Eletrobras (ELET3): decisão do TCU é revés para o governo e dificulta, mas não barra privatização, dizem analistas; ações fecham em queda

Tribunal de Contas da União decidiu adiar julgamento sobre segunda fase da privatização em até 20 dias em meio à pedido de vista

Lara Rizério

(Eletrobras)

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A votação da segunda etapa do processo de capitalização da Eletrobras (ELET3;ELET6), que tratava sobre a modelagem e o novo modelo societário da empresa e tramitava no Tribunal de Contas em sessão realizada em 20 de abril, foi suspensa por 20 dias. Com isso, o Tribunal potencialmente retomará a votação apenas no dia 11 de maio, o que atrasa a oferta de ações proposta, já que os arquivamentos terão que ser feitos com os resultados do primeiro trimestre de 2022 (1T22), que estão previstos para 16 de maio.

O plano da empresa e do governo era realizar a oferta em maio para evitar volatilidade adicional perto das eleições de outubro.

Esse atraso potencialmente move a oferta de capitalização proposta para o segundo semestre de 2022, mais próximo das eleições de outubro, o que pode gerar volatilidade adicional aos mercados.

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Como já era esperado, o ministro Vital do Rêgo pediu vista do processo, o que desencadeou uma longa discussão entre os ministros sobre o prazo para que a operação deveria voltar à pauta.

Inicialmente, Vital disse que precisaria de 60 dias para analisar melhor o caso. No entanto, após outros ministros proporem encurtar o período de devolutiva para sete dias, acabou aceitando o prazo regimental de 20 dias.

Com isso, o processo retornaria ao plenário em um período que inviabiliza o cronograma ideal do governo para a realização da oferta de capitalização.

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Para a oferta sair em 13 de maio, o TCU teria de dar o aval à privatização até 27 de abril. Segundo uma fonte ouvida pela Reuters, o governo não trabalha com a hipótese que Vital do Rêgo devolva o processo até lá. Já outra fonte disse acreditar que, apesar do adiamento, a privatização será realizada ainda este ano.

O Executivo vinha defendendo que a janela ideal para realizar a operação era a do primeiro semestre, já que os investidores costumam se retrair com a proximidade das eleições, seja por aumento da percepção de incerteza, seja por restrições internas de fundos de investimentos.

“Lembramos que, embora não tenhamos visão sobre o sucesso do processo, reconhecemos que um cenário de capitalização bem-sucedido pode gerar valor significativo para a Eletrobras”, avaliam os analistas do Goldman Sachs.

Os analistas do Goldman permanecem com recomendação de compra das ações ELET3 e ELET6 com preço-alvo respectivo de 12 meses de R$ 46 (potencial de alta de 9% em relação ao fechamento de quarta) e de R$ 51 (upside de 21%), pois ainda veem vantagens em seu cenário-base. Os principais riscos incluem qualquer resultado referente a empréstimos compulsórios que ultrapasse o valor contábil atual, hidrologia pior do que o esperado, preços de energia de longo prazo abaixo de suas estimativas de R$ 170 por megawatt/hora (MWh) e custos gerais e administrativos recorrentes acima do esperado. “Finalmente, notamos que a empresa tem um fluxo de caixa muito estável e de baixo risco durante os próximos 9 anos”, avaliam.

Contudo, o cenário de capitalização implica em um potencial maior para os ativos, com projeção de R$ 65 a R$ 67,60 por ação ELET3 (ou potencial de alta entre 54% e 60%) e R$ 71,80 e R$ 74,60 para ELET6 (ou upside entre 70% e 76,5%), desbloqueando um valor muito maior.

Mais dificuldades, mas ainda a privatização é possível

Um gestor ouvido pelo InfoMoney e que acompanha a operação de perto já destacava que o cenário-base era de um pedido de vista de vinte dias por parte do TCU, o que poderia adiar a oferta para meados de agosto. Segundo ele, o adiamento não inviabilizaria a operação, mas tornaria a oferta mais incerta, a depender das condições de mercado durante o mês e ainda mais levando em conta a aproximação das eleições.

A Levante Ideias de Investimentos aponta que, nos bastidores do Ministério da Economia, entende-se que a concretização da desestatização está no limite de sua viabilidade, mas ainda há esperança de que a companhia seja vendida. Não há impeditivos legais para que a Eletrobras seja privatizada na janela entre junho e agosto, porém a proximidade com
as eleições e o calendário do hemisfério Norte são dois fatores que podem esvaziar a demanda pela operação.

Cabe destacar que as ações da Eletrobras fecharam em forte alta, de 3,94% para ELET3 e de 4,60% para ELET6, no pregão da última quarta, mas a sessão do TCU ainda não havia acabado. “Os mercados se animaram com a formação de maioria virtual pela venda da estatal, entretanto não puderam antever que o pedido de vistas seria de vinte dias – e não apenas sete, como gostaria o Executivo”, ressalta a Levante.

Nesse sentido, e também repercutindo o dia negativo do mercado em geral, as ações tiveram uma sessão de queda nesta sexta. Os ativos ELET3 fecharam em queda de 4,95%, a R$ 40,11, enquanto ELET6 teve baixa de 3,97%, a R$ 40,59.

“Quanto à própria privatização, o adiamento da análise no TCU pode ser considerado uma derrota para o governo, que agora terá de lidar com a real possibilidade de não haver, no mercado, apetite suficiente para a realização da oferta de ações”, avalia a casa de research.

Guedes e Bento Albuquerque veem privatização em 2022

Ministros do governo, contudo, seguem demonstrando otimismo com a operação. Ontem, em Washington, Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou acreditar que a “privatização da Eletrobras vai ocorrer neste ano, muito em breve”.

Ele apontou que “quer acreditar” que o Tribunal de Contas da União está na reta final das análises sobre o processo de desestatização da companhia. “Estou muito confiante de que vai dar certo”, afirmou.

O ministro destacou que a capitalização da Eletrobras é um passo importante para a segurança energética do Brasil. De acordo com ele, a companhia precisa investir R$ 15 bilhões por ano para manter a fatia de mercado, mas apenas pode aplicar R$ 3 bilhões por ano.

Na mesma linha, nesta sexta, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que o governo continua planejando capitalizar a Eletrobras neste ano.

“Acredito que a decisão do TCU sobre Eletrobras foi avanço no processo, porque o relator apresentou seu voto e os demais ministros debateram. O cronograma para capitalizar a Eletrobras era até o fim de abril, mas esse atraso de 20 dias levará a um ajuste”, afirmou Albuquerque, em entrevista coletiva virtual.

O ministro reiterou que, com a mudança de data, a modelagem da oferta de ações da empresa terá que considerar também os resultados da Eletrobras no primeiro trimestre deste ano. “Com o trabalho do TCU, faremos oferta de ações da Eletrobras ainda no primeiro semestre ou no começo do segundo semestre, em julho”, completou o ministro.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.