Dólar abaixo de R$ 5: para Credit Suisse, real tem espaço para se valorizar ainda mais em 2023

Modelo de projeções para o câmbio do banco ficou em R$ 4,82 para o dólar, sugerindo mais espaço para divisa brasileira subir

Lara Rizério

Notas de real e dólar sendo trocadas (Shutterstock)

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Nas últimas sessões, o dólar comercial tem rondado os R$ 5, levando a uma baixa de cerca de 5,4% da moeda americana no acumulado de 2023.

Em relatório, o Credit Suisse apontou ver espaço para o real se valorizar ainda mais. “Notamos que o desempenho positivo deste ano reverteu apenas parcialmente a depreciação substancial que a moeda sofreu nos últimos anos”, avaliam Solange Srour, Rafael Castilho e Francisco Lima Filho em nota.

Ao longo do primeiro semestre do ano passado, o real também teve um desempenho sólido devido ao alto diferencial das taxas de juros no Brasil e ao aumento dos termos de troca, mas não foi suficiente para reverter a forte queda que
ocorreu em 2020 e 2021. Essa tendência de valorização no primeiro semestre de 2022 foi revertida no fim do ano passado devido à maior incerteza quanto às condições fiscais após as eleições presidenciais do Brasil e um declínio nos termos de troca.

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Apesar da melhoria significativa deste ano, quando comparado com um cesta de 19 moedas emergentes, o real brasileiro continua sendo a quinta pior moeda em termos de desempenho acumulado desde o início da pandemia, ressaltam os analistas.

Esse desempenho negativo pode ser atribuído, em grande parte, a uma combinação de políticas monetárias e fiscais domésticas altamente estimulativas durante os estágios iniciais da pandemia, seguidos por outra expansão fiscal pós-pandêmica (consistindo em transferências de renda e redução de impostos sobre combustíveis e eletricidade)
e maior aversão ao risco nos mercados domésticos. Esse último ponto, na visão dos analistas, é resultado do enfraquecimento do quadro fiscal, principalmente após a aprovação da PEC da transição (que aumentou os gastos em cerca de 2% do PIB).

O Credit destaca a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil na véspera, que decidiu manter a taxa de juros em 13,75% em sua reunião de ontem, o que deverá continuar contribuir para o desempenho positivo do real.

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“No entanto, as incertezas quanto à situação fiscal e a possíveis mudanças no sistema de metas de inflação podem compensar os efeitos benéficos da valorização do real. Se o governo conseguir uma política fiscal sustentável, bem como a aprovação de reformas estruturantes (como a reforma do imposto de consumo), esperamos que haja um impacto construtivo na moeda brasileira”, avalia.

O modelo do banco de projeção para o câmbio – baseado em diferenciais de taxas de juros, prêmios de risco, índices de inflação diferenciais e termos de troca – corrobora a avaliação de que o real tem mais espaço para subir. A previsão do modelo ficou em um dólar a R$ 4,82 em abril, em comparação com seu valor de R$ 5,06 em 23 de abril.

Em relação às “co-variáveis” do modelo, algumas delas mostram uma tendência para desvalorização do real: os termos de troca e os preços das commodities devem recuar levando em conta o cenário de desaceleração da economia mundial; o risco pode subir ainda mais com medidas fiscais adicionais e ajustes no sistema de metas de inflação, que podem fazer com que as
expectativas sejam de uma inflação mais alta; e pode haver queda do diferencial de juros entre Brasil e EUA ainda maior com um possível corte de juros pelo Copom.

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“Por outro lado, além do fraco desempenho geral do real desde a pandemia, o que deixa espaço para melhorias em relação a outros emergentes, o desempenho também depende da tendência de desvalorização do dólar americano ao longo do restante do ano”, aponta o banco.

Ainda assim, as incertezas domésticas da economia brasileira parecem ser o maior impedimento à valorização do real, segundo modelo do banco. “Acreditamos que os fatores a serem monitorados de perto nos próximos meses incluem o potencial de mudanças no sistema de metas de inflação, o desenho final do novo quadro fiscal; como o governo buscará fontes adicionais de receita; e o desenho da reforma do imposto sobre consumo”, finalizam.

O Citi reforça que o dólar encerrou a sessão da véspera ligeiramente abaixo da alça psicológica de 5,00. “Lembrando que o dólar à vista não conseguiu se manter consistentemente abaixo desse nível no passado, sendo negociado entre R$ 5,00 e R$ 5,40 nos últimos três anos. A trajetória técnica do spot tende para uma queda ainda maior. No médio prazo, o carry trade ainda alto do real tornaria esse movimento provável, mas, por enquanto, provavelmente teremos volatilidade. O movimento dependerá dos dados recebidos dos EUA e dos desdobramentos da crise do setor bancário dos EUA e como ambos impactam o dólar mais amplamente”, aponta o banco em nota a clientes.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.