CEO do Itaú prevê “ventos contrários” para 2020, mas por que as projeções pós-balanço animaram a ação?

2019 foi considerado sólido, mas 2020 é visto como desafiador: contudo, ação reage em alta em meio ao sinal de corte de custos e espera por melhora em 2021

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Mais um resultado de grande banco foi bem recebido pelo mercado: desta vez, foi o Itaú Unibanco (ITUB4) que trouxe números sólidos, fechando o quarto trimestre de 2019 com lucro líquido recorrente de R$ 7,296 bilhões, uma alta de 1,9% ante o mesmo período de 2018, e um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) de 23,7%. O resultado ficou em linha com a projeção de R$ 7,28 bilhões dos analistas consultados pela Bloomberg.

Após a divulgação do resultado, os papéis da instituição subiram até 3,41% na B3, atingindo os R$ 35,45, mas ainda sem conseguir apagar a queda anual (agora em cerca de 5%), que foi intensificada em meio à agenda do Banco Central para estimular a competição via fintechs.

Durante teleconferência com a imprensa, contudo, os executivos do banco buscaram afastar a ideia de que está havendo uma disrupção no setor bancário por conta do aumento da concorrência, reforçando que esta “sempre foi bastante expressiva”.

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Porém, o presidente da instituição, Cândido Bracher, mostrou cautela ao apontar que o resultado de 2020 sofrerá na comparação com 2019 pela presença de três fatores negativos, apesar do maior crescimento de crédito favorecer o banco. São esses os fatores: i) o limite da taxa de juros do cheque especial; ii) a taxa de juros básica média menor e iii) o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de 15% para 20%.

Bracher destacou que o limite dos juros de cheque especial terá um impacto negativo de 5% na margem financeira com clientes, que reflete as operações de crédito. Assim, haverá uma oscilação entre a estabilidade e um crescimento de 3% neste ano, enquanto o dado avançou 8,6% no ano passado. Já a Selic média de 4,25% ao ano, inferior aos 4,5% vistos no ano passado,

Outro fator que jogará contra a margem é a taxa Selic média de 4,25% ao ano, inferior aos 4,50% médios vistos no ano passado, queda esta que fará com que os ganhos decorrentes da aplicação do capital do banco rendam menos. Já o aumento da alíquota da CSLL tornará  os encargos tributários efetivos mais altos em 2020.

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O guidance também foi conservador, apontando um crescimento do lucro em 2020 entre 1% e 2%, mas que chegou a surpreender parte das casas de análise que considerava queda no resultado.

Para o CEO do Itaú, o banco deve se beneficiar da aceleração da economia, gerando maior demanda por créditos e serviços. Com relação ao crédito, espera-se maior volume “em todas as linhas”, com destaque para consignado e imobiliário.

Bancos: um case só para o próximo ano?

Levando tudo isso em conta, Bracher apontou ver um desempenho relativo do banco em 2021 melhor que em 2020. Em relatório recente, o Credit Suisse havia destacado que 2020 seria justamente um ano de transição dos grandes bancos para um ano seguinte muito melhor, listando entre os fatores negativos para este ano também a exposição à América Latina (que foi especialmente sentida pelo Itaú no último trimestre pela sua participação no Chile).

Neste cenário, os que não deveriam ser tão afetados neste ano seriam justamente os bancos que apresentassem melhor controle de custos e capacidade de manter a competitividade em meio à entrada de fintechs e bancos médios.

Nos últimos três meses de 2019, por sinal, os custos animaram ao ficarem abaixo da inflação em um crescimento anual de 2% para R$ 13 bilhões, conforme o banco foca nos gastos para melhorar sua eficiência, avalia Marcel Campos, analista da XP Investimentos.

“Entre as melhorias operacionais que ajudaram tal resultado, estão: i) redução de quase 2 mil funcionários para 94,9 mil; ii) diminuiu 200 agências para 4,5 mil; e iii) diminuiu 1,3 mil caixas eletrônicos para 46,3 mil. Como resultado, o índice de eficiência do banco melhorou em quatro pontos percentuais anualmente para 41,3%”, avalia a XP.

O guidance para 2020 do Itaú, neste sentido, também surpreendeu com expectativa agressiva de redução de custos, avalia a equipe de análise do Safra.

Os analistas do banco também apontaram para uma “perspectiva um tanto positiva sobre tarifas” no guidance do banco. Aliás, as tarifas já apareceram como uma surpresa positiva no resultado do quarto trimestre de 2019, avalia o Credit, principalmente em função de uma receita bastante relevante vinda do Asset Management (alta de 12,7% na base de comparação anual).

A XP Investimentos também reforçou em relatório que a receita de serviços em R$ 10,4 bilhões no quarto trimestre superou as expectativas, impulsionada pelos serviços de assessoria e corretagem, que saltaram 104% na base anual e 64% na comparação trimestral, para R$ 1,1 bilhão. O crescimento foi promovido pela maior atividade no mercado de capitais por ofertas de ações, fusões e aquisições. Os serviços de seguros também ajudaram, crescendo 8% no trimestre e 7% na comparação anual, para R$ 1,7 bilhão.

No último trimestre, o destaque também ficou com o crescimento de empréstimos de 1,2% na base de comparação trimestral, alavancados pela maior participação de varejo.

Por outro lado, a qualidade dos ativos foi o destaque desfavorável, avalia a XP, uma vez que o custo do crédito aumentou 70% na base de comparação anual e 29% na base trimestral, para R$ 5,8 bilhões. Adicionalmente, o índice de inadimplência se manteve em 3%, enquanto o índice de cobertura do banco melhorou 8,5 bps para 229%. O índice de cobertura mede o quanto o banco tem de provisões em seu balanço dividido pela carteira de crédito total.

Levando tudo isso em conta, com a expectativa de um ano de 2020 desafiador, mas com a perspectiva de um 2021 mais positivo, os analistas se dividem sobre as preferências dentro do setor. De acordo com compilação feita pela Bloomberg com casas de análise, o Itaú possui 11 recomendações de compra, 7 de manutenção e 2 de venda.

O Credit Suisse, por exemplo, segue com a visão otimista para os bancos e reitera recomendação outperform (desempenho acima da média) para os ativos do Itaú, recomendação equivalente à do Morgan Stanley. Por outro lado, a XP Investimentos mantém recomendação neutra ao avaliar que os múltiplos do banco não estão atraentes, na mesma linha do UBS e do Bradesco BBI, que também aponta que o Itaú está se preparando para uma realidade bem mais difícil neste ano.

Victor Schabbel, analista do Bradesco BBI, reitera a visão mais cautelosa baseada em desafios estruturais que o setor deve enfrentar no futuro, enquanto o UBS aponta que, mesmo com a forte queda da ação ITUB4 na comparação com o Ibovespa (muito por conta das preocupações relacionadas à perspectiva de queda de lucros para 2020). O guidance, conforme destacam os analistas do banco, mostram uma projeção um pouco melhor do que a expectativa dos investidores. Contudo, ao olhar o valuation, a preferência segue sendo pelo Bradesco (BBDC4) que reportou na semana anterior resultados também considerados positivos.

Desta forma, as projeções, apesar de não tão animadoras para o crescimento dos números do Itaú Unibanco para 2020, não mostraram o pessimismo que muitos analistas de mercado estavam esperando, ao mesmo tempo em que a projeção de redução dos custos animou. Porém, o cenário reforça: 2020 será desafiador para o setor – a diferença será como cada uma dessas instituições passará por esse período.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.