Embraer (EMBR3) sente impacto de problemas na cadeia de suprimentos, mas analistas projetam 4º tri melhor; ação cai 6,1%

Companhia reafirmou guidance, buscando no 4T22 fazer a entrega de aeronaves para chegar pelo menos na parte inferior do planejado para 2022

Lara Rizério Augusto Diniz

Reprodução / OGMA

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Em uma sessão de extremos para o Ibovespa, a ação da Embraer (EMBR3) registrou queda de 6,10%, a R$ 13,08, nesta segunda-feira (14), após os resultados do terceiro trimestre de 2022. Na mínima do dia, contudo, a baixa chegou a ser de 9,12%, a R$ 12,66.

A companhia reportou prejuízo líquido ajustado de R$ 93,8 milhões no terceiro trimestre, ante perdas de R$ 179,7 milhões no mesmo período do ano passado, uma retração de 47,8%. De julho a setembro, a Embraer apresentou prejuízo líquido atribuído aos acionistas de R$ 160,4 milhões, 31,5% menor que o de R$ 234,2 milhões um ano antes conforme balanço enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta segunda-feira, 14.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recuou 25%, para R$ 282,1 milhões no terceiro trimestre, ante R$ 380,7 milhões em igual intervalo do ano passado. Com isso, a margem Ebitda foi de 5,8% no período, ante 7,6% um ano antes.

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No critério ajustado, o Ebitda foi de R$ 485,4 milhões de julho a setembro, 18% maior do que os R$ 410,7 milhões no mesmo intervalo do ano passado. Com isso, a margem Ebitda ajustada foi de 10% no terceiro trimestre, ante 8,2% um ano antes.

Já o fluxo de caixa livre ajustado no trimestre foi R$ 586,7 milhões negativos devido às necessidades de capital de giro.

Apesar da queda na sessão para os papéis, a visão foi distinta para os balanços. O Goldman Sachs ressalta que a companhia reportou receita, Ebitda e fluxo de caixa livre do terceiro trimestre abaixo do consenso, mas reiterou as expectativas de entrega para todo o ano (4T ponderado) e elevou o guidance de fluxo de caixa livre.

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A carteira de pedidos ficou estável sequencialmente no trimestre. A Embraer atualizou a projeção de Fluxo de Caixa Livre para 2022, passando de US$ 50 milhões ou mais para uma projeção de US$ 150 milhões ou mais para o ano. Todos os outros elementos das projeções de entregas e dados financeiros da companhia se mantiveram.

O JPMorgan apontou que o Ebitda ficou 29% abaixo da sua estimativa, enquanto a receita líquida ficou 33% abaixo do que esperava. Outro destaque negativo foi o fluxo de caixa livre devido ao maior capital de giro, refletindo o aumento esperado nas entregas no trimestre,.

Já do lado positivo, as margens bruta e Ebitda ficaram acima do esperado pela casa. Além disso, reafirmar o guidance de 2022 implica em entregas no segmento comercial de 33 aeronaves durante o trimestre, levando a uma receita agregada de US$ 1,9 bilhão (versus estimativa do JP de US$ 1,79 bilhão).

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O Bradesco BBI ressalta que a interrupção da cadeia de suprimentos limitou a produção de aeronaves e a margem bruta da empresa teve queda 3,8 pontos percentuais no trimestre (estável no ano).

Além disso, também destacou que a companhia apresentou fluxo de caixa livre negativo no 3T22, impulsionado por maiores necessidades de capital de giro mas que, analisando mais profundamente os estoques, houve um aumento de US$ 869 milhões no trimestre anterior para US$ 1,104 bilhão no 3T22.

“Achamos que esse aumento significativo sugere que a Embraer deve ver fortes resultados no 4T22, caso a empresa não enfrente nenhuma  questão sobre a cadeia de suprimentos. Em nossa opinião, isso explica a decisão da Embraer de aumentar seu guidance de fluxo de caixa livre para 2022”, aponta o BBI.

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Na apresentação dos resultados do 3T22 a analistas de mercado nesta segunda, a companhia buscou dissipar as dúvidas de que não atingiria o guidance de 2022 de entrega de aeronaves. Executivos voltaram a reafirmar a meta, apesar do prazo curto e os desafios persistentes na cadeia de suprimentos.

“Temos notado preocupação do mercado para as entregas do ano inteiro, mas nós continuamos reafirmando o nosso guidance de 2022”, disse Antonio Garcia, CFO da Embraer. “Apesar do cenário desafiador, devemos permanecer na parte inferior do guidance de mercado. Ou seja, 60 aviões para aviação comercial e 100 aviões para aviação executiva”, complementou.

O guidance para 2022 é de 60 a 70 entregas de aeronaves de aviação comercial, e de 100 a 110 entregas de aeronaves para aviação executiva.

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Francisco Gomes, CEO da Embraer, comentou ainda que a empresa se concentrará nas entregas de aeronaves nesse final do ano. Segundo o executivo, já se sabia das dificuldades a serem enfrentadas e a companhia tem focado em programas de eficiência para ajudar a mitigar restrições de fornecimento.

“O foco da empresa tem sido mitigar esse problema (na cadeia de suprimentos) e entregar resultados sólidos. Para os próximos anos vislumbramos uma perspectiva melhor em termos de receita e do crescimento da rentabilidade”, ressaltou.

Gomes complementou que há vários pedidos de entregas em 2023 e 2024, tanto para aviação comercial como executiva, que já preenchem quase toda a capacidade da companhia. Segundo o relatório do 3T22, o backlog de pedidos firmes no período atingiu US$ 17,8 bilhões, um dos maiores desde o início da pandemia.

Goldman Sachs, Bradesco BBI e JPMorgan possuem recomendação equivalente à compra para os ADRs (American Depositary Receipts, na prática, os ativos negociados na Bolsa americana pela companhia) ERJ, com preço-alvo de US$ 16 do Goldman (potencial de valorização de 54%) e de US$ 22 do BBI (upside de 112%).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.