Como ficou a eleição para o Congresso dos EUA e por que os investidores “comemoram” mesmo sem uma definição

Definição do Senado nos EUA só irá acontecer em janeiro, com o segundo turno na Geórgia, mas analistas já descartaram a chamada "onda azul"

Rodrigo Tolotti

(Robert Alexander/Getty Images)

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SÃO PAULO – Tão importante quanto a eleição para presidente, a disputa para o Congresso dos Estados Unidos era o grande centro das atenções dos investidores. A preocupação estava com a chance da chamada “onda azul”, em que democratas teriam a presidência e também o controle da Câmara dos Representantes e do Senado.

De um lado, a vitória de Joe Biden tirou a questão da incerteza. Mesmo com Donald Trump contestando, analistas veem pouca chance do atual presidente mudar o resultado na Justiça, ainda mais com o democrata a caminho de conquistar 306 delegados, contra 270 necessários para vencer, o que dificulta ainda mais as chances do republicano conseguir uma grande virada na situação geral.

Do outro, mesmo com a apuração ainda em andamento, este controle democrata do Congresso já foi praticamente descartado – e isso é o que mais está animando os investidores.

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Ainda no dia anterior à eleição, os índices americanos registraram forte alta conforme as pesquisas mostravam que este seria o cenário e, nos dias seguintes, o movimento continuou.

O índice S&P 500 deu um salto de 2,2% na quarta-feira, sendo o melhor desempenho no dia após a eleição presidencial nos EUA, segundo dados da Sundial Capital Research, considerando uma base desde 1932.

No acumulado da última semana, o Dow Jones saltou 6,9%, enquanto o S&P 500 avançou 7,3%, ao passo que o Nasdaq teve ganhos de 9%.

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A ideia de ver o partido com maioria nas duas casas legislativas trazia preocupação porque abria espaço para que Biden conseguisse aprovar facilmente pautas que não agradam o mercado, como o aumento de impostos para empresas (veja as propostas dele clicando aqui).

Além disso, ter um Congresso dividido também ajuda a garantir um maior controle dos gastos. Os democratas costumam elevar os gastos públicos e no cenário atual já há a intenção de grande estímulos, o que sem maioria no Senado será melhor negociado e não deve resultar em um pacto 100% como gostaria o partido.

Leia também: Medo de aumento de impostos? Passado favorável? Como os investidores devem reagir à vitória de Joe Biden

Este cenário também implica em fazer o Federal Reserve continuar a injetar dinheiro barato na economia e manter os custos de empréstimos em seus atuais baixos níveis históricos.

“Embora muita atenção tenha sido dada a Trump versus Biden, os mercados reagiram fortemente à provável divisão do Congresso, o que significa mais confiança de que as taxas de juros serão menores por mais tempo”, disse Dave Wang, gerente de portfólio da Nuveen Capital em Cingapura.

Sem “onda azul”

Mas apesar de todo o otimismo, quem olha para a situação nesta segunda-feira (9) para a corrida ao Congresso pode estranhar a empolgação, já que, pelos números, ainda é possível os democratas assumirem a maioria no Senado.

Até o início da tarde, a Associated Press apontava 48 cadeiras no Senado para os republicanos e 46 para os democratas, sendo que outros partidos ainda têm duas cadeiras mas, atualmente, eles apoiam o partido de Biden. Por isso, em sites como a CNN, a disputa esta empatada em 48 a 48.

Restam 4 cadeiras em disputa, uma da Carolina do Norte, uma do Alaska e duas na Geórgia. As duas primeiras já dão apontadas como certas para o republicanos, restando apenas um anúncio oficial.

Com isso, o partido de Trump já teria 50 assentos, restando um para manterem a maioria. Porém, os democratas poderiam atingir o mesmo número de vagas. Em votações empatadas no Senado, o vice-presidente ganha o voto de minerva e, com a vitória de Biden e Kamala Harris, os democratas ficam com a maioria nesse cenário.

Mas, ainda assim, é muito difícil que os democratas consigam chegar a esta situação. Segundo Victor Scalet, analista político da XP Investimentos, o mercado de apostas vê uma chance de 2/3 de que os republicanos fiquem com as duas vagas da Geórgia, o que levaria a configuração do Senado para 52 a 48. E, para ele, esta chance pode ser considerada ainda maior.

A decisão das duas vagas na Geórgia acabou adiada para dia 5 de janeiro, já que nenhum candidato conseguiu 50% dos votos, o que é necessário no estado para se vencer em primeiro turno.

“Se sonharem muito alto, os democratas ficariam com uma destas vagas”, afirma Scalet, explicando ainda que, em votações importantes, ter 50 assentos e mais o voto de minerva não garante a vitória.

“Imagina um senador da Pensilvânia votando para acabar com a indústria de petróleo no estado? Mesmo sendo democrata, ele votaria contra”, explica. O estado é conhecido por uma grande indústria focada no chamada fraturamento hidráulico do xisto para produzir petróleo e gás.

E por conta disso, o mercado já consegue descartar a “onda azul” de acontecer, mesmo que os democratas consigam o melhor cenário para eles, de empate no Senado. “Onda azul seria ter ficado com 3 ou 4 assentos de vantagem”, completa o analista.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.