Com retomada das viagens após pandemia, alta de preços não tem impactado volumes, diz CVC (CVCB3)

No segundo trimestre, companhia ainda espera vendas muito fortes, mas vislumbra possível efeito negativo do cenário macroeconômico mais à frente

André Cabette Fábio

(Roberto Tamer / Divulgação)

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Em teleconferência de apresentação de resultados nesta quarta-feira (11), Leonel Dias de Andrade Neto, CEO da CVC (CVCB3), afirmou que o aumento de preços não tem impactado os volumes da empresa. Segundo o executivo, há altíssima ocupação das companhias aéreas, a ponto de começarem a faltar aviões. Um fator que contribui para esse cenário é a alta dos preços dos combustíveis, que faz com que os aviões mais antigos fiquem inviáveis, afirmou.

No segundo trimestre, ele disse esperar vendas ainda muito fortes. Mas, após esse primeiro momento de retomada das viagens, é possível que o cenário macroeconômico tenha um impacto maior, pesando sobre os volumes. Para navegar nesse cenário, a CVC vem investindo em publicidade, plataformas e meios de pagamento, entre outros, disse o executivo.

A receita líquida da CVC somou R$ 292 milhões entre janeiro e março de 2022, alta de 76,5% na comparação com igual etapa de 2021, divulgou a companhia na noite da véspera.

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Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi positivo em R$ 33,3 milhões no 1T22, ante resultado negativo de R$ 56,4 milhões no mesmo período do ano anterior.

No release de resultados, a CVC atribuiu o desempenho à reabertura de mercados no Brasil e Argentina, ainda que os primeiros meses de 2022 tenham sido marcados pela Ômicron e seus efeitos no setor.

Apesar disso, a companhia de turismo registrou prejuízo líquido de R$ 166,8 milhões no primeiro trimestre de 2022 , um aumento de 104,7% no mesmo trimestre de 2021. A CVC atribuiu o resultado à “baixa dos créditos tributários que foram realizadas no 1T22, sendo que esta baixa não ocorrerá nos demais trimestres de 2022”.

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Questionado na teleconferência sobre como vê o ambiente competitivo, Dias afirmou que há uma concentração maior de mercado e fragilidade das operadoras pequenas. Assim, a retomada muito forte do setor significa grandes despesas de caixa, o que favorece a CVC.

Ele afirmou que a companhia poderia vender mais em B2B (sigla em inglês para negócios para negócios) ou B2C (negócios para clientes), mas prefere ser conservadora, de forma a não prejudicar as margens.

De acordo com análise do Bradesco BBI, a companhia apresentou resultados mistos no trimestre, mas com destaque positivo para o Ebitda.

“É reconfortante ver esse Ebitda positivo (embora pequeno) pelo segundo trimestre consecutivo, com despesas sob controle (crescendo apenas 12% em relação à 2019) e alavancagem operacional correndo através dos resultados. As reservas no Brasil ainda estão fracas e, embora tenha havido uma melhora ao longo do trimestre, destacamos que a Gol atingiu uma receita estável em relação a 2019, enquanto a receita da Azul aumentou 26% (em comparação com a queda de 35% da CVC Brasil)”, apontam.

Os analistas do banco também observam que as reservas da Argentina e B2B (abaixo da média) tiveram desempenho superior ao do Brasil B2C dentro do mix da CVC.

“O caixa é um problema que tem causado alguma preocupação aos investidores, uma vez que uma recuperação total das reservas exigirá investimento em capital de giro, mas foi aprovada uma emissão de dívida de aproximadamente R$ 1 bilhão, então a situação parece confortável por enquanto”, destacam.

Para eles, embora ainda haja um longo caminho para que a CVC se recupere totalmente, a aceleração das reservas ao longo do trimestre (atingindo seu ponto mais alto desde a pandemia) e o Ebitda melhor do que o esperado, devido ao rígido controle de custos, são pontos positivos. Dito isso, a visibilidade em torno de reservas completas e recuperação de margem permanece limitada e achamos que a empresa só entregará um lucro líquido considerável em 2024. Portanto, o BBI segue com recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 19, ainda um potencial de alta de cerca de 60% em relação ao fechamento da véspera.

A sessão, contudo, é negativa para as ações da CVC: às 16h40 (horário de Brasília), os ativos caíam 5,21%, a R$ 11,27.

Take rate deve permanecer forte, diz CVC

No primeiro trimestre de 2022, a “take rate” (percentual da receita líquida sobre as reservas) geral da CVC atingiu 9,7%, alta de 1,8 ponto porcentual frente ao quarto trimestre de 2021.

Na teleconferência, Dias afirmou que a empresa não vê risco para a taxa atual, e que há capacidade de manter níveis elevados nos próximos quatro trimestres.

Ele disse ver o desempenho do B2C (sigla em inglês para negócios com clientes) como especialmente positivo, com crescimento do setor internacional, ressaltando que o take rate ficou em 15% no primeiro trimestre no Brasil. O indicador deve se manter acima de 13%, disse.

O executivo afirmou que, no momento atual, com alta dos juros, a gestão do take rate e a financeira devem ser mais preponderantes, especialmente levando em conta a cultura de “parcelado sem juros” vigente no Brasil.

Segundo Dias, a companhia tem “posições muito consolidadas de liderança” na Argentina. Agora, disse esperar que o desempenho continue no nível atual, com melhoria de take rate. No Brasil, disse esperar um mix de produtos crescente nos próximos trimestres, com elevação do take rate, em especial a partir de julho.

Levando tudo em consideração, ele afirmou que vê menos crescimento de volumes da empresa, e um take rate melhor e “muito forte”.

Ele afirmou que não espera que o programa de fidelidade melhore o take rate, mas que fidelize o cliente, de forma que a taxa de conversão e recompra seja significativa.

Com isso, disse esperar redução no custo de aquisição de novos clientes. Além disso, afirmou que o programa de fidelidade deve garantir acúmulo de recursos para o futuro, reduzindo a dependência de caixa imediato.

Marketplace de crédito com financeiras

Na teleconferência, Marcelo Kopel, CFO da CVC, afirmou que a empresa vem investindo em marketplace de crédito em parcerias com financeiras, afirmou, buscando estender o prazo para que o cliente passe a comprar em parcelas iguais com juros. O objetivo é garantir vendas, e não ganhos com a operação de crédito.

No primeiro trimestre de 2022 o resultado financeiro líquido da CVC foi uma despesa R$ 88,8 milhões, uma elevação de 745,7% sobre as perdas financeiras registradas na mesma etapa de 2021.

Kopel disse que, com a entrada do marketplace, as financeiras concorrerão entre si para financiar cada negócio que chegar a elas. Quando o cliente financiar no boleto sem juros pelas financeiras, por exemplo, o risco ficaria com as financeiras.

Segundo o executivo, o cartão de crédito CVC é acima de tudo um meio de fidelização, que permite que o cliente acumule pontos, e não uma forma de melhorar resultados da P&L (sigla em inglês para demonstração de resultados).

Ele afirmou que a filosofia da CVC é aumentar meios de pagamentos disponíveis aos clientes, não retirar um em função da entrada de outro.

Alongamento da dívida

No primeiro trimestre de 2022, as despesas gerais e administrativas da CVC somaram R$ 218,2 milhões, um crescimento de 13,6% em relação ao mesmo período de 2021.

Segundo Kopel, a empresa pretende realizar uma oferta de debêntures de R$ 995 milhões estruturada pelo Citibank, com juros calculados a partir da CDI mais 7,2%.

O executivo afirmou que a companhia está alongando sua dívida, de forma que a amortização passe a acontecer no final de 2023, ao invés do primeiro semestre de 2022. O último pagamento será na primeira metade de 2025.

Assim, as amortizações previstas para 2022 devem ficar para o final de 2023 até 2025. Dessa forma, a dívida ficará com prazo médio de 2,5 anos.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney