Entre concentração e “dilema” no mercado de carros: o que explica as recentes estratégias das grandes locadoras

Enquanto consultoria atribui alta dos aluguéis de veículos à notícia de fusão Localiza-Unidas, BBI vê conjuntura de mercado com falta de carros

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A falta de carros novos por problemas de produção com a falta de componentes coincidindo com a expectativa pela fusão entre a Localiza (RENT3) e a Unidas (LCAM3) pode levar os investidores a questionarem: o que realmente está impactando o setor das locadoras de veículos e os preços praticados pelas companhias? Eventos e análises recentes podem ajudar a elucidar temas importantes para o setor.

Conforme destaca o Bradesco BBI em relatório, na última terça-feira (10), o banco e outros analistas participaram de reunião com Juan Ferrés, fundador da Ferrés Economia e responsável pelo parecer encomendado pela Movida (MOVI3) contra a fusão entre Localiza e Unidas apresentado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A Ferrés Economia alega que a fusão entre Localiza-Unidas pode gerar uma concentração de mercado de mais de 70% e que somente o anúncio da combinação de negócios já estaria impactando negativamente os consumidores. Isso por conta do aumento dos preços das diárias no segmento de aluguel de carros, levando em conta que as empresas não têm nenhum incentivo para competir uma com a outra.

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De acordo com o relatório, a consultoria destaca que a Localiza não está cortando os preços do aluguel de carros, apesar dos ganhos acima da média com as vendas de carros usados, o que acontece historicamente no setor. Desta vez, tanto a Localiza quanto a Unidas decidiram aumentar seus preços diários de aluguel de veículos.

Além disso, para minimizar o risco de restrições que possam ser impostas pelo Cade, ambas as empresas estariam focando na divisão de Gestão de Frotas, em que a participação combinada de mercado é de cerca de 35%, ante 75% de aluguel de carros.

Para a consultoria, remédios antitruste não seriam suficientes para estimular a competição. A avaliação é de que vender ativos para a Movida impactaria a empresa resultante da combinação das duas no curto prazo, mas seria possível recuperar rapidamente a frota vendida com grandes descontos.

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Além disso, vender ativos para o terceiro (atualmente quarto) player do setor não seria  suficiente para equilibrar o mercado. Já vender os ativos de locação de carros de uma das partes envolvidas não produziria os resultados desejados a longo prazo, dada a capacidade da empresa resultante de se recuperar rapidamente. Os limites para aquisições de ativos, por sua vez, acabariam prejudicando os consumidores.

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Na avaliação do BBI, por sua vez, os recentes aumentos de preços estão relacionados com a alta dos preços dos
automóveis novos e o aumento das taxas de juro no Brasil.

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“A Localiza é o marcador de preço no mercado de locação de veículos e sua decisão de aumentar os preços para preservar o retorno do capital investido permitiu que locadoras de veículos menores seguissem o exemplo”, afirmam Victor Mizusaki, Andre Ferreira e Pedro Fontana, analistas que assinam o relatório do BBI. O cenário-base do banco é de que o Cade aprove a fusão Localiza-Unidas com restrições.

Falta de carros novos: o que fazer?

Tratando sobre o mesmo tema, ainda que por um outro ângulo, o Bank of America reforça que, em um cenário de falta de carros novos, as locadoras também têm enfrentado um dilema.

“As locadoras de veículos devem aceitar preços de carros mais altos agora, aumentar drasticamente o capital investido e adicionar pressão ao ROIC [Retorno sobre o Capital Investido] de longo prazo? Ou devem desacelerar as compras, abrir mão do crescimento, carregar uma frota mais velha e aceitar margens de curto prazo mais baixas?”, questionam os analistas.

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O BofA aponta que a Localiza e a Movida têm feito diferentes estratégias, em um movimento que deve ser acompanhado de perto pelos investidores do setor, já que é muito significativo em capital intensivo.

A Localiza tem mantido um baixo volume de compra de veículos em 10% da frota total, enquanto a Movida  acelerou para 19% da frota total, aceitando preços de carros mais altos.

“Em nossa opinião, a abordagem da Localiza pode reduzir as margens de curto prazo (com maiores custos de manutenção), enquanto a Movida pode pressionar o ROIC de longo prazo (por conta do maior capital investido)”, avaliam.

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Ambas as empresas estão entregando atualmente um ROIC sólido (de 14% para Localiza e de 10% para Movida), mas esses números são impactados pelo transitório vento a favor das fortes vendas de carros usados. Se as margens de vendas de carros usados ​​anormalmente altas forem excluídas, estima-se um ROIC de 11% para a Localiza e de 7% para Movida. Eles também avaliam que o retorno sobre o capital investido da Localiza está crescendo marginalmente, enquanto está diminuindo para a Movida.

Os analistas acreditam que ainda é muito cedo para dizer ao certo qual será a estratégia vencedora. Ainda assim, veem duas questões pressionando os preços dos veículos para aluguel de veículos: i) fatores como câmbio e matérias-primas aumentando os preços de lista; e ii) fatores transitórios como gargalo de produção reduzindo o desconto nos preços de lista.

“À medida que este último desaparece (e o momento para isso é um ponto de interrogação), acreditamos que as locadoras de veículos possam ser capazes de renovar a frota em melhores condições. Além disso, vemos ventos contrários adicionais para retornos, incluindo taxas mais altas e depreciação normalizada”, avaliam.

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Assim, dado o perfil, os analistas veem como mais positiva a abordagem conservadora da Localiza de focar no retorno.

“Ao mesmo tempo em que mantemos nossa visão positiva sobre o setor, percebemos um cenário cada vez mais desafiador para a locação de veículos. Embora a abordagem da Localiza possa decepcionar as expectativas do mercado em volumes e margens de curto prazo, a história nos mostra que uma abordagem conservadora com foco em retornos de longo prazo é geralmente a melhor opção no setor. Por outro lado, o impulso sólido dos lucros da Movida pode ser seguido por uma compressão do ROIC”.

Cabe ressaltar que o resultado do segundo trimestre de Localiza decepcionou os investidores, enquanto os da Movida animaram o mercado (veja mais clicando aqui).

O BofA possui recomendação de compra para a Localiza, com preço-alvo de R$ 78 (potencial de valorização de 36% em relação ao fechamento de terça) e neutra para Movida, com preço-alvo de R$ 24 (ou potencial de alta de 15% em relação à terça)

O Bradesco BBI, por sua vez, mantém recomendação de compra para Movida (preço-alvo de R$ 32, com upside de 54%), Localiza (com preço-alvo de R$ 86, ou upside de 50%) e Unidas (com preço-alvo de R$ 39, ou upside de 54%).

Eles destacam dois motivos: i) apesar da escassez de semicondutores, leasings operacionais para pessoas físicas podem acelerar o crescimento do aluguel de carros da indústria brasileira; e ii) os preços-alvo para Localiza e Unidas já incorporam
potenciais restrições de fusões e aquisições a serem impostas pelo Cade.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.