Carrefour (CRFB3) e Assaí (ASAI3): Inflação mais baixa e maior competição são desafios e JPMorgan mostra cautela com ações

Apesar da queda recente dos ativos, JPMorgan reiterou recomendação neutra para as ações das duas companhias

Vitor Azevedo

Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro.

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As ações ordinárias do Carrefour Brasil (CRFB3), dono do Atacadão, e do Assaí (ASAI3) caem no ano, até agora, cerca de 31% e 41% (levando em conta o desempenho até o fechamento da véspera), enquanto o Ibovespa, principal benchmark brasileiro, sobe mais de 3%. Vistas como companhias defensivas até pouco tempo atrás, essas empresas vêm sofrendo por alguns novos motivos como a inflação mais baixa e a competição maior.

O principal índice de inflação brasileira, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumula em abril de 2023 4,18% nos últimos doze meses – alta bem menor do que os mais de 11% registrados em junho do ano passado.

O avanço dos preços, contudo, sempre foi um aliado dos atacarejos. A variação em si, normalmente, já impulsiona a receita e traz alguma margem de ganhos como por exemplo com valorização de produtos em estoque. Além disso, com suas rendas comprometidas, as pessoas acabam procurando mais essas opções, que oferecem produtos a preços menores.

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“A desaceleração da inflação de alimentos deve continuar prejudicando a receita até o final de 2023, com queda de faturamento e o crescimento das vendas mesmas lojas [SSS, na sigla em inglês]”, fala o time do JP Morgan, encabeçado por Joseph Giordano.

Mas, provavelmente, a origem da maior dor de cabeça para as companhias seja a competição.

De março de 2022 para março deste ano, o Carrefour aumentou o número de unidades do Atacadão de 252 para 346. O Assaí foi um pouco mais modesto, tirando 32 novas lojas do papel, chegando a 217. E o processo de mudança ainda continua, com os dois grupos ainda realizando conversões neste ano. De acordo com a pesquisa NIQ Ebit, foram mais de 400 novas lojas abertas no último ano.

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“O mercado tornou-se mais competitivo no ano passado, com vários players abrindo uma quantidade considerável de lojas de atacarejo no período, colocando uma pressão extra na margem bruta, que se soma à menor alavancagem operacional”, fala o JP Morgan. “Há riscos significativos de queda das expectativas de consenso. Dados da Nielsen mostram que as vendas mesmas lojas do atacarejo para abril já estão em terreno negativo em São Paulo e no Rio de Janeiro, principais mercados do Brasil”.

De acordo com a pesquisa em questão, houve retração de 1,5% das vendas mesmas lojas em São Paulo no primeiro trimestre, enquanto no Rio de Janeiro o número avançou 0,4%. Em abril, contudo, tanto na primeira região quanto na segunda o índice caiu, respectivamente, 3,9% e 2,7%.

Fora o recuo das vendas em mesmas lojas, com consumidores se dividindo entre as unidades, a competição também causa impacto no faturamento pelo lado das promoções, com os atacarejos tentando tornar suas unidades mais atrativas.

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Tudo isso acontece ainda após um período de bonança para o Carrefour e o Assaí, o que traz pressão na base comparativa.

“Ambos enfrentarão a maior base de comparação do ano no segundo trimestre, o que combinado com a inflação de alimentos mais lenta pode significar uma desaceleração ainda maior para as vendas mesmas lojas, com boa probabilidade de ficar negativo e a produtividade da área de vendas cair ano a ano”, menciona o time de Giordano.

Outro risco mencionado pelos analistas é a discussão em torno dos incentivos fiscais, principalmente no que tange os benefícios envolvendo o ICMS e o imposto de renda.

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“Embora as recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça permitam que as empresas sob nossa cobertura mantenham seu benefício de subvenção fiscal do ICMS, o debate permanece fluido. Nesse contexto, sinalizamos que esse risco é significativamente maior para o Assaí, pois aproximadamente 27% do seu lucro líquido estimado para 2024 vem de incentivos enquanto o Carrefour não tem esse peso”, falam.

Todo esse pior cenário, por fim, ainda vem em um momento em que as ações das duas companhias estão com entraves para subir. O Carrefour, por conta da aquisição do Grupo BIG, está com uma dívida elevada, tendo inclusive refinanciado parte dela com sua controladora francesa. No caso do Assaí, o temor é que o Casino, importante acionista, venda novas fatias da companhia, como já sinalizou anteriormente.

O JPMorgan, por isso, se mantém neutro para as ações do Carrefour e do Assaí. Para CRFB3, possui preço-alvo de R$ 13, o que configura um potencial de valorização de 31% em relação ao fechamento da véspera. Já para ASAI3, o preço-alvo foi revisado para baixo, de R$ 14,50 para R$ 13,50, ou uma alta potencial de 19,5% em relação ao fechamento de quinta.