Conheça os investidores que perderam muito na Bolsa e veja o que aprender com eles

Os casos de pessoas que perderam quase todos seu patrimônio com ações como OGX e Agrenco

Felipe Moreno

Publicidade

SÃO PAULO – O investidor Fernando Paganini perdeu muito dinheiro com as ações da OGX, a empresa pré-operacional de petróleo criada pelo ex-bilionário Eike Batista. Paganini chegou a aplicar R$ 400 mil nos papéis. A maior parte dos recursos foi investida entre 2010 e 2011, quando havia perspectivas extremamente positivas de que a companhia alcançaria uma capacidade de produção de mais de 1 milhão de barris por dia em um período de uma década.

A outra parte do investimento foi feita há pouco mais de um ano, logo que Eike prometeu injetar US$ 1 bilhão na empresa caso os conselheiros independentes da empresa julgassem necessário. Sem nenhum membro independente no conselho, coube à diretoria pedir para que Eike cumprisse a promessa neste ano – algo que, até o fechamento desta edição, ele não concordava em fazer. Desde a primeira vez em que colocou dinheiro na Óleo e Gás Participação – a ex-OGX Petróleo (OGXP3) -, Paganini não reduziu sua posição no papel e garante que não pretende fazê-lo.

Ele afirma que, assim como outros acionistas da empresa, nunca teve fins especulativos no investimento e que se sente enganado. “Eu nunca iria investir em uma empresa pré-operacional, não queria correr esse tipo de risco. A OGX não fez meras projeções. Ela deu como certo que haveria a produção, diferentemente de outras petrolíferas como a HRT (HRTP3) e a Queiroz Galvão (QGEP3)”, diz ele.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Em diversos fatos relevantes ou entrevistas de executivos, a OGX divulgou ao mercado projeções e promessas que nunca conseguirá entregar. A empresa vive uma situação semifalimentar, tem atrasado pagamentos a fornecedores, possui uma dívida impagável e não deve ter caixa para ir muito longe – a menos que surja um fato novo extremamente positivo. Mas tudo isso não era conhecido pelo mercado até o final do ano passado.

Há dois anos, na verdade, a OGX era uma das principais estrelas da Bolsa. Suas ações tinham o terceiro maior peso no Ibovespa, a principal índice do pregão paulista. Em 2010, os papéis atingiram a cotação máxima de R$ 23,39, uma forte valorização em relação ao preço definido na época do IPO (oferta inicial de ações). A queda de 99% registrada nos três anos seguintes não foi nem de longe antecipada por nenhum analista de mercado.

Paganini considera que houve má-fé do controlador da empresa na divulgação das promessas. Ele se juntou a um grupo de acionistas da OGX para contratar o escritório Bornholdt Advogados*, de Joinville, em Santa Catarina, atrás de uma reparação pelos prejuízos. João Fábio da Fontoura, advogado do escritório, destaca que é importante separar o caso da OGX de muitas outras perdas que já aconteceram na Bolsa. As projeções e informações passadas pela companhia caracterizavam, segundo ele, um caso de manipulação. O advogado ressalta que atualmente as regras para punições e até mesmo para a verificação de más condutas no mercado de capitais são muito brandas e que as leis que visam dar transparência à divulgação de informações ainda são bastante frágeis. Fontoura diz também que deve haver toda uma sistemática legal em termos de divulgação de regras contábeis e de anúncio de descobertas, uma vez que elas são os principais guias para os investidores – o que não ocorreu com a OGX.

Continua depois da publicidade

Caberá a Justiça e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) avaliar se Eike e a empresa forjaram boas notícias ou se enganaram. Mas isso não exime o investidor de ser diligente na hora de direcionar parte do patrimônio para a Bolsa. Quem aplica em ações deve estar ciente da possibilidade de perder dinheiro, já que o mercado de ações oferece, ao mesmo tempo, a chance de alcançar enormes ganhos em um curto período de tempo e o risco de ter a riqueza destruída de forma igualmente rápida. No caso da OGX, o setor de petróleo é ainda mais arriscado que a média porque a experiência mostra que extrair o “ouro negro” do fundo dos mares é sempre mais caro e mais difícil do que se imagina. A própria Petrobras divulga constantemente perdas que chegam à casa dos bilhões de reais com poços cuja viabilidade acaba não sendo a esperada. Para piorar, a OGX, ainda em estágio pré-operacional, não gera caixa suficiente para suportar eventuais erros na campanha exploratória sem precisar pedir mais dinheiro emprestado – o que pode ser mortal para uma empresa.

Todo o contexto, portanto, sugeria uma postura extremamente cautelosa ao investidor, que deveria primeiro entender os riscos para só depois colocar uma parte do próprio dinheiro, de preferência bem pequena, num papel de uma empresa pré-operacional. Mas não foi isso que aconteceu. “Não li o prospecto antes de comprar minhas ações da OGX em 2010. Não sabia que a empresa tinha tanto risco assim, apostei pesado e as coisas não saíram como eu queria”, diz o investidor e engenheiro Fábio Nunes, que inicialmente comprou 5 mil ações da petrolífera por R$ 15 cada – desembolsando ao todo R$ 75 mil. À medida que os papéis caíam, Nunes continuava comprando ações – o que elevou ainda mais seu prejuízo. No total, ele possuía 8 mil ações OGXP3 no início de setembro e já tinha perdido aproximadamente R$ 100 mil.

Outros casos
A OGX é apenas um entre tantos casos de agruras na Bolsa. A Agrenco, que teve a falência decretada em agosto, gerou perdas para Paulo Márcio, que trabalha em uma fábrica de papel e celulose. Ele investiu no papel em meio a um momento de forte oscilação nas cotações, às vésperas de a companhia ter a falência decretada. Paulo Márcio afirma que percebeu que os BDRs (brazilian depositary receipts, ou recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na Bovespa) tinham fortes oscilações frequentemente e investiu R$ 10 mil. A expectativa dele era de que, na reunião de credores da Agrenco (AGEN33), fosse dado um parecer favorável ao plano de recuperação e que os BDRs disparassem. Mas não foi isso o que aconteceu: os credores não chegaram a um acordo e, com a decretação da falência, os papéis deixaram de ser negociados em Bolsa. Em meio ao processo de falência, ele chegou a temer que os seus bens pudessem ser bloqueados para o pagamento dos credores. “Já tinha investido em ações de empresas que entraram em recuperação judicial, mas, em falência, nunca”. Desse risco, no entanto, os minoritários estão livres. No processo de falência, os acionistas estarão na última linha de prioridades de pagamentos à medida que os ativos vão sendo vendidos, mas não existe o menor risco de um minoritário ter seus bens bloqueados para pagar credores.

Justiça
Ainda que perdas na Bolsa geralmente não justifiquem indenização judicial aos acionistas, há casos em que isso já aconteceu. Uma decisão judicial inédita, concedida em junho, abriu um importante precedente. O advogado Anderson Albuquerque conseguiu reaver R$ 300 mil investidos nas ações do PanAmericano, alegando que perdeu 45% do capital devido à maquiagem das informações contábeis fornecidas pela instituição financeira. A fraude no banco que pertencia ao apresentador Silvio Santos é considerada um dos maiores escândalos da Bolsa brasileira. A instituição financeira ainda pode recorrer. Conforme destaca Fontoura, a decisão da Justiça é mais um ponto favorável ao mercado de capitais brasileiro porque inibe a prática de crimes semelhantes no futuro. “Aqueles que se sentiram enganados devem buscar os seus direitos. A Bolsa não é um cassino”, diz ele. Para os desolados da Bolsa, no entanto, só resta esperar que o entendimento da Justiça não mude em instâncias superiores.

Essa matéria foi publicada na edição 47 da revista InfoMoney, referente ao bimestre novembro/dezembro de 2013. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

* Atualizado dia 28/01: O escritório Bornholdt Advogados não trabalha mais com o caso de minoritários da empresa Óleo e Gás Participações, antiga OGX Petróleo