Derivativo de Ethereum deixa criptos sob risco de contágio sistêmico; entenda

A diferença de preço entre o Ethereum e o derivativo Staked Ether saltou para níveis recordes à medida que grandes empresas despejam suas posições

CoinDesk

(Zoltan Tasi/Unsplash)

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Um token conhecido como “Staked Ether” se tornou, de uma hora para outra, o principal foco de traders de criptomoedas que monitoram o estresse nos mercados de ativos digitais, à medida que grandes empresas do setor, como a plataforma de empréstimos Celsius, o fundo Three Arrows Capital e a firma de trading Alameda Research, do bilionário Sam Bankman-Fried, despejam suas posições.

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A métrica principal acompanhada por especialistas é a diferença de preço entre o Staked Ether (stETH), um derivativo de Ethereum (ETH) emitido como um token do protocolo Lido Finance, e o próprio ETH, a criptomoeda nativa da blockchain Ethereum. O stETH deveria, em tese, ser negociado no mesmo preço do ETH, mas não é isso que vem ocorrendo.

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O stETH chegou a ser negociado na mínima recorde de 8% abaixo do preço do ETH na segunda-feira (13), de acordo com dados da Dune Analytics.

Analistas especulam que criadores de mercado (market makers) e plataformas de empréstimos de criptomoedas podem ser forçados a se desfazer de suas posições em stETH para atender a pedidos de saques em massa por seus clientes e atender a chamadas de margem, no caso de posições alavancadas mantidas em corretoras.

O derivativo stETH foi lançado pela plataforma de finanças descentralizadas (DeFi) Lido Finance como uma forma de fornecer liquidez aos traders que estão depositando ETH na rede de testes Beacon Chain do Ethereum.

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Como parte da transição para uma blockchain de Prova de Participação (mecanismo diferente da Prova de Trabalho usado na mineração de Bitcoin), o Ethereum permite que investidores bloqueiem ETH para ajudar a validar as transações na rede de testes. Em troca, eles são remunerados com mais ETH, em processo conhecido como staking.

No entanto, nada (incluindo os lucros) pode ser sacado até que a atualização completa do Ethereum seja concluída. Por isso, para obter liquidez, investidores recorrem a protocolos como o Lido, que oferece intermediação para os depósitos de ETH e emite o token Staked Ether, derivativo que pode ser negociado no mercado ou até mesmo usado como colateral para obter mais empréstimos.

O Lido domina o ecossistema de staking do Ethereum, com cerca de um terço de todos os depósitos de ETH na rede de testes. Em maio, o Goldman Sachs escreveu que tal concentração de depósitos “pode teoricamente aumentar o risco sistêmico” por causa das interconexões do Lido com os mercados de criptomoedas.

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Baleias despejam tokens no mercado

A Celsius, uma plataforma de empréstimos de criptomoedas que está no olho do furacão desde que congelou saques na madrugada de segunda-feira (13) citando “condições extremas de mercado”, detém 409.260 de tokens stETH, no valor de cerca de US$ 470 milhões a preços atuais, de acordo com dados fornecidos pelo Ape Board, um rastreador de portfólio da empresa de análise de blockchain Nansen.

Johnny Louey e Andy Hoo, analistas do Huobi Research Institute, o braço de pesquisa da exchange de criptomoedas Huobi, afirmaram em nota divulgada na terça-feira (14) que a Celsius teve uma perda de quase US$ 71 milhões ao realizar o staking de stETH em uma plataforma que teria perdido as suas chaves – portanto deixado a Celsius sem acesso aos recursos.

Preocupados com a saúde financeira da Celsius, clientes iniciaram uma onda de resgates a um ritmo de cerca de 50.000 ETH por semana, fazendo com que a plataforma lutasse para conseguir liquidez para as operações.

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“O que a Celsius pode fazer é vender seu stETH para comprar ETH no mercado e satisfazer as solicitações dos clientes”, disse Noelle Acheson, chefe de insights de mercado da Genesis, ao CoinDesk.

O problema é que o stETH começou ser negociado abaixo do preço do ETH ainda no mês passado, quando os mercados de criptomoedas foram abalados pelo colapso da rede blockchain Terra (LUNA) e sua stablecoin TerraUSD (UST). Desde então, o stETH passou a operar entre 2% e 3% abaixo do preço normal – quando a UST entrou em colapso, a diferença do stETH  para o ETH chegou a 5%.

Com isso, a capitalização de mercado do stETH caiu de cerca de US$ 10 bilhões no início de maio para US$ 4 bilhões, em movimento impulsionado por investidores que fogem de plataformas de staking à medida que o preço do Ethereum despenca.

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A Three Arrows Capital, um fundo cripto com sede em Singapura que era um dos maiores investidores do projeto Terra, liquidou quase US$ 400 milhões de stETH no protocolo Curve no mês de maio, disse Andrew Thurman, analista da Nansen, ao CoinDesk.

A Three Arrows Capital “chamou a atenção da comunidade nas últimas semanas pela forma na qual eles eles gerenciam sua posição em stETH”, disse Thurman.

Dados da Nansen mostram que uma carteira atribuída ao 3AC retirou 80.000 stETH do protocolo de empréstimos descentralizados Aave (AAVE) ontem, e vendeu 38.900 stETH (cerca de US$ 45 milhões) em duas transações, com preços entre 5,6% e 5,9% abaixo do ETH.

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A medida ocorreu em meio a rumores levantados por usuários no Twitter de que a empresa de investimentos pode estar enfrentando dificuldades financeiras. Representantes da 3AC não responderam a pedidos de comentários do CoinDesk.

Na semana passada, a Alameda Research, uma grande firma de trading ligada ao bilionário Sam Bankman-Fried, fundador e CEO da exchange de criptomoedas FTX, despejou 50.615 stETH, na época avaliados em cerca de US$ 88 milhões.

Crise de liquidez

Além da corrida de saques em grandes plataformas de cripto, um dos grandes motivos pela queda de preço do Staked Ether é a falta de liquidez do token, disse Acheson, da Genesis.

Os investidores estão fugindo de ativos de risco, como criptomoedas, à medida que os mercados financeiros em todo o mundo recuam em resposta aos aumentos das taxas de juros para combater a inflação.

Além de pressionar plataformas cripto que tentam atender aos resgates dos clientes, investidores passam a, cada vez mais, dar preferência a ativos mais líquidos.

O volume diário de negociações de stETH está na casa das centenas de milhares de dólares, em comparação com o volume diário bilhões de dólares do ETH, tornando o preço do derivativo mais sensível à pressão imposta pelo mercado.

“No curto prazo, o stETH enfrentará uma tremenda pressão de venda”, conclui o relatório do Huobi Research Institute.

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