Eleições nos EUA podem ser adiadas? 7 pontos para o mercado monitorar após Trump pegar Covid-19

Diagnóstico positivo para a doença tem forte impacto na campanha de Trump em um momento em que ele tem pouco tempo para reverter sua desvantagem

Rodrigo Tolotti

(Drew Angerer/Getty Images)

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SÃO PAULO – Faltando praticamente um mês para a eleição e atrás nas pesquisas com uma diferença considerável, o presidente Donald Trump vê sua campanha ficar bastante prejudicada após a confirmação de que ele e sua mulher, Melania Trump, testaram positivo para a Covid-19.

O chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, informou que o republicano está com “sintomas leves”, mas mesmo assim, esta novidade terá grande impacto na campanha de reeleição.

Por hora, ele segue fazendo seu trabalho, mas em isolamento. Meadows afirmou que está otimista que o presidente terá uma recuperação rápida.

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“O povo americano pode ficar tranquilo que temos um presidente que, não só está no trabalho, mas que permanecerá no trabalho. E estou otimista que ele terá uma recuperação bastante rápida”, afirmou o chefe de gabinete a jornalistas na Casa Branca.

Apesar do bom quadro neste momento, é preciso lembrar que Trump está no grupo de risco do coronavírus, e por mais de um fator, o que torna sua situação delicada.

Levando em conta as incertezas que devem afetar ainda mais a volatilidade do mercado, o InfoMoney listou os 7 pontos que serão acompanhados de perto pelos investidores. Confira abaixo:

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Grupo de risco

Trump tem 74 anos e está acima do peso, o que aumenta a preocupação sobre ele, principalmente se os sintomas piorarem. O presidente nunca permitiu a divulgação de informações sobre sua saúde, e há muita especulação sobre o assunto, mesmo antes da pandemia.

Em novembro do ano passado, o republicano foi ao hospital militar Walter Reed sem aviso prévio, o que levantou suspeitas de que ele tinha problemas de saúde. A Casa Branca afirmou que eram exames de rotina, mas não deu detalhes.

Segundo Pedro Costa Junior, cientista político e professor de Relações Internacionais da FACAMP, a intensidade dos sintomas que Trump desenvolver será bastante importante.

“A campanha está diretamente relacionada com o desenvolvimento desta enfermidade”, afirma ele ressaltando que apesar do impacto ser negativo de qualquer forma para o presidente, em caso de piora os efeito eleitoral pode ser ainda pior do que uma questão de saúde.

Impacto na imagem

Desde que a notícia da infecção de Trump foi divulgada, um dos principais pontos comentados é a forma como ele tratou a doença até agora, minimizando seus impactos.

Um dos temas do primeiro debate, ocorrido na última terça, a pandemia do coronavírus é vista pelo eleitorado como um dos dois principais temas de preocupação, junto com a economia.

Durante o encontro, o presidente discutiu bastante com seu adversário, Joe Biden, sobre a forma como o governo tem agido contra a doença, chegando a criticar o democrata por ele estar usando máscara “o tempo todo”.

Além de ser visto muitas vezes sem máscara, Trump tem realizado comícios com presença de público e eventos na Casa Branca com aglomeração, como ocorreu na convenção do partido republicano para confirmar sua candidatura. Do outro lado, Biden tem usado o equipamento de proteção constantemente e seu partido tem dado preferência para eventos virtuais apenas.

Ter testado positivo dificulta a argumentação do atual presidente de que tem agido da forma correta na pandemia, o que pode afastar o eleitorado indeciso e que tem maior preocupação com a questão de saúde.

Sobre a possibilidade de um efeito positivo para Trump nas pesquisas, com um voto de “simpatia” dos eleitores, Cailin Birch, economista global da Economist Intelligence Unit afirmou à CNBC que não vê um impacto nos números a favor de nenhum dos dois candidatos neste momento.

“Há definitivamente uma possibilidade de que possamos ter um voto de simpatia por Trump. Mas […] eu não tenho certeza, dada a sua abordagem do vírus […] além do fato de que o espectro político dos EUA está tão profundamente polarizado e entrincheirado, para ter qualquer tipo de impacto real”, avalia.

Campanha “paralisada”

Com o teste positivo para a Covid-19, Trump agora fica em isolamento total na Casa Branca e já começou a cancelar sua agenda dos próximos dias, como a viagem que faria para a Flórida nesta sexta.

Além disso, ele tinha um comício programado para o sábado, em Wisconsin, e outro para a segunda-feira, no Arizona, ambos também cancelados.

Com isso, o republicano praticamente paralisa sua campanha – que continua pelas redes e com eventos não-presenciais – faltando pouco tempo para a eleição.

Como lembra Victor Scalet, analista político da XP Investimentos, Trump aparece com uma margem entre 6 e 7 pontos atrás nas mais recentes pesquisas eleitorais e só tem 30 dias para reverte este quadro.

Debates

Diante disso, se discute agora também o que acontece com o segundo debate eleitoral, marcado para daqui duas semanas, dia 15 de outubro. A Comissão que cuida dos debates ainda não se pronunciou, mas há o risco do encontro ser cancelado.

A questão, porém, é difícil de ser definida neste momento porque em casos mais brandos da Covid-19, pacientes conseguiram voltar a testar negativo em cerca de 14 dias após a infecção, o que daria tempo – ainda que no limite – para Trump participar do encontro. Por outro lado, em situações mais complicadas, com piora do quadro de sintomas, pacientes podem demorar mais para melhorarem.

Vale lembra ainda que na próxima quarta-feira (7), ocorre o debate entre os vices, Mike Pence e Kamala Harris, que devem tratar do tema da pandemia e provavelmente discutirão a infecção de Donald Trump.

O que acontece agora?

Em um primeiro momento, no dia-a-dia do governo americano, pouca coisa muda, já que Trump segue despachando e realizando suas atividades em isolamento.

Em relatório publicado no início do ano, John Hudak, vice-diretor do Centro de Gestão Pública da Brookings Institution, já havia apontado os cenários para “proteger o presidente, a integridade do cargo e a continuidade de governo” no caso de um teste positivo de Covid-19.

Hudak disse que o teste, por si só, não seria motivo para uma ação emergencial. Em vez disso, Trump “provavelmente seria capaz de continuar suas atividades diárias e gerenciar o escritório sem ser perturbado ou com desafios moderados”.

Por outro lado, ele já apontava que isso poderia criar alguns desafios para aqueles ao seu redor. “A necessidade de proteção do Serviço Secreto 24 horas por dia pode colocar os agentes em risco. Mas, com a tecnologia, o presidente poderia se colocar em quarentena e ter contato remoto ou suficientemente distante da maioria, senão de todos os assessores, incluindo o(s) indivíduo(s) que estariam envolvidos no briefing diário presidencial”, disse Hudak.

E se Trump piorar?

Caso o presidente tenha sintomas mais fortes e precise parar de trabalhar ou mesmo ser internado, o cenário muda bastante. Como aponta Carlos Gustavo Poggio, doutor em Relações Internacionais e professor da FAAP, o primeiro ponto já neste momento é que há uma preocupação para garantir a saúde do vice-presidente Mike Pence e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, os próximos da linha sucessória.

Na sequência, a Constituição dos Estados Unidos tem em sua 25ª emenda os pontos que tratam do que é feito em caso de incapacitação do presidente.

“Se Trump souber com antecedência q será internado, ele deve invocar a seção 3 da 25ª emenda q diz q o presidente deve enviar uma declaração escrita ao Congresso dizendo q estará incapaz de exercer suas funções. Nesse caso, o vice assume até o presidente retomar suas condições”, explica Poggio.

Este dispositivo já foi utilizado outras vezes. Em 2002 e 2007, o então presidente George W. Bush invocou esta emenda quando realizou operações que exigiam anestesia geral.

Se Trump se afastar de forma emergencial e não tiver condições de escrever essa declaração, seria invocada a seção 4 da 25ª emenda: o vice e os secretários de Trump enviam a mensagem ao Congresso de que o presidente está incapacitado, e o vice assume. Quando ele se recuperar, ele informa o Congresso e retoma suas atividades. Esta seção nunca foi usada.

As eleições podem ser adiadas?

Além das dificuldades já enfrentadas pelos eleitores por conta da pandemia, um possível afastamento de Trump tornaria o processo eleitoral americano bastante complicado este ano.

Segundo disse ao Washington Post Richard Pildes, professor de direito da Universidade de Nova York, se Trump ou Biden não puderem continuar candidatos antes da eleição, caberia ao Comitê Nacional de cada partido assumir o controle da campanha, e em caso de morte de um deles, decidir quem seria o novo candidato.

A questão é que já estamos em uma fase mais avançada da campanha, e neste ano, por conta do isolamento, milhões de votos já foram dados pelos correios e esta solução já não parece ser a melhor.

Segundo Poggio, neste cenário, a decisão passaria a ser individual de cada estado, que definiria se aceita os votos como se eles fossem dos delegados do partido, podendo ser transferido para um outro candidato. Neste caso, haveria forte judicialização da eleição, já que a Suprema Corte pode intervir nas decisões.

Em um post publicado em um blog nesta quinta, Rick Hasen, professor de direito da Universidade da Califórnia, disse que achava “difícil acreditar” que o Congresso aprovaria um projeto de lei para atrasar a eleição presidencial, embora admitisse que era uma possibilidade caso um dos candidatos presidenciais ficasse incapacitado.

“Embora as coisas não sejam certas, o mais provável [é] que a eleição ocorreria dentro do prazo com o nome do candidato falecido ou incapacitado na cédula, e então haveria a questão de se as legislaturas permitiriam que os eleitores de cada estado votassem para alguém que não seja o candidato falecido ”, disse Hasen.

Diante disso, as chances de uma mudança na eleição, principalmente no caso de Trump ficar apenas afastado ou mesmo hospitalizado sem grandes problemas, são pequenas. Mas de qualquer forma, a contaminação do presidente agita ainda mais um processo eleitoral já histórico em 2020.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.