China não freia mineração de Bitcoin um ano após banimento

O hashrate relatado caiu para zero dois meses após o país banir a atividade, mas desde então retornou abruptamente

CoinDesk

(Shutterstock)

Publicidade

*Por George Kaloudis

Na semana passada, o Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge (CCAF, na sigla em inglês) divulgou um update para seu altamente citado (e com razão) Índice de Consumo de Eletricidade do Bitcoin (CBECI, em inglês), que em parte procura descobrir e compartilhar a localização geográfica dos mineradores de Bitcoin (BTC) espalhados pelo mundo.

A atualização anterior do CCAF mostrou que a participação de mineração da China havia passado de 34,3% em junho de 2021 para 0,0% em julho de 2021, após uma proibição da atividade no país. O update da semana passada, no entanto, mostrou que a participação da China na mineração passou de 0,0% em agosto de 2021 para … 22,3% em setembro de 2021.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Claramente, algo está acontecendo aqui, então vamos explicar. Enquanto estivermos fazendo isso, também abordaremos dois outros tópicos relacionados à mineração de Bitcoin: 1) o hashprice, uma medida da receita diária dos mineradores por terahash de poder de computação e 2) problemas das empresas de mineração.

A China proibiu a mineração de Bitcoin em maio de 2021, e o embate do país contra a atividade apareceu nos dados. Em julho, praticamente não havia mineradores “fabricando” BTC na nação asiática. O mesmo cenário foi visto em agosto. Então, em setembro, quase todos os mineradores que saíram voltaram. Pelo menos, é o que os dados mostram:

Talvez não seja óbvio, então vou dizer: os mineradores não saíram do país. Mover operações de mineração não é exatamente fácil. As instalações, em sua maioria, não são gerenciadas por um punhado de amadores brincando; o Bitcoin há muito passou dessa fase. As mineradoras são mais apropriadamente caracterizadas como operações comerciais, que pagam valores altos por arrendamentos ou aluguéis e que dependem de acordos sofisticados de compra de energia para eletricidade.

Continua depois da publicidade

As operações de mineração de Bitcoin são mais como mega instalações.

A razão pela qual os dados de mineração ficaram zerados na China se deve ao método de coleta de informações empregado pelo CCAF. O centro da Universidade de Cambridge fez parceria com pools de mineração de BTC para coletar dados de instalações de mineração geolocalizadas com base em endereços IP (os pools permitem que muitos mineradores diferentes contribuam para a mineração, e a recompensa é então dividida entre eles de acordo com sua contribuição de processamento para suavizar a renda individual do minerador). É aí que reside a questão, e o CCAF alerta afirmando o seguinte:

“Não é nenhum segredo na indústria que [mineradores] em determinados locais usam redes privadas virtuais (VPNs) ou serviços de proxy para ocultar seus endereços IP para ofuscar sua localização. Tal comportamento pode distorcer a amostra e resultar em uma superestimação (ou subestimação) do hashrate em algumas províncias ou países”.

Então a história real do que eu acho que aconteceu aqui é bem chata.

  1. Mineradores chineses temiam que a repressão do governo fosse séria, então eles mentiram ou falsificaram seus dados de localização e se mudaram para o subsolo.
  2. Depois de algum tempo, os mineradores do país pensarem “Ei, isso não parece tão assustador”, e então se sentiram à vontade para compartilhar seus dados reais.

É isso. Como eu sugeri: realmente muito chato.

Entretanto, isso não é realmente toda a verdade. As instalações de mineração de Bitcoin mais evidentes movimentaram pelo menos parte de suas operações, e o crescimento da mineração fora da China, principalmente nos Estados Unidos, está bem documentada. Para destacar isso, o hashrate – o poder computacional da rede Bitcoin – cresceu 40% desde a proibição da China. O CCAF, reconhecendo a estranheza dos dados, publicou um post em seu blog sobre a atualização, e disse o seguinte:

“Mais notável, porém, é o aparente retorno da China. Após a proibição do governo em junho de 2021, o hashrate relatado para todo o país caiu para zero durante os meses de julho e agosto. No entanto, o hashrate relatado subiu repentinamente para 30,47 EH/s em setembro de 2021, catapultando instantaneamente a China para o segundo lugar global em termos de capacidade de mineração instalada (22,29% do mercado total). Isso sugere fortemente que uma significativa atividade de mineração subterrânea se formou no país, o que confirma empiricamente o que os especialistas do setor vêm assumindo há muito tempo.”

A palavra de destaque aqui é “relatada”. Então, sim, acontece que a China pode de fato banir a mineração de Bitcoin novamente, e um FUD (medo, incerteza, dúvida) gerado pelo país pode surgir no futuro. Alternativamente, talvez todos estejam brincando conosco e usando VPNs para mudar sua localização na China para dificultar meu trabalho.

“Hashprice” e os problemas das mineradoras

Em meio à queda de preço do Bitcoin, também há alguma preocupação com os mineradores da criptomoeda e sua lucratividade. Existe uma métrica desenvolvida pela Luxor Technologies chamada hashprice que representa o valor esperado da atividade. O hashprice é expresso como um dólar por terahash por dia, sendo um terahash o poder computacional fornecido pelo equipamento de mineração.

O hashprice caiu devido a 1) queda do preço em dólares do BTC, 2) mais mineradores online e 3) aumento da dificuldade de rede subsequente (a rede ajusta a dificuldade de minerar aproximadamente a cada duas semanas, com base na quantidade de poder de mineração ativo). Isso não é exatamente esperançoso, mas faz sentido. E o declínio está agindo como uma função de forçar as operações de mineração a trabalharem pesado ou fecharem. Muitos profissionais da indústria estão alertando que este é o momento em que “somente os fortes sobreviverão”.

Em teoria, os mineradores desligam suas máquinas sempre que os preços do Bitcoin caem significativamente – quando isso acontece, mantê-las funcionando deixa de ser rentável. Desta vez, embora o hashprice tenha diminuído, não vimos esse tipo de queda e temos os registros das mineradoras de capital aberto para provar isso. Todos as mineradoras públicas responderam mais ou menos assim: “Estamos minerando Bitcoin, queremos minerar mais a criptomoeda, vamos manter o máximo possível do BTC que mineramos e vamos usar outras fontes de capital para financiar operações e crescimento.”

Isso pode ser bom, mas vale lembrar que essas mineradoras sentem mais pressão, pois muitas vezes precisam responder a entidades que fornecem capital. Além disso, se o mercado piorar, essas empresas podem precisar fazer algo, como começar a vender seus Bitcoins. Elas não são companhias com balanços semelhantes aos da Apple ou do Google; elas mais se assemelham a startups que negociam nos mercados públicos.

Dito isto, não há razão especial para se preocupar com a indústria de mineração como um todo. A produção de BTC será boa, mas o elenco de personagens pode mudar, pois os mercados de capitais estão disponíveis até o momento em que não estão. O Bitcoin será melhor para isso, mas pode haver alguma dor no nível da empresa.

*George Kaloudis is a research analyst for CoinDesk Research

CoinDesk

CoinDesk é a plataforma de conteúdos e informações sobre criptomoedas mais influente do mundo, e agora parceira exclusiva do InfoMoney no Brasil: twitter.com/CoinDeskBrasil