Criador de cripto que colapsou dá primeira entrevista pública; por que ela não convence?

Série de dois episódios marca a primeira grande entrevista pública de Do Kwon, o sul-coreano que criou a blockchain Terra e a stablecoin TerraUSD (UST)

CoinDesk

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Por Daniel Kuhn

Do Kwon, o polêmico cofundador da blockchain Terra (LUNA), deu sua primeira entrevista pública desde que a stablecoin TerraUSD (UST) implodiu, levando consigo cerca de US$ 45 bilhões de investidores. Não faltaram relatos comoventes de pequenos investidores que passaram a enfrentar dificuldades financeiras por terem apostado muito no projeto Terra e perderem tudo.

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Esta não é a primeira vez que Kwon fala publicamente. Ele frequentemente fala no Twitter sobre sua nova blockchain. Mas só agora ele concedeu sua primeira entrevista mais longa, na qual conta com mais detalhes o que aconteceu.

Com o nome de “Down Infinite” (Queda Infinita, em tradução livre), a série mostra uma linha do tempo onde figuras polêmicas tentam explicar suas ações e até se explicar, em raras ocasiões, dizendo que “aprenderam pelo fracasso”. A entrevista, no entanto, não mostra todos os lados da história, dado que a Coinage, a startup de mídia que produz a série, que tem duas partes, até agora não cumpre o que prometeu.

A história de Kwon é maior do que a da blockchain Terra, uma rede que chegou a ser multibilionária e atraiu grandes e pequenos investidores para participarem do sonho de descentralizar uma economia construída em torno de um dólar sintético.

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Sua implosão abalou a indústria de criptomoedas, contribuindo para um evento de contágio que derrubou várias empresas grandes do setor, e que ainda está sendo sentido no mercado.

O caso entrará nos livros de história como um exemplo de ilusão em massa, nos livros de economia por sua grande irracionalidade e provavelmente pelos entusiastas de criptos como uma fraude.

Além disso, representa parte da confusão sobre o futuro das criptomoedas: como um projeto com uma missão tão clara, líder convincente e adoção generalizada pode falhar tão absurdamente?

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A série parece ser feita para ressuscitar a imagem de Kwon. Em uma entrevista de 30 minutos, filmada em dois dias, o ex-Yahoo Finance Zack Guzman faz perguntas a Kwon, incluindo: “Você é uma Elizabeth Holmes?”; “os advogados o aconselharam a não falar com a imprensa?” e “é justo dizer que a UST não tinha valor desde o começo?”.

Isso não é uma crítica a Guzman por fazer perguntas óbvias, já que é importante não ser duro demais em entrevistas como essa e, aos poucos, ir desenvolvendo a conversa. Além disso, tem seu valor ouvir Kwon em um ambiente favorável a ele.

Mas, se você está procurando informações sobre o que aconteceu com o enorme tesouro de Bitcoin (BTC) da Terraform ou por que Kwon sacou o dinheiro do projeto do projeto Curve pouco antes do colapso da rede Terra, você terá que procurar em outro lugar.

O lado de Kwon

O slogan escolhido pela Coinage, “Down Infinite”, é uma frase de efeito de Kwon. É uma escolha perfeita para um programa que apresenta o ponto de vista dele de forma acrítica. Não é apenas a história deste Kwon em suas próprias palavras, mas também literalmente a voz da publicação.

É também uma piada que Kwon contou antes – e que aparentemente faz pouco caso do dano real que ele causou a pessoas reais.

A verdade é que há pouca novidade no primeiro episódio, para além de alguns fatos interessantes, como o fato de Kwon mais ou menos ter confirmado que ele estava envolvido na stablecoin algorítmica Basis Cash. Além disso, ele negou ter vendido a Terra e alega que pode ter havido um “traidor” na Terraform Labs.

Ele também disse que “nunca” esteve em contato com investigadores sul-coreanos – mas sem grandes revelações.

Kwon assume a responsabilidade pelo fracasso da Terra. Segundo ele, foi um resultado que ele nunca previu e que seu excesso de confiança era “super irracional”. O projeto consumiu sua vida. Ele deu o nome de Luna, a criptomoeda que evaporou, para sua própria filha e disse que está trabalhando para fazer disso um nome do qual ela possa se orgulhar.

Há momentos em que ele olha diretamente para a câmera, como se pedisse desculpas diretamente a quem ele atingiu. É impossível saber o que se passa na cabeça de Kwon.

Como ele disse, assistir a um projeto que o tornou bilionário, que o colocou em capas de revistas, que foi um dos projetos de criptomoedas de mais rápido crescimento da história, pegando fogo, não é o “tipo de experiência” que a maioria das pessoas gostaria de ter.

Mas é difícil dizer que Kwon assume totalmente sua culpa no primeiro episódio, mesmo quando admite alguma responsabilidade. Ele é questionado como se sente sobre a operação policial como parte de uma investigação sobre o projeto Terra na casa de seu ex-colega Daniel Shin, com quem fundou a rede de pagamentos Chai na Coreia. Sobre isso, ele dá somente uma “resposta padrão”.

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Kwon não é antipático e não hesita em responder às perguntas. Mas há momentos em que ele evita contato visual, parecendo estar procurando que outros compartilhem com ele a culpa do que aconteceu.

Em alguns momentos, ele até chega a culpar uma versão antiga de si mesmo, um “alter ego” que chamou atenção de todos dizendo coisas que não deveria, tirando sarro de quem falou mal do Terra e acusou o projeto de enganar os investidores deliberadamente.

Segundo ele, o fracasso da empresa que criou foi uma forma difícil de aprender que “você não pode se emocionar com os mercados, não pode culpar as pessoas por operarem vendidos, não pode chamar as pessoas de idiotas sem motivo”, disse.

Pouca divulgação

Até agora, a série gerou pouco burburinho. A primeira parte rendeu pouco mais de 23 mil visualizações no YouTube. E parece que apenas algumas centenas de pessoas estavam dispostas a emitir um token não fungível (NFT) para acessar via Discord – o processo, afinal, requer o pagamento de taxas.

Grande parte dos comentários em torno da série se concentrou no fato de que a Terraform Labs é uma investidora na Coinage, o que levanta questões de independência jornalística. A moeda também faz parte do “centro de produção de Web 3.0” Trustless Media, que levantou uma rodada de investimento inicial de US$ 3,25 milhões de investidores, incluindo Sam Bankman-Fried, da FTX, e Ava Labs.

Guzman, formado em Harvard, fez uma publicação no Twitter destacando sua ética jornalística. Segundo ele, embora haja um “conflito de interesses”, a série não pretende ser objetiva, mas uma maneira de explicar a parte técnica das criptomoedas para o público em geral.

Guzman também foi um investidor na UST e na LUNA, perdendo dinheiro com o colapso do projeto. Ele disse na entrevista que “um amigo da família” cometeu suicídio após a falência do Terra.

Há um longo e prolongado debate na mídia especializada em criptoativos sobre se os jornalistas devem manter em carteira os ativos que cobrem, considerando o potencial de influenciar nos mercados.

Guzman está partindo do ponto de vista de que sua experiência direta é capaz de conter essa história. Mas eu perguntaria: será que ele realmente sente raiva de Do Kwon como a maioria dos investidores do projeto?

No final, não fica claro se a entrevista ajuda os telespectadores a entenderem Kwon ou a torná-lo uma figura ainda mais confusa. Guzman esteja certo ao dizer: “Isto não é um tribunal de justiça”.

É possível que a entrevista seja apenas um reflexo da indústria de criptomoedas, que para seu crédito e culpa parece aceitar prontamente de volta seus ex-fraudadores.

Por outro lado, há esperança de que a próxima entrevista de Kwon seja mais informativa – ele falará com Cobie, uma figura muito famosa entre os entusiastas.

Todos esperam também que a parte dois dessa entrevista tenha pelo menos um tom diferente, mas, se esse é o piloto de um suposto “novo império de mídia”, estamos diante de mais um caso de erros trágico de Kwon.

*Daniel Kuhn é é repórter e editor-assistente de opinião da coluna “Layer 2” do CoinDesk.

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