Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e mais: o que esperar do resultado das construtoras no 3º tri?

Analistas enxergam dinâmica melhor para o segmento de baixa renda, mas avaliam que Cyrela pode ser exceção entre média e alta renda

Lara Rizério

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Após a divulgação na última semana dos números da Tenda (TEND3), que não agradaram muito por mostrarem custos ainda pressionados impactando o resultado, nesta segunda-feira (7), após o fechamento do mercado, será a vez da Direcional (DIRR3) reportar seu balanço, na sequência de próximos dias agitados para o setor.

A XP destaca, em relatório, esperar resultados mistos para o setor das construtoras no terceiro trimestre de 2022 (3T22).

Do lado positivo, o analista Ygor Altero vê algumas empresas de sua cobertura mantendo um desempenho positivo de vendas líquidas, levando ao crescimento da receita. Por outro lado, enxerga algumas empresas tendo maior dificuldade para recuperar a rentabilidade, reportando margens fracas – caso da Tenda na semana passada e também de MRV ([ativo=MRVE3).

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Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3), na avaliação do analista, devem ser os destaques com fortes resultados operacionais levando a uma aceleração da receita líquida e manutenção dos níveis de margem bruta acima dos seus pares.

Já a Cyrela (CYRE3) pode ser a surpresa positiva com sólido crescimento de lucro líquido (alta de 18% ao ano na projeção da XP) devido a uma recuperação de margem bruta (alta de 90 pontos-base no trimestre e ganho não recorrente vindo da venda de ações da Cury.

O Goldman Sachs ressalta que as prévias operacionais das construtoras, divulgadas durante o mês de outubro, reforçaram a visão de queima de caixa da MRV em grande parte por sua divisão dos EUA (a Resia), que vê desafiada pelo aumento do custo de capital e um mercado em desaceleração.  Já Cyrela, EzTec (EZTC3) e Direcional tiveram prévias que surpreenderam pelo lado positivo.

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Já para o Credit Suisse, as empresas, exceto a Tenda, não devem mais reportar queda em margens e o pior parece ter ficado pra trás na parte de custos, ainda que concreto e mão de obra ainda preocupem. “Enxergamos uma dinâmica melhor para o segmento de renda mais baixa, mas Cyrela entra como uma exceção e deve ser o destaque desse 3T22 em todas as linhas”, avaliam os analistas do banco suíço.

Além dos resultados em si, o mercado deve ficar bastante atento às perspectivas das companhias nas teleconferências de resultados, uma vez que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem destacado, logo após a vitória nas eleições presidenciais, a retomada do programa Minha Casa Minha Vida com prioridade para famílias de baixa renda. O assunto inclusive foi destacado pela Tenda em sua teleconferência na última semana.

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Confira os destaques do 3T22 dos analistas por empresa:

Construtoras de baixa renda

Cury (CURY3)

A XP espera mais um trimestre de resultados positivos para a Cury no 3T22, com aceleração da receita líquida para R$ 621 milhões (alta de 36% na base anual e de 3% no trimestre), devido às fortes vendas líquidas.

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Além disso, projeta um leve aumento de margem bruta para 36,0% (avanço de 0,3 ponto percentual frente o 2T22), positivamente impactada por uma desaceleração na inflação de custos de construção, embora ainda veja o preço do concreto sob pressão. Por fim, estima um lucro líquido de R$ 91 milhões (alta anual de 36% e trimestral de 6%).

Direcional (DIRR3)

A XP projeta resultados positivos para a Direcional no 3T22, dado seu excelente desempenho operacional com destaque para a Riva, que teve recorde de vendas líquidas. Dito isso, espera mais um trimestre de forte receita líquida, atingindo R$ 592 milhões (alta anual de 31% e de 1% no trimestre), embora o menor percentual de conclusão dos projetos da Riva possa afetar o reconhecimento de receita neste trimestre.

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Além disso, a margem bruta deve diminuir gradativamente para 34,6% (queda de 1,2 ponto percentual – ou p.p. – no ano e baixa de 0,4 ponto no trimestre), mas vê esses níveis como saudáveis ​​para a Direcional. Por fim, a empresa teve fortes vendas neste trimestre de projetos de parceria, que não são consolidadas pela empresa. Com isso, projeta uma aceleração no resultado de equivalência patrimonial, levando o lucro líquido a R$ 59 milhões (alta de 25% no ano e de 42% no trimestre).

O Credit Suisse espera que a empresa continue na trajetória positiva com margens um pouco acima de 34%, mas com uma compressão próxima delas, em 50 pontos-base na comparação trimestral. A avaliação é de que o trimestre deva vir semelhante a abril e junho (2T22), mas o lucro deve ter um impulso da operação de swap com compra de ações. “Continuamos construtivos com os 20% de ROE [Retorno sobre o patrimônio] para o ano que vem, suportados por volume mais forte e margem em nível elevado”, avaliam os analistas.

Plano & Plano (PLPL3)

A XP espera resultados positivos da Plano&Plano no 3T22, impulsionados por um sólido desempenho operacional com vendas líquidas recorde e um aumento resiliente no preço médio por unidade vendida. Com isso, espera que a Plano&Plano mantenha sólidos níveis de receita líquida, atingindo R$ 352 milhões (alta de 7% ano a ano e de 4% no trimestre).

Além disso, vê o arrefecimento da inflação de custos de construção e os recorrentes aumentos de preços da Plano&Plano contribuindo para a recuperação gradual da rentabilidade das operações, levando a margem bruta para 30,2% (alta de 1,5 p.p. no trimestre e queda de 3,4 p.p. na base de comparação anual). Por fim, espera que o lucro líquido atinja R$ 32 milhões (queda de 21% no ano e alta de 65% no trimestre).

MRV (MRVE3)

A XP espera resultados mistos para a MRV no 3T22, afetados pela falta de vendas de projetos da Resia e pelo fraco desempenho das vendas líquidas nas operações brasileiras. Com isso, projeta receita líquida de R$ 1,65 bilhão (-]queda anual de 8%, mas alta trimestral de 3%). Além disso, estima uma margem bruta em 19,6% (queda de 7,5 p.p. no ano e alta de 0,2 p.p. no trimestre), positivamente afetada pelos aumentos de preços. Por fim, espera que o lucro líquido atinja R$ 40 milhões (queda anual de 76% e trimestral de 31%).

Já o Credit Suisse aponta que, após uma reação negativa pós-números operacionais, todos os olhos devem estar voltados para a recuperação dos negócios principais da companhia.

“Esperamos que a receita líquida decepcione as expectativas do mercado devido aos números de vendas mais fracos, mas acreditamos que as margens devem ter um pequeno aumento em relação ao 2T, atestando que a empresa está no caminho certo para a recuperação de seu negócio principal. No entanto, essa recuperação ainda não é suficiente para o breakeven  (indicador que sinaliza o empate entre as receitas e as despesas de um negócio), e acreditamos que a MRV deva apresentar outro prejuízo líquido”, avalia o banco.

Construtoras de média e alta renda

Cyrela (CYRE3)

A XP espera resultados sólidos para a Cyrela no 3T22, impulsionados por uma expansão da receita líquida, atingindo R$ 1,54 bilhão (alta anual de 20% e trimestral de 24%), explicada por um desempenho de vendas líquidas melhor que o esperado no trimestre.

Além disso, vê a Cyrela implementando uma melhor estratégia de precificação de lançamentos, resultando em uma margem bruta maior em novos produtos, o que enxerga como um sinal positivo de recuperação da margem bruta daqui para frente. Com isso, projeta que a margem bruta da Cyrela atinja 32,2% (queda anual de 2,5 p.p. e avanço trimestral de 0,9 p.p.). Por fim, estima que o lucro líquido acelere significativamente, atingindo R$ 280 milhões (avanço anual de 18% e trimestral de 85%), impactado positivamente por um ganho não recorrente com a venda de ações da Cury.

Para o Credit, a parte financeira deve confirmar o bom momento da empresa. “A Cyrela tem um pipeline forte e que deve se traduzir em expansão de margem no trimestre. A venda das ações de Cury também deve ajudar a ter uma receita mais forte. Enxergamos como a empresa mais bem posicionada do segmento de média/alta renda”, afirmam os analistas.

EZTec (EZTC3)

A XP espera resultados positivos da EZTec no 3T22, com receita líquida atingindo R$ 286 milhões (queda anual de 4% e avanço trimestral de 18%), devido amaior nível de produção, aumentando o reconhecimento de receita e sólido desempenho das vendas líquidas contratadas no trimestre.

Além disso, estima uma forte recuperação da margem bruta versus o 2T22, atingindo 41,4% (alta trimestral de 6,7 p.p.) , impulsionada pelo efeito reverso do reconhecimento do INCC, agora auxiliando a EZTec devido ao descompasso entre o reajuste inflacionário nos custos de construção e o repasse do INCC da carteira de recebíveis, uma vez que a inflação da construção desacelerou ao longo do 3T22. Outro fator é a maior venda de estoque no empreendimento Cidade Maia, que possui maior margem bruta. Dito isso, a XP estima que o lucro líquido acelere atingindo R$ 104 milhões (alta trimestral de 25%), mas mantendo-se abaixo dos níveis históricos (queda anual de 28%).

Já o Credit reforça que as margens foram um problema no trimestre passado, mas acredita que a empresa pode voltar a entregar uma margem bruta acima de 40%. No lado negativo, continua a enxergar desafios para a empresa manter o nível de rentabilidade nos próximos trimestres.

Even (EVEN3)

A XP espera resultados mistos para a Even no 3T22. Pelo lado positivo, a empresa manteve o foco em fomentar a venda de estoques, o que pode impactar positivamente a receita líquida, atingindo R$ 668 milhões (alta anual de 27% e queda trimestral de 1%), devido ao maior percentual de conclusão (POC) desses projetos, aumentando o reconhecimento de receita.

Por outro lado, esperamos uma desaceleração da margem bruta ajustada, atingindo 23,9% (queda de 6,2 p.p. no ano e de 1,1 p.p. no trimestre), afetada por (i) concessão de descontos ainda forte nas vendas de estoque; e (ii) mix de receita focado em projetos compactos, que possuem margens brutas menores. Por fim, estima que o lucro líquido alcance R$ 32 milhões (queda anual de 38% e de 45% no trimestre), impactado por maiores provisões.

JHSF (JHSF3)

A XP projeta resultados neutros para a JHSF no 3T22. No segmento de incorporação imobiliária, vê o Reserva Cidade Jardim e as novas fases do Boa Vista Village aumentando a presença de produtos imobiliários no mix de receitas da JHSF, que seguem a lógica da contabilidade POC. Com isso, espera um menor reconhecimento de receita no 3T22, levando a receita líquida a R$ 454 milhões (queda anual e trimestral de 12%).

Além disso, vê os produtos imobiliários com margens brutas menores em relação aos projetos de terrenos, o que deve levar a uma desaceleração natural da margem bruta daqui para frente. Com isso, projeta a margem bruta para o 3T22 em 60,8% (queda anual de 4,8 p.p. e baixa de 1,9 p.p. no trimestre). Por fim, estima um lucro líquido de R$ 147 milhões (queda anual de 31% e de 34% no trimestre), impactado por menores níveis de receita líquida.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.