Dólar a R$ 4,00? 6 respostas para entender a disparada da moeda

Diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior explica o rali da moeda norte-americana

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após dois meses de forte alta, o dólar passou a se estabilizar em um patamar entre R$ 3,70 e R$ 3,75 nas últimas duas semanas, mas isso mudou de forma brusca e nesta quarta-feira (6) a moeda norte-americana já encosta nos R$ 3,85. Agora os investidores começam a se questionar até onde o preço pode ir, será que é possível voltarmos a ver o dólar a R$ 4,00 em breve?

Mais do que isso, o mercado tenta entender porque as atuações do BC com os leilões de swap não estão dando certo e quais as alternativas que a autoridade monetária tem para intervir no câmbio. Para isso, o InfoMoney conversou com o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, que respondeu 5 perguntas que todo investidor está fazendo agora com esta nova arrancada do dólar.

Confira a análise:

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1) O que está fazendo o dólar subir?
O cenário externo é importante. Abaixo o gráfico com alguns CDS, exceto o Chile, que subiu, mas nem tanto. O CDS do Brasil está subindo próximo de outros países mais fracos (México e Turquia). A piora tem relação com a alta dos juros das Treasuries e expectativa de redução de liquidez. A alta do euro hoje, com notícia que o BCE deverá discutir na próxima reunião o futuro do QE também não ajuda, que já com o fim das compras, a liquidez se reduz. Nosso CDS subiu mais de 50% em poucas semanas.

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Sobre a reunião do FOMC da próxima semana, a questão não é se irá subir os juros, isto é dado como certo. Mas, como ficará o gráfico de pontos e como será a coletiva de imprensa de Powell.

Sobre o gráfico de pontos, nota-se que dois membros acreditam que os juros deveriam permanecer constantes, mas como irão subir, eles deverão mudar de opinião. Além disto, vemos 6 membros do Fed apostando em 3 altas e 6 membros apostando em 4 altas. Bastará 1 único membro mudar de ideia (de 3 para 4 altas) que a mediana do Fed mudará. E o mercado ainda não precifica 4 altas!

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2) Esta alta no câmbio é algo recente ou existem sinais desde o ano passado?
O governo Temer sofreu uma série de derrotas a partir do final do ano passado (gráfico abaixo). Note que o real caminhava abaixo da linha da moeda da Austrália até o mês de maio do ano passado, quando houve o vazamento da JBS. A partir deste momento, o real ficou acima da linha da moeda da Austrália, mas sem muito descolamento, começando a se distanciar de forma mais abrupta após a confirmação de que a Previdência não seria votada neste governo (seta 1).

Depois, no dia 02 de fevereiro, tivemos dado muito forte do Payroll (seta 2) que provocou uma queda abrupta do S&P, elevando a aversão ao risco. Neste momento, o descolamento permaneceu constante.  Mas, com a saída de Meirelles da Fazenda (seta 3), a nossa moeda começou a perder força e em meio a alta generalizada do Dollar Index, caminhamos até a região de R$ 3,70, quando o BC decidiu entrar com mais força no mercado (seta 4).

Tudo ia relativamente “bem” até o mercado perceber que o atual governo não tem mais força (seta 5) e, pior, que estamos próximos de clima de “anomia social”. Em resumo, estamos 20% mais depreciados que o dólar australiano, indicando fraqueza nossa acima do normal (risco interno > risco de falta de controle fiscal = risco político).

Neste momento, as pesquisas começam a indicar reais chances de um candidato de esquerda chegar ao segundo turno, e relativamente forte. Soma-se a isto uma possível polarização com Bolsonaro. O candidato do “mercado”, Alckmin, não decola. Assim, a consequência da greve dos caminhoneiros é que a sociedade brasileira ainda parece não aceitar ideias liberais.

Muitos querem a redução das despesas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, mas não aceitam a reforma da Previdência e privatizações. Sindicatos se unem e pedem que os candidatos aceitem reverter conquistas do governo Temer, como a reforma trabalhista e o teto de gastos, além da volta compulsória do imposto sindical. Ameaçam greve geral após a Copa.

Sobre o teto de gastos, é bem provável que quem ganhar as eleições não conseguirá cumpri-lo no ano que vem, em meio a ausência de reformas fundamentais.

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Legenda:
1- Fim das chances de votar a reforma da Previdência
2- Condenação de Lula no TRF4 (2ª Instância) + forte dado do Payroll uma semana depois, fato que tirou o dólar da região de R$3,15 devido medo dos juros dos EUA
3- Saída de Meirelles do governo, que foi a segunda grande perda de Temer (tinha perdido Maria Sílvia do BNDES ano passado)
4- Início da atuação mais forte do BC, com US$ 750 milhões de swaps por dia + rolagem
5- Greve dos caminhoneiros: governo anuncia acordo (quinta-feira), mas a categoria não volta ao trabalho e ganha apoio popular

3) Por que os swaps do BC não estão tendo efeito?
No meio de stop de bolsa e taxa de juros, é natural que o dólar suba. Assim, o Tesouro também precisa atuar para amenizar a situação. Somente leilão de swaps não são suficientes no meio do processo de stop.

Neste momento, fechamento do dia 05 de junho, a curva futura de juros projeta Selic a 7,50% no final deste ano, a 9,50% no final de 2019 e atingindo aproximadamente 14% em 2022. Parece algo contra o razoável, mas movimento de stop tende a ser forte.

Além disso, o atual cenário eleitoral mostra que a chance de vitória de um candidato de centro e reformista está se reduzindo dia a dia. Assim, observamos a provável reversão de dois ativos fundamentais para a manutenção do clima de otimismo no mercado: juros e bolsa. Abaixo os gráficos:

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4) Essa atuação “extra” do BC durante o pregão é uma boa estratégia?
A atuação extra é importante porque tende a reduzir a especulação. Ao atuar de forma “surpresa”, eleva o risco de quem está comprado, principalmente as compras de curtíssimo prazo.

5) Qual outra forma o BC tem para atuar no mercado? Seria melhor que os swaps tradicionais que estão sendo feitos?
O BC ainda tem duas outras formas de atuar: leilão de linha com recompra e a venda de dólar direto, que é algo muito mais agressivo. Talvez, neste momento, se for identificado a escassez de dólar no mercado à vista, seria interessante também fazer leilão de linha com recompra. Clique aqui e veja mais sobre uma nova estratégia que o BC pode usar para intervir no câmbio.

6) O dólar pode chegar em R$ 4,00?
As reservas cambiais do país estão em US$ 380 bilhões. O volume de swaps dado ao mercado, até o final de maio é de US$ 31,5 bilhões. O volume de swaps novos ofertados no mês de junho, supondo a manutenção de US$ 750 milhões por dia, será de US$ 15,750 bilhões. Além disto, temos US$ 1,5 bilhão do dia 5 de junho. Tudo isto somado, teremos US$ 50 bilhões em swaps até o final de junho, desde que não tenha novos swaps “surpresas”. Isto equivale a 40% da exposição que o BC tinha na era Tombini.

O problema é que quanto mais o dólar subir em meio ao pesado volume de swaps ofertados, menos condição de intervir terá o BC. Entre julho e outubro, mantendo o ritmo de US$ 15 bilhões de swaps novos por mês, chegaríamos ao volume de intervenção de Tombini. Então, o BC deverá ser cauteloso nas intervenções para não ficar fragilizado. Por outro lado, com US$ 50 bilhões de swaps ofertados, o volume de swaps renovados diariamente sobe em direção a US$600/US$700 milhões, fato que ajuda a manter o dólar mais fraco.

O movimento de stop de bolsa e juros será fator fundamental para compreender o movimento de alta do dólar. Além disto, teremos a reunião do FOMC na próxima semana. É possível que o dólar siga subindo e
caminhe para R$ 4,00. O problema é que está ficando a cada semana mais difícil encontrar um bom ponto de compra. Tivemos alguns no passado (recomendamos a R$ 3,38, R$ 3,45, R$ 3,55 e R$ 3,65) e agora os preços parecem muito estressados para recomendar.

Pelo nosso modelo, perto de R$ 3,70 neste momento, é ponto que pode ser interessante comprar novamente. O problema é que muitas vezes o dólar sobe de 10 em 10 centavos e o rompimento de R$ 3,80 eleva o risco de caminharmos a passos largos para R$ 3,90.

Além disso, apesar do mercado de juros precificar Selic a 14% em alguns anos, o mercado ainda não colocou nos preços todo o risco político, apesar de boa parte do mesmo estar precificado. Em todo caso, não há recomendação de venda do dólar. É muito difícil determinar cotação máxima, não sabemos o que irá ocorrer nas próximas semanas, mas seguimos comprados em dólar desde início de abril.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.