Ação do Bradesco finalmente é recompensada após bom resultado e sobe até 4,5%: o que mudou desta vez?

Nas duas últimas vezes, a ação do banco caiu mesmo após números positivos; hoje foi diferente, mas não significa que empresa superou todos os desafios

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ao contrário dos dois trimestres anteriores, a ação do Bradesco (BBDC3;BBDC4) finalmente registrou uma reação positiva após a divulgação de um resultado sólido, fazendo jus às expectativas já otimistas dos analistas de mercado. Na máxima da sessão desta quarta-feira (5), os ativos BBDC4 subiram 4,5%, enquanto os papéis BBDC3 avançaram até 3,82%. No final da sessão, contudo, os ganhos diminuíram, com os ativos ON fechando em alta de 1,83% e os ativos PN subindo 1,93%.

Este movimento foi bastante diverso do desempenho ocorrido no dia 25 de julho, depois da divulgação do balanço do segundo trimestre de 2019, quando os ativos caíram 5,83%, e da sessão do dia 31 de outubro, quando os papéis caíram 4,09% pós balanço do terceiro trimestre. Antecipação de resultado (com os bons números já precificados), expectativa de que números não iriam se manter e aumento das despesas levaram à reação negativa das ações.

Contudo, desta vez foi diferente: apesar do mercado já esperar bons números, três fatores levaram a um desempenho positivo para os ativos nesta sessão: i) as ações (assim como o setor bancário em geral) passaram por um mau momento – em janeiro, os papéis de bancos registraram uma das baixas mais expressivas do Ibovespa em meio ao receio de maior competição, gerando mais espaço para alta; ii) as iniciativas prometidas e bem recebidas para cortar custos após o banco ter despesas operacionais acima do esperado em 2019, iii) as medidas para seguirem competitivas em um ambiente de maior competição das fintechs e iv) o guidance considerado positivo na visão dos analistas de mercado.

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Indo aos números do último ano propriamente, em 2019 o segundo maior banco privado do Brasil registrou lucro líquido recorrente de R$ 6,645 bilhões no quarto trimestre do ano passado, cifra 14% maior que a registrada em igual intervalo de 2018, de R$ 5,830 bilhões. Em relação aos três meses anteriores, de R$ 6,542 bilhões, foi registrado incremento de 1,6%.  Em 2019, o lucro líquido foi recorde, somando R$ 25,887 bilhões, aumento de 20% em relação aos R$ 21,564 bilhões apurados no exercício de 2018.

As receitas de serviços do banco cresceram 4,7% para R$ 8,8 bilhões, beneficiadas pela linha de assessoria financeira e de administração de consórcios. A carteira de crédito do banco, no conceito expandida, totalizou R$ 604,953 bilhões no fim de dezembro, elevação de 4,6% em relação a setembro.

No ano passado, o banco conseguiu diminuir a distância que estava de seus pares em termos de retorno, com o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) crescendo 1,5 ponto percentual, para 21,2%. O Bradesco ainda lançou uma ofensiva para controlar suas despesas com um programa de demissão voluntária (PDV) e o fechamento de 450 agências, parte prevista para este ano.

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O Banco Morgan Stanley classificou os números como “sólidos”, com mais fatores “positivos do que negativos”. Segundo a avaliação, “as margens e receita com taxas foram positivas, contrariando os argumentos pessimistas” de que os bancos virtuais estão avançando de forma intensa sobre os grandes bancos. Para 2020, o Morgan Stanley projeta que o crescimento nas margens e taxas siga a mesma tendência.

Também classificando os números como fortes, o Itaú BBA destaca que as receitas mais fortes com seguros e margens financeiras foram os principais destaques, compensando a provisão de perdas com empréstimos e as despesas operacionais.

Em boa parte, o lucro foi impulsionado pela seguradora, com o resultado subindo 10,1% em relação ao quarto trimestre de 2018 e repetindo o bom desempenho de períodos anteriores. Já as provisões para perdas com operações de crédito tiveram elevação de 19,3% no trimestre, alta que, de acordo com o Bradesco, se deveu aos maiores desembolsos para consumidores e pequenas empresas.

Para o Credit Suisse, o resultado do quarto trimestre do banco não apresentou tantas surpresas e, com isso, o foco ficou para o guidance, que implica em um lucro líquido gerencial de R$ 27,7 bilhões em 2020 (2% acima do consenso do banco), o que representaria um crescimento de 7% na base de comparação anual.

“Isso seria bastante positivo em um ano em que devemos ter impactos negativos com as taxas do cheque especial e com o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido [CSLL]”, destacam os analistas do banco suíço, apontando que o guidance confirma a expectativa de que o Bradesco está no caminho para registrar o maior crescimento de lucro entre os bancos privados.

Já a XP Investimentos avalia que o novo guidance indica que o banco deve continuar originando bem em 2020, com a margem financeira acompanhando melhor o crescimento da carteira e custos mais controlados, o que é positivo para o Bradesco. “Porém consideramos conservador o crescimento do segmento de seguros apresentado pela companhia, de 4 a 8% em 2020”, aponta.

A equipe de análise da Levante Ideias de Investimento aponta ainda que, mesmo em um cenário mais competitivo e com juros nas mínimas históricas, o banco manteve seu spread constante e aumentou as receitas com a prestação de serviços, “duas linhas do negócio que são alvo de discussões com relação a sustentabilidade no longo prazo”.

Além disso, apontam os analistas, dada sua menor inadimplência no trimestre (de 3,3%, uma baixa de 0,3 ponto percentual frente o trimestre anterior), as despesas de provisão se mantiveram e o índice de cobertura da instituição ficou em um patamar bem confortável, próximo dos 245%. O índice mede o quanto o banco tem de provisões em seu balanço dividido pela carteira de crédito total.

O ROE acima de 20% também é visto de forma positiva pela equipe de análise, que também ressalta a distribuição de 74% dos lucros em dividendos no ano de 2019.

A XP Investimentos aponta ainda que os custos ainda estão altos, mas melhorando. “Os gastos administrativos e com pessoal totalizaram R$ 10,3 bilhões no período, sendo que gastos com pessoal apresentou uma melhora de 3% trimestralmente para R$ 5,5 bilhões, mas foi compensado pelo crescimento de outras despesas administrativas. O destaque negativo veio nas despesas com marketing, que cresceram 20% anualmente e 46% trimestralmente para R$ 600 milhões”, avalia o analista Marcel Campos.

Visão para 2020

Durante coletiva para comentar os resultados, os temas de destaque ficaram com as expectativas para a instituição com o cenário de recuperação da economia e também as iniciativas digitais do banco. Octavio de Lazari, presidente da instituição, destacou que os empréstimos para pessoa física e micro e pequena empresas vão puxar crescimento do crédito em 2020, ao mesmo tempo em que o banco promete “compromisso muito forte com controle de custos nos próximos anos“.

Além disso, o Bradesco tem meta trazer novos clientes em 2020, principalmente via canais digitais, ao mesmo tempo em que deve fechar 300 agências no ano. Mais precisamente sobre o banco digital Next, a meta é chegar a 3,5 milhões de clientes no fim de 2020.

Uma das preocupações apontadas, porém, foi em relação à nova regra do cheque especial, que teve início em 6 de janeiro determinando que os bancos não podem cobrar juros acima de 8% ao mês, mas podendo cobrar uma tarifa de até 0,25% ao mês de quem tem limite de cheque especial acima de R$ 500. O Bradesco, contudo, informou no início do mês que não cobrará a taxa até junho de 2020. Nos próximos meses avaliará se será cobrada alguma tarifa e de que forma será aplicada, se for o caso.

Segundo Lazari, o banco vai sentir “grande impacto“ de novas regras do cheque especial, mas não detalhou a magnitude: “o cheque especial está dado. O banco agora tem que cuidar de crescer em outras linhas para compensar“.

Em teleconferência, porém, o maior otimismo com a economia foi pauta, com os diretores destacando que os níveis de consumo permaneceram saudáveis ​​no quarto trimestre devido aos fortes volumes de vendas no varejo, principalmente durante a Black Friday e o período de festas. Além disso, o banco está começando a ver sinais de recuperação nos investimentos corporativos.

Além disso, a visão dos gestores para mais investimentos é positiva com a potencial aprovação da reforma tributária e privatizações em 2020, o que potencialmente aumentaria a produtividade e estenderia o ambiente macroeconômico positivo para 2021. “Como resultado, o banco elevou sua projeção de crescimento do PIB para 2,5 % na base anual, uma aceleração significativa em relação a 2019”, destaca o Morgan Stanley.

O Morgan, por sinal, possui recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para as ações do banco, similar a do Itaú BBA e do Credit Suisse.

O Credit tem visão construtiva para o ativo, que segue como top pick junto com o Banco do Brasil (BBAS3) no setor; os analistas do Itaú BBA, por sua vez, avaliam que o Bradesco provavelmente sustentará um bom nível de lucratividade em 2020, com um crescimento de lucros de um dígito no ano. “Após a performance abaixo da média do mercado no acumulado do ano, o Bradesco está sendo negociado a múltiplos baixos”, avalia. Enquanto isso, a XP reforça recomendação de compra, destacando que o banco está bem posicionado para capturar o crescimento de volumes.

Assim, as visões são positivas para o banco, segundo os analistas de mercado, mas vale reforçar: 2020 também aponta para ser um ano desafiador para o setor. Desta forma, os avanços do banco em inovação e o ritmo de recuperação econômica serão cruciais para determinar se a tendência da ação será positiva no resto do ano após um primeiro mês negativo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.