Crise com coronavírus: qual impacto que a B3 vê do atual momento do mercado nas suas operações?

Em teleconferência com o Itaú BBA, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, apontou questões como concorrência, riscos e refutou rumores de fechamento da bolsa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio à crise com o coronavírus que levou a uma fuga ainda mais intensa de capital e que fez o Ibovespa registrar o pior trimestre da história (veja mais clicando aqui), como a B3 (B3SA3) está se posicionando e vendo o ambiente de negociações na bolsa?

Em teleconferência com o Itaú BBA, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, destacou os efeitos potenciais da crise nos negócios da companhia, além de trazer questões sobre concorrência, estratégia de preços e riscos.

O analista Marco Calvi, do Itaú BBA, apontou os principais tópicos da conversa ressaltando que, segundo Finkelsztain, as operações da B3 tiveram um bom desempenho em um teste de estresse, em que a bolsa apresentou a maior volatilidade em 30 anos, e não são esperadas mudanças estruturais no plano de investimentos corporativos, apesar da turbulência atual.

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A B3 deve continuar a seguir o plano estratégico estabelecido há dois anos, com ênfase em seus principais negócios, enquanto também se expande para mercados adjacentes (por exemplo, de seguros).

“Esperamos ver novos produtos que suportem o crescimento sustentado dos negócios da B3. Um exemplo é a expansão do registro de apólices de seguros que, embora não seja significativo para as receitas consolidadas da empresa, deve levar a um crescimento mais robusto na divisão de dados e análises. É importante observar que essa divisão responde por mais de 20% da receita nas bolsas de valores globais, mas representa menos de 5% para a B3”, destaca o Itaú BBA.

Após um período de alta volatilidade, a B3 espera enfrentar um período de queda de volume negociado no curto prazo, uma vez que os agentes de mercado buscam menor exposição em um cenário repleto de riscos mais altos.

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Dito isto, vale destacar que o número de investidores aumentou substancialmente nos últimos meses, levando à projeção de que os volumes devam se normalizar em níveis mais altos do que em 2018 e 2019, levando em conta a avaliação de que o mercado de capitais se estabilize dentro de dois a três meses.

Por outro lado, os negócios de varejo (como financiamento imobiliário e de automóveis) sofrerão um impacto mais substancial devido a uma combinação do período de quarentena e por conta da diminuição da confiança do consumidor.

Rumores de interrupção dos negócios

Em meados de março, no auge da forte queda da bolsa por conta do coronavírus, ganharam forças rumores sobre um possível fechamento da B3 durante o período de extrema volatilidade. Contudo, apesar do ruído gerado, ela informou que não pretende fechar durante esse período de volatilidade nas bolsas.

A companhia entende que desempenha um papel fundamental além da negociação de ações, apoiando serviços importantes como acesso ao crédito, liquidação de investimentos e garantia de derivativos, entre outros.

Finkelsztain ainda afirmou que o fechamento aumentaria o risco sistêmico, impedindo o funcionamento apropriado do mercado.

Ainda foi destacado que, após o anúncio da quarentena em São Paulo, a maioria da equipe da B3 trabalha remotamente desde a última semana. Alguns colaboradores que não conseguem trabalhar em casa por razões operacionais são separados em prédios diferentes para mitigar quaisquer riscos à saúde da equipe.

Segundo o CEO da B3, o fato de parte do mercado estar operando remotamente não prejudica sua eficácia. Nas últimas semanas, o B3 registrou volumes recordes no mercado de ações (com três dos pregões mais voláteis dos últimos 30 anos em março), mas não houve grandes problemas durante esse período.

Competição

Com relação a possíveis novos concorrentes, do ponto de vista da B3, ela afirmou que já compete com players globais – exemplos incluem listagens de ações fora do Brasil e produtos derivativos fora do ecossistema B3.

Dito isto, é provável que a empresa, em linha com o crescimento do mercado brasileiro, enfrente um cenário no qual os recém-chegados se juntem ao mercado. Por esse motivo, a B3 afirma que continua focada em aumentar seu nível de serviço, que tem sido uma das principais metas há quase três anos.

No cenário atual de recessão iminente, contudo, a B3 não prevê mudanças no risco de concorrência.
Não há mais expectativas de mudanças no curto prazo nas taxas após as mudanças realizadas no início do ano (veja mais clicando aqui), mas é provável que a empresa compartilhe com os clientes seus ganhos com a alavancagem operacional.

A B3 mudou sua dinâmica de precificação no início do ano (incluindo a isenção total das tarifas sobre o valor em custódia e sobre o processamento de proventos financeiros para investidores com valor em custódia inferior a R$ 20 mil), destacando o foco no desenvolvimento do mercado de ações e no aumento subsequente de volumes.

“A empresa deve manter sua postura de buscar oportunidades de compartilhar seus ganhos com a alavancagem operacional com agentes de mercado e apoiar suas perspectivas de longo prazo. A administração, no entanto, não prevê mudanças substanciais no curto prazo, apesar da alta volatilidade”, destaca o analista do Itaú BBA, que possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a B3, com preço-alvo de R$ 52 ao final de 2020, o que representa um potencial de valorização de 44,84% frente o fechamento da última terça-feira (31).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.