Com embate fiscal e político na Argentina, títulos da dívida caem e risco-país sobe

Calcula-se que decisão da Câmara sobre reajustes nas aposentadorias tenha um custo fiscal de 0,4% do PIB; Milei chamou os deputados de "degenerados fiscais" em discurso a empresários

Roberto de Lira

Congresso da Argentina - 02/02/2024 (Foto: Agustin Marcarian/Reuters)
Congresso da Argentina - 02/02/2024 (Foto: Agustin Marcarian/Reuters)

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Os mercados continuam a punir a Argentina nesta quarta-feira (5) por conta do noticiário político e econômico dos últimos dias. Além dos atrasos na apreciação da Lei de Bases e do ajuste fiscal no Senado e do vencimento de um swap cambial com a China, o que tem pesado agora é a aprovação pela Câmara de uma nova fórmula de cálculo dos reajustes das aposentadorias.

Calcula-se que essa medida tenha um custo fiscal de até 0,4% do PIB.

Ao longo das últimas horas, os títulos da dívida argentina experimentaram forte queda e o risco-país ultrapassou os 1.500 pontos, enquanto ações do índice Merval e ADRs de empresas argentinas tentavam buscar uma recuperação, após fortes perdas.

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Os títulos soberanos em moeda forte estão acelerando seu declínio por razões econômicas e políticas. A tendência que começou a ser vista neste mês continua.

Segundo o jornal Ámbito Financiero, os títulos Global 2046 recuavam -5,1%, enquanto o Global 2038 caía -2,5% e o Bonar 2029 retraía -1,8%. Os que tinham virado a tendência no início da tarde era o Global 2041 (+0,6%) e o Bonar 2030 (+0,2%).

O índice Merval da Bolsa estava há pouco perto da estabilidade, após abrir a sessão em queda. Ainda assim papéis como os da Ternium caíam -2,1%, os da Sociedad Comercial del Plata perdiam -2%, os do Banco Macro desciam -0,7% e BYMA recuavam -0,6%. Por outro, mostravam recuperação as ações da Edenor (+3,3%), YPF (+2,8%) e Loma Negra (+2,8%).

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Quanto às ações de empresas argentinas que operam em Wall Street, a tendência do mercado acionário local estavam operando em alta, após forte queda ontem. Os aumentos estavam sendo liderados por Edenor (+4%), YPF (+3,5%) e Loma Negra (+2,6%).

“Degenerados fiscais”

Em palestra para empresários, o presidente Javier Milei voltou a bater forte no Congresso, chamando os deputados que aprovaram as mudanças previdenciárias de “degenerados fiscais”.

 “Vou vetar tudo, me importa três carajos (sic)”, afirmou, reforçando seu linguajar característico.

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O presidente ainda se gabou de ter “demitido 25 mil funcionários públicos” e antecipou que vai “demitir mais 50 mil”.

Aos empresários, Milei disse que, para levantar o controle cambial, conhecido como “cepo”, precisa principalmente “acabar com o problema dos passivos remunerados” do Banco Central e depois com o problema das colocações para os bancos, o que, explicou, está “no caminho certo”. “Estamos trabalhando para resolver esse problema, quando o fizermos, ‘tchau cepo’”, disse.

O mercado de dólar, por sua vez, experimenta um dia mais calmo, após estabelecer novos recordes nominais históricos. Os chamados dólares financeiros CCL e MEP, usados por empresas e exportadores, estão em queda hoje, embora ainda estejam sendo cotados acima dos 1.300 pesos.

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Já o dólar blue, a cotação paralela da moeda americana mais utilizada na Argentina, estava sendo negociado a 1.225 para compra e 1.255 para venda nesta quarta-feira. Em 27 de maio, após a queda na taxa de juros e em meio ao noticiário político adverso, ele havia fechado em 1.280, sua máxima nominal histórica.