Economistas reduzem projeções para IPCA de 2022, mas notam inflação disseminada e incompatível com metas do BC

Índice de preços segue refletindo redução de ICMS e dos preços dos combustíveis; previsão é de deflação também para setembro

Mitchel Diniz

(Fokusiert/Getty Images)

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A deflação de 0,36% em agosto foi influenciada pelos mesmos fatores que levaram a um recuo de preços em julho: uma queda expressiva (de 2,55%) nos preços administrados, puxada por transportes (-3,37%) e combustíveis (-10,82%). O índice de preços ao consumidor (IPCA) continua refletindo a redução de ICMS sobre itens de peso na sua composição, assim como uma queda no preço dos combustíveis. O indicador destrinchado, contudo, continua apontando para uma inflação muito enraizada e incompatível com as metas, segundo os analistas. A média dos núcleos do IPCA ficou acima do teto das expectativas e a difusão voltou a aumentar.

“A dinâmica inflacionária de curto prazo segue inalterada, com o índice ainda impactado pelos menores preços da gasolina e de alimentos”, afirma João Savignon, economista da Kínitro Capital. A casa prevê mais deflação agora em setembro, mas diz que o cenário continua desafiador para o Banco Central em trazer a inflação para as metas, ainda que o pior momento tenha passado.

“Acreditamos que a atenção do mercado ficará concentrada no ritmo da inflação após a dissipação completa dos efeitos dos cortes de tributos e do movimento recente da gasolina”, escreveu Savignon.

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Na avaliação do Goldman Sachs, apesar da deflação, o IPCA de agosto não traz um horizonte confortável de preços. “Dado à pressão inflacionária alta e disseminada em serviços, além dos núcleos e preços não administrados, que superaram expectativas”, escreveram os analistas do banco.

“O IPCA está em linha com os discursos que os dirigentes do BC tiveram esta semana, que eles ainda estão bastante preocupados com a inflação e que devem mantar a taxa de juros mais alta por mais tempo por causa disso”, afirmou Laíz Caravlho, economista para Brasil do BNP Paribas. O banco prevê uma alta adicional de 25 pontos-base na taxa Selic em setembro.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, avalia que o IPCA de agosto já começou a refletir os efeitos da política monetária apertada do BC.  “Ainda assim, julgamos que mais uma alta de juros em setembro é adequada, dado que os efeitos parecem ocorrer de forma mais lenta que o antecipado”, afirmou.

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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, não crê em previsão de corte dos juros já no primeiro trimestre de 2023. “Se a inflação não desacelerar mais do que o projetado, reforça que o corte dos juros seja mais pra metade do ano que vem”, afirmou.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, observa que a queda do índice está ainda concentrada na gasolina, que recuou 11,64% e, sozinha, representou uma queda de 0,67 ponto percentual do IPCA. “Isso mostra o tamanho da distorção que a gasolina tem feito no índice como um todo. Não fosse a gasolina estaríamos vendo altas no indicador”, afirma. Ele explica que a deflação é motivada por “fatores exógenos à dinâmica de preços em si”, o corte de impostos, mas que ainda há projeção de alta de preços.

“De fato não será 9% de alta o IPCA em 2022, será próximo de 6%, mas será mais 6% sobre uma inflação já bastante elevada”, prevê.

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Mais casas revisaram IPCA para baixo

O BofA acredita que a redução no preço dos combustíveis deve ter menor impacto sobre o número de setembro, que deve apresentar deflação de 0,15%, nas projeções do banco. Os analistas do BofA calculam que os preços devem voltar a subir em outubro, com IPCA de 0,4%. Mas, para o final de 2022, a previsão do banco foi revisada para baixo, de 6,5% para 5,9%.

A XP destaca que a surpresa altista do IPCA de agosto foram os preços industriais, com destaque para higiene pessoal, roupas e calçados. “Itens mais sensíveis a crédito, como automóveis, ficaram perto da estabilidade, refletindo o crédito mais caro”, escreveu a economista Tatiana Nogueira. Ela também ressaltou a aceleração dos núcleos da inflação, que passaram de 0,53% em julho para 0,66% em agosto.

“À frente, continuamos esperando deflação para setembro, em linha com redução de preços de gasolina da Petrobras recentemente e o repasse da queda de impostos defasada em telecomunicação e energia”, afirmou Tatiana. Para o ano, a XP projeta IPCA de 6,1%, considerando reajuste de +5% no preço da gasolina no final do ano.

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Para o Itaú, o IPCA deve encerrar 2022 em 7%, com viés de baixa, diante dos resultados recentes e uma nova deflação prevista para setembro. Para os analistas do banco, o número de agosto mostrou uma “desinflação de industriais ainda errática” e serviços em níveis elevados, mas sem aceleração adicional na margem.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados