, o que garantiria um tratamento melhor e com menor mortalidade, as pessoas estão cada vez mais exaustas das medidas de isolamento social.

“Prevejo um segundo pico de infecções muito preocupante, movido principalmente pelos mesmos motivos que causaram a onda na Europa: fadiga psicológica”, diz Pasternak. A PhD diz que escolas de São Paulo que estão fechando novamente porque os alunos estão se contaminando fora do ambiente de ensino — em encontros, festas e reuniões.

“Alunos pegando o vírus fora da escola e colocando toda a instituição de ensino em risco é um dado interessante, porque mostra que o maior problema está realmente no comportamento das pessoas, que já não querem mais cumprir as medidas preventivas”, diz Pasternak. “O vírus não está exausto. Ele está muito bem — e não foi a lugar algum.”

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Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.