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SÃO PAULO – O mercado de criptoativos hoje é bastante vasto, com milhares de moedas digitais disponíveis para diferentes finalidades, que vão muito além da proposta de ser um novo meio de pagamento. Atualmente existem projetos de finanças descentralizadas (DeFi), estruturas que permitem empréstimos, jogos com recompensas, entre outros.
O Bitcoin (BTC), criado em 2009, foi a primeira moeda digital descentralizada e até hoje sustenta o posto de maior criptomoeda do mundo em valor de mercado. Mas tão logo ele surgiu, outros ativos digitais foram lançados, sendo chamados de altcoins (moedas alternativas), caso do Ethereum (ETH), XRP (XRP) e Litecoin (LTC), para citar alguns.
Com o aumento da oferta de criptos, não só começaram a surgir ativos concorrentes entre si, focados na mesma proposta, como também apareceram muitos golpes e moedas que são apenas brincadeiras, sem fundamentos sólidos, mas que mesmo assim já fizeram muitas pessoas ficarem ricas.
Para esse tipo de ativo surgiu um outro termo no mercado, shitcoins (moedas de m****), onde também podemos incluir as chamadas meme coins (moedas criadas como memes de internet). Dentro desta categoria, apesar do aumento de histórias de pessoas que ganharam muito dinheiro nos últimos meses, existem muitos casos de menor destaque de quem perdeu tudo, e é aí que mora o perigo.
Um dos casos mais famosos é o da Dogecoin (DOGE), que apenas em 2021 já tem valorização de mais de 4.200%, e que foi criada a partir do meme do cachorro conhecido como Doge e que se propõe a ser uma alternativa mais rápida e “divertida” ao Bitcoin, mas sem uma grande estrutura de desenvolvimento por trás.
E mesmo com especialistas reforçando a falta de fundamentos e de um sistema decente no projeto da Dogecoin, grupos de investidores pessoa física se uniram para investir na moeda, impulsionados por comentários positivos do CEO da Tesla, Elon Musk.
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Segundo explica Safiri Félix, diretor de produtos e parcerias da Transfero, a estrutura básica para se avaliar um bom projeto cripto é: apelo da narrativa (se o projeto parece promissor); comunidade (se tem um grupo ativo por trás); e tecnologia (seu desenvolvimento e potencial).
E nesse sentido, o estouro parcial da Dogecoin se dá muito pelo lado bastante ativo de sua comunidade de investidores. “A Doge se destacou porque, mesmo sem grandes diferenciais tecnológicos, tem uma comunidade super engajada e a narrativa do meme pegou”, afirma.
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Foi neste cenário que o brasileiro Glauber Contessoto, 33, ganhou destaque no noticiário internacional ao se tornar milionário com a Dogecoin. Morando nos Estados Unidos desde os seis anos, ele viu Musk falar da criptomoeda e decidiu arriscar tudo no projeto.
Ele vendeu todos os investimentos que possuía, pediu dinheiro emprestado para familiares e comprou tudo em DOGE no dia 5 de fevereiro deste ano, cerca de US$ 200 mil. Em três meses a moeda disparou 12.000% e ele passou a ter mais de US$ 2 milhões.
Mas Contessoto ainda não viu essa história chegar ao fim e esse é um caso isolado, já que ele mesmo não costuma ter uma estratégia para encontrar outras oportunidades. Em suas redes sociais ele já explicou diversas vezes que “comprou” o projeto da Dogecoin e que acredita em seu potencial. Em resumo, para ele, essa cripto não é uma shitcoin.
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Com essa visão, inclusive, o brasileiro deixou de ser milionário por algumas semanas após uma queda forte da DOGE nos últimos meses, retomando esse patamar apenas na última semana com uma recuperação dos preços. Mesmo assim, ele diz que não pretende vender os ativos.
“Continuo comprando, porque acho que estes movimentos são parte da dinâmica do mercado. Eu acredito que dogecoin pode valer US$ 1, US$ 2, US$ 3 e que o Musk apontou os problemas na mineração do bitcoin para que as pessoas procurem outras soluções, como DOGE”, disse ele em entrevista para a CNN.
Atualmente a Dogecoin é cotada em torno de US$ 0,25, mas já sofreu muita volatilidade no ano, saindo de praticamente zero para quase US$ 0,70 em maio, veja:
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As shitcoins
Assim como a Dogecoin, outros projetos têm chamado atenção com valorizações astronômicas em um curto espaço de tempo, o que se enquadra como uma das principais características desses ativos.
Além disso, especialistas citam mais dois pontos para ficar de olho e conseguir identificar uma shitcoin: a falta de valor do token e o seu projeto sem propósito definido. Se uma moeda se encaixar nesses padrões é um sinal importante de que ela pode ser uma shitcoin.
Estudar se torna um passo importante nesse momento para que o investidor possa conseguir separar o que é uma shitcoin de um projeto que acabou de ser criado e que tem algum potencial. O chamado whitepaper, documento que serve para explicar os conceitos básicos e ideias de um projeto, é essencial para se entender as intenções de uma cripto e indicar se ela tem futuro e ele costuma ficar público no site dos ativos.
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Dois exemplos famosos para se entender o mercado são as criptos Shiba Inu (SHIB) e Doge Killer (LEASH). As duas estão com fortes valorizações nos últimos meses e têm atraído investidores desavisados dos riscos.
No caso da SHIB, o valor unitário é tão baixo, que até abril, ela era cotada na casa de US$ 0,0000001, para de repente disparar até US$ 0,000034 no início de maio, uma alta de cerca de 34.000% e que mesmo assim ainda manteve a cripto com um baixo valor de face. Desde então, o que se vê é uma volatilidade que consegue superar a da maioria das moedas digitais mais famosas, veja no gráfico abaixo:
Uma rápida olhada nos projetos de SHIB e LEASH mostra a falta de perspectivas. Ambos se vendem apenas como substitutos da Dogecoin, ganhando o apelido de “matadoras de Doge”. Não existem muitas explicações das aplicações de tecnologia, dos desenvolvedores e nem dados técnicos mais completos.
Outros tokens que são muito comentados e são considerados shitcoins são SafeMoon, Akita Inu, e alguns que costumam ter nomes de outras criptos mais conhecidas, caso de Baby Cake (baseda na PancakeSwap) e BabyUni (baseada na UniSwap).
Mais do que serem criptos sem nenhum potencial, elas também facilitam a aplicação de golpes, tanto por parte dos criadores, que lançam o ativo, fazem propaganda e, depois que o preço dispara, somem embolsando o lucro.
Isso também pode ser feito por um grande investidor, que aproveitando o baixo valor unitário desse tokens compra uma grande quantidade, levantando o preço e fazendo outros investidores comprarem na empolgação, para logo em seguida vender tudo e deixar os outros no prejuízo, uma prática conhecida como “pump and dump” (“inflar e largar”, em tradução livre).
Mesmo assim, tem sido comum encontrar histórias de pessoas que estão acertando a hora de comprar e vender shitcoins, ganhando altas quantias em dinheiro rapidamente.
“Não dá para você contar que isso vai ser regra […] Isso é ganhar dinheiro na sorte, isso aqui é loteria, não dá para esperar que você vai conseguir ganhar dinheiro com shitcoin desse jeito”, avalia o trader profissional Vinícius Terranova.
“Para o cidadão normal, o ideal é: tenta não jogar na loteria, investe nas coisas mais certinhas, mais tranquilas, como Bitcoin e Ethereum, porque a realidade é essa, você não pode esperar que você vai colocar dinheiro em shitcoin e que ela vai explodir”, afirma.
A sorte na prática
A relação de Terranova com as criptomoedas teve início em 2011, quando ele aproveitava os computadores mais potentes do seu trabalho para minerar Bitcoin, época em que a moeda digital custava cerca de US$ 3.
O problema é que em um dia de crise no setor de petróleo, em que sua empresa atuava, foram demitidos cerca de 80% dos funcionários da companhia. “Só que a política da empresa é apagar todos os computadores enquanto a pessoa está no RH, então os bitcoins que eu minerei já eram”, conta.
Desde então, ele começou a se envolver mais com o mundo dos criptoativos, investindo em diferentes moedas e realizando trades. Em 2020, Terranova explica que estava “brincando” de procurar moedas menores para investir quando encontrou a Shiba Inu.
Terranova acabou entrando no projeto logo em seu lançamento, pagando cerca de US$ 400 por trilhões de tokens SHIB, que por sua vez ele decidiu realizar o chamado “staking“, quando um investidor aplica suas criptos em um protocolo na expectativa de receber um retorno em cima do montante depositado para criar liquidez.
Leia também: Shiba Inu: o que está por trás da disparada repentina de quase 400% da criptomoeda
Ele então aplicou suas SHIB em outra criptomoeda desconhecida, a LEASH. E com toda essa “brincadeira”, Terranova viu na prática o mundo de sorte das shitcoins. Isso porque, encerrado o processo de staking, ele decidiu vender todas as suas SHIB, que estavam largadas no mercado sem nenhuma expectativa de crescimento. Com isso, ele conseguiu de volta os seus US$ 400.
Mas o que ele não imaginava é que haveria uma explosão de compras da criptomoeda, também impulsionada por falas e brincadeiras de Musk, e que ela iria disparar mais de 1.000.000%. Hoje, aquele investimento inicial dele renderia cerca de US$ 22 milhões. Na máxima da SHIB, atingida em maio desse ano, seriam mais de US$ 100 milhões.
Mas se de um lado ele deixou essa oportunidade passar, as LEASH ficaram esquecidas em sua carteira por um tempo, até que recentemente ele lembrou e se desfez dos ativos, o que por outro lado rendeu dinheiro suficiente para a reforma do seu apartamento.
“Essa é uma história de ganhar muito dinheiro com shitcoin logo depois de deixar passar a maior oportunidade desde a pizza paga com Bitcoin”, diz ele lembrando do dia, em 2010, em que uma pessoa pagou 10 bitcoins (R$ 3 bilhões na cotação de hoje) em duas pizzas, caso que ficou conhecido como “Bitcoin Pizza Day”.
Escolhendo shitcoins
Mas se para ganhar muito dinheiro com shitcoin é preciso contar com sorte, ainda antes disso a estratégia e conhecimento também são muito importantes.
“Networking é algo muito importante nesse meio”, afirma Terranova, explicando que passa horas em grupos fechados na internet e estudando projetos antes de tomar algum tipo de decisão de investimento, mesmo quando sua intenção é “brincar” é preciso saber com qual ativo se arriscar.
Quando começou a focar mais no mercado cripto, o trader conseguiu acesso a alguns grupos com nomes grandes do meio, que juntos se ajudam a encontrar oportunidades de ganho no curto prazo. Com esses acessos, ele ganhou mais relevância e hoje também ajuda outros investidores.
E dentre esses investidores está uma analista de projetos de 25 anos, que preferiu não ser identificada, que apesar de se definir com um perfil “mais conservador” de investimento, já está no meio cripto.
“O networking é a base principal para você conseguir encontrar projetos. Você precisa ter amizade com pessoas do meio, ver o que o pessoal está investindo, o que está sendo discutido, qual a tecnologia que está se destacando”, afirma ela.
Ela explica que não costuma arriscar nas shitcoins, mas tenta encontrar boas oportunidades dentre as criptos mais desconhecidas, como ocorreu com o caso da Katana, um projeto no mundo de DeFi que multiplicou por 27 vezes o capital investido por ela.
“Quando eu procuro um projeto, eu olho muito o fundamento dele, porque se for olhar para trade, é muito análise técnica, mas para escolher um projeto para investir mesmo e pensar em um retorno interessante eu vejo muito o fundamento dele, os desenvolvedores, todo o contexto daquele projeto”, explica.
Atualmente ela diz estar investida apenas em uma cripto chamada MoonBear.finance (MBF), além das moedas tradicionais como Bitcoin e Ethereum. Esse token tem uma proposta voltada para ESG, ajudando a causa do Urso-Negro-Asiático, também conhecido como Urso-Lua, e que sofre risco de extinção.
Com um sistema diferenciado de taxação, em que os investidores pagam taxas maiores quando vendem, esse projeto também dá maiores recompensas para quem segura o ativo em carteira. “Já ganhei 5 vezes com ela”, diz a analista de projetos.
A ideia parece boa, mas não é recomendada
Apesar dos ganhos atrativos, especialistas não recomendam investimentos em shitcoins, principalmente para quem for novato ou não estiver disposto a estudar e passar horas em frente às cotações fazendo trades.
Para Safiri, o principal entendimento é que é preciso separar o capital especulativo das alocações estruturais, ou seja, para quem quiser se arriscar com essas criptos menores, a ideia é separar apenas uma pequena parcela do total da carteira, e de preferência com um valor que não fará falta caso seja totalmente perdido.
“Gerenciamento de risco é a chave, operar com stop móveis”, explica ele citando o uso da ferramenta de travas de preço que fazem a venda automática dos ativos em caso de queda, limitando assim as perdas.
Ele diz ainda que operar com shitcoins é um “jogo de fluxo”, em que é preciso entender o momento certo de entrada e saída para que possa render muito. “No geral, são ativos que podem gerar oportunidades pontuais pra ganhar dinheiro, mas em sua maioria tendem a ser irrelevantes no longo prazo”, avalia.
Mais do que entender desses mecanismos do mercado, existem outros dois pontos importantes para qualquer investidor desse mercado, como destaca Terranova: “estudo e networking”.
“É muito legal saber que o SHIB deu um dinheiro para algumas pessoas, que LEASH me deu dinheiro, mas a realidade é que você não pode contar com esses projetos, porque isso aqui está encalhado, foi o Elon Musk falando, e ele só tem impacto real nessas besteiras. Ele não tem impacto no Bitcoin como as pessoas acham”, afirma o trader.
Ele diz que já ganhou muito dinheiro com criptomoedas que ele sabia que não iam dar em nada, mas que mesmo para operá-las é preciso ter informação, algo que, segundo ele, só é possível estando em grupos fechados e conversando com pessoas dentro do meio como ele consegue, o que não é muito acessível para o público em geral.
“Coloca dinheiro no Ethereum, no Bitcoin, que são criptomoedas estabelecidas e têm fundamentos por trás. Hoje ninguém vai ficar rico com o Bitcoin, mas é um primeiro passo”, recomenda Terranova. “O caminho é conscientizar as pessoas que, embora tem gente fazendo dinheiro para mudar a vida nisso [shitcoins], não é regra, não é o que você deve seguir. Dinheiro não vem fácil”.
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