Corinthians e Atlético-PR podem ter caído em um golpe com criptomoedas

Time paranaense anunciou parceria com a moeda digital IVI, mas uma série de fatores levantam muitas dúvidas no projeto

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Com o crescimento da euforia das criptomoedas, no ano passado, especialistas passaram a alertar para o risco de fraudes surgirem, desde esquemas usando Bitcoin até o próprio lançamento de moedas digitais que não servem para nada. Mas este aviso não é apenas para os investidores individuais, mas também para empresas, e agora, especificamente, para os clubes de futebol.

É muito bom ver o mercado de criptoativos crescendo. Defenda você que o Bitcoin é uma bolha ou é o melhor negócio do mundo, é inegável que a tecnologia tem suas vantagens e potencial para crescer à níveis inimagináveis. Mas o recente anúncio feito pelo Atlético Paranaense de uma parceria com uma nova criptomoeda passou rapidamente de uma “revolução no futebol” para alerta de fraude. E o Corinthians também já confirmou que fez negócio com a mesma empresa.

Na última sexta-feira (29), o Atlético anunciou uma parceria com a startup Inoovi LTD, empresa francesa que incentiva o uso de moeda virtual dentro do esporte. Com este acordo, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, afirmou que pretende usar o token (moeda digital) IVI na contratação de atletas, pagamento de salários, direitos de imagem, entre outras coisas.

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Com isso, o clube poderia mudar completamente a forma como se faz transações no futebol no Brasil. Entre as vantagens de se fazer um negócio como esse, a Inoovi diz que os clubes poderiam se aproveitar de impostos menores nas contratações, enquanto os lucros poderiam ser ainda maiores, já que a ideia ao se ter uma moeda digital é que ela vá se valorizar com o tempo.

A história até empolga, principalmente os torcedores, que podem ajudar seus times e ainda ganhar dinheiro com suas moedas. Mas a primeira pergunta a se fazer é: o que é IVI? Muita gente ainda não entende como funciona o Bitcoin, imagine saber o que fazer com outras criptomoedas menores. Mas este não deveria ser um fator para não investir neste negócio. A questão aqui é estudar e pesquisar sobre o projeto em si.

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Lançar uma criptomoeda hoje é fácil, mas mostrar consistência em um projeto e criar algo que realmente tenha utilidade e potencial para crescer não é para qualquer um. Não é à toa que mais de 800 criptomoedas lançadas nos últimos meses já são consideradas mortas (clique aqui para saber mais). Uma moeda sem utilidade não irá se sustentar e acabará perdendo valor rapidamente.

Negócio arriscado
O site Guia do Bitcoin foi o primeiro a levantar suspeitas sobre o negócio e, conversando com especialistas, o InfoMoney constatou que o clima de desconfiança é generalizado. Antes mesmo da opinião de um profissional, basta acessar o site da Inoovi LTD para começar a levantar muitas dúvidas sobre a empresa e o tal IVI.

O amadorismo do site preocupa. A questão não é se a empresa é nova ou se a página ainda está sendo construída, isso não é argumento para explicar erros e frases que não fazem sentido. No caso da versão em português chega a ser inexplicável trechos como “um mundo de todos os dias está chegando até você”. Claramente o que foi feito foi uma “tradução” pelo Google, o que deixou quase todo o texto errado. Como em qualquer investimento, é preciso ter segurança e conhecimento do que se está fazendo e esse site não ajuda nem um pouco.

Outro ponto – e que todo mundo deveria ler antes de investir em uma moeda digital – é o chamado Whitepaper, documento que resume o ativo, explica como ele funciona e dá clareza ao projeto. “O whitepaper deles é ridículo”, resume Safiri Felix, especialista em criptomoedas e autor do relatório CryptoInsights. Mesmo para um leigo, é fácil perceber que o documento está mais preocupado em exaltar o blockchain e falar como ele é uma revolução no futebol, do que provar sua segurança e mostrar que realmente vale a pena entrar no projeto.

“Provavelmente este é mais um dos 500 ICOs sem pé nem cabeça”, afirma Safiri, destacando que existem sérios riscos fiscais neste negócio e que estes tipos de tokens estão caminhando para se popularizar como um “substituto” de offshores e outras empresas de fachada pra pagamento de transações no futebol.

A ideia por trás deste token, de ser usado em salários, negociação e prêmios para torcedores coloca ele na categoria de “utility token” (token utilitário, em tradução livre), termo que inclusive é citado no whitepaper do IVI diversas vezes, mas que pouco se explica.

Basicamente, estes tipos de token seriam moedas que dão ao seu comprador o acesso futuro a um produto ou serviço. No ICO destas moedas, as startups levantam capital vendendo estas moedas para financiar o desenvolvimento de seus projetos em blockchain, e os usuários podem adquirir acesso a esse serviço, às vezes com um desconto ou alguma vantagem.

O problema é que não existe essa ideia estrita de “token utility”. Esse é um argumento usado por outros especialistas também, já que, o preço destes ativos sempre variam, ou seja, quem compra aquela moeda também espera que ela se valorize, deixando ser um ativo apenas utilitário, mas também um investimento. E Safiri acredita que, pelo menos por enquanto, a IVI é apenas um ativo “inútil”.

O especialista aponta ainda para o perigo desta moeda ainda não ser listada em nenhuma grande exchange, ou seja, quem comprar ela no lançamento muito provavelmente terá dificuldade de vender depois, seja para capitalizar o lucro ou para se desfazer em um momento de queda.

Para piorar, todas estas dúvidas levantadas indicam ainda, segundo Safiri, que pode ocorrer um “ataque especulativo” dos próprios criadores, ou seja, eles levantam o dinheiro com toda esta euforia de ser um produto novo, mas assim que a moeda passar a ser listada oficialmente, eles vendem tudo, derrubam o preço e ainda deixam os investidores “na mão”.

Há ainda a questão da equipe envolvida. O site oficial da Inoovi apresenta apenas o seu CEO, o franco-tunisiano Fernand Danan, e mais ninguém. Uma versão anterior da página ainda mostrava outras pessoas, mas, como mostrou o UOL Esporte, as fotos eram falsas, copiadas de um site padrão para empresa de criptomoedas, o Crypto. O InfoMoney tentou contato com a Inoovi, mas não obteve resposta.

A companhia retirou estas outras imagens, e agora o seu texto de apresentação da equipe diz: “nós temos uma equipe muito profissional. A maioria deles deseja manter a confidencialidade e todos podem entender”. Mas isso não se justifica, já que a primeira coisa que a maioria das grandes empresas de moedas digital fazem é apresentar sua equipe de desenvolvedores e diretores para mostrar a força do projeto. Aqui não existe uma pessoa conhecida ou com um “background” no assunto.

Apesar de todas as dúvidas que este projeto levanta, não existe nada de ilegal – por enquanto – nele. A questão é que o mundo das criptomoedas ainda tem grandes riscos e há pelo menos dois anos se vê muitos casos de fraude e golpes em investidores e empresas e por conta disso é preciso redobrar a atenção antes de fechar negócio.

E todos esses problemas apontados, desde o site até o whitepaper, levantam muitas dúvidas que levam especialistas a sugerirem ficar fora deste projeto neste momento. Existem muitos mais motivos para duvidar desta moeda digital do que para acreditar que a IVI pode crescer e se tornar algo útil e lucrativo. O investidor precisa ter cuidado e esperar – e Atlético e Corinthians deviam ter feito o mesmo.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.