Dados de inflação mais fracos animam mercado, mas cenário continua incerto para Bolsa

Ibovespa teve alívio após PCE nos EUA e IPCA-15 na sexta, mas analistas seguem vendo fontes de incerteza

Vitor Azevedo

(Getty Images)

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A Bolsa brasileira teve, na última sexta-feira (26), um alívio, fechando com alta considerável, após dados macroeconômicos do Brasil e dos EUA sinalizarem que as atividades econômicas dos dois países estão, aparentemente, desacelerando. Com os juros sendo o grande detrator da performance do Ibovespa em 2024, as perspectivas de que o Banco Central (BC) ou o Federal Reserve (Fed) possam ser mais brandos em suas decisões monetárias ajudam a empurrar os ativos de risco. 

Por conta da alta dos juros, small caps, companhias ligadas ao ciclo econômico e as empresas mais alavancadas são as que mais sofrem até agora no ano. As cinco maiores quedas ficam para o Grupo Casas Bahia (BHIA3), a MRV (MRVE3), a CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e Cogna (COGN3). Do outro lado, quem ajuda a evitar uma queda maior são as exportadoras de commodities.

Mas o alívio irá durar? “O mercado acabou ficando bem mais otimista na sexta, tomando mais risco. O que vale observar daqui para frente é a questão do juro americano e o reflexo disso ao redor do mundo. Aqui dentro também, um ponto muito importante é saber se vamos ter um corte de 50 pontos-base da Selic na próxima reunião do Copom ou se a gente vai ter um cenário um pouco mais conservador, de 25 pontos”, avalia Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

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Para ele, o fato de o IPCA-15 ter vindo aquém do esperado na sexta passada – com alta de 0,21%, frente a 0,29% do consenso, e desacelerando na base mensal – ajuda a visão de que o BC pode, na sua reunião de maio, que acontece na próxima semana, realizar outro corte de 50 pontos. 

Nos Estados Unidos, também na sexta, o PCE (índice de preços de gastos com consumo, medida de inflação preferida do Fed) de março ficou dentro do esperado. Com isso, segundo monitoramento do CME Group, a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortar os juros nos Estados Unidos até setembro cresceu um pouco. No monitoramento do CME Group, esta chance avançava a 61,4%, com 38,6% de possibilidade de manutenção.

Cenário ainda incerto

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De forma geral, apesar do otimismo, a visão de especialistas é de que, por enquanto, tudo ainda está muito incerto. “Conforme vão saindo indicadores econômicos, principalmente nos Estados Unidos, como de seguro de emprego, CPI [índice de inflação ao consumidor, na sigla em inglês], PIB, o mercado vai fazendo suas apostas. Mas a verdade é que ninguém sabe de nada e toda hora as projeções vão mudando. Resta ficar atento”, aponta Werner Roger, CIO da Trígono Capital.

O que acontece nos Estados Unidos acaba tendo bastante peso na Bolsa brasileira. Juros mais altos por lá tendem a gerar fluxo de saída de capital de emergentes, com investidores preferindo manter seu dinheiro na renda fixa americana. Fora isso, as taxas brasileiras acabam subindo, com a perspectiva de que o Banco Central terá de ser mais duro para manter as taxas atrativas por aqui. 

“O estrangeiro acabou vendendo suas posições no Brasil. No fim do ano passado, ele entrou com US$ 40 bilhões nos últimos dois meses do ano, esperando queda de juros lá fora, que acabou não acontecendo. E essa queda, por agora, está sendo jogada para frente. Ninguém sabe exatamente quando vai começar”, fala Roger.

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Bruno Benassi, analista da Monte Bravo, aponta que a manutenção dos juros altos por mais tempo tem sido um “balde de água fria” na Bolsa brasileira. 

“Empresas que são um pouco mais alavancadas ou que dependem bastante do ciclo doméstico vêm sendo os principais recursos do Ibovespa. Quando se olha as small caps, a queda é maior ainda. A melhora do cenário macro, ou ao menos uma estabilização, pode permitir que essas empresas possam voltar a ter uma performance mais positiva. Já o fluxo de dinheiro internacional deve voltar a partir do momento em que tivemos uma certeza de quando começam os cortes do Fed”, diz Benassi. 

Por fim, especialistas mencionam que pesam nas incertezas também a trajetória política brasileira. Werner, da Trígono, cita que fatores como o risco fiscal – com o Governo Federal tendo recentemente alterado sua meta de superávit em 2025 -, sucessão do presidente do BC Roberto Campos Neto e a política de preço da Petrobras ficam no radar.