Dólar supera R$ 3,80 e liga alerta do BC, mas cenário deve piorar, alertam analistas

Moeda foi ganhando força no fim da manhã desta terça e obrigou o Banco Central a anunciar um leilão extra de swaps, o que aliviou o mercado

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – No início da tarde desta terça-feira (5), o Banco Central precisou anunciar uma intervenção extraordinária no câmbio após o dólar superar o patamar de R$ 3,80, mas mesmo assim, a tendência é que o cenário piore e a moeda continue pressionada daqui para frente.

Ganhando força junto com uma piora da bolsa, o dólar superou os R$ 3,80 por volta das 11h50, o que foi suficiente para o BC anunciar uma oferta de 30 mil contratos de swap adicionais com vencimentos em agosto, outubro e dezembro. Esta foi a primeira intervenção divulgada com o mercado aberto desde que a gestão de Ilan Goldfajn passou a oferecer swaps no ano.

Após amenizar os ganhos, o dólar comercial voltou a ganhar força após o BC não conseguir colocar todos os contratos para venda, em um primeiro sinal da dificuldade para controlar o mercado neste momento. No fim do pregão, o mercado como um todo piorou e a moeda fechou o dia na máxima, com ganhos de 1,78%, cotada a R$ 3,8100 na venda.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O BC colocou 16.210 dos 30 mil contratos de swap cambial no 1º leilão extra anunciado no final da manhã. Em seguida, a autoridade fez uma nova tentativa para colocar os 13.790 contratos restantes, mas só conseguiu 6.110 swaps. Em nota, o Banco Central reiterou que “montantes das ofertas adicionais de swap poderão ser revistos” e ainda disse se reservar o direito de realizar “atuações discricionárias”.

A questão é que por mais que a moeda tenha um alívio nesta sessão, o cenário segue problemático e será bastante difícil para a autoridade monetária segurar o câmbio. Segundo José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, “os leilões diários do BC ainda não conseguiram ‘minar’ a posição comprada”.

“A questão é que em semana de agenda fraca no exterior, a cotação segue subindo aqui. O temor é alteração na projeção do Fed para os juros, que será divulgada na próxima quarta-feira (13)”, explica ele ressaltando que uma mudança de posição de apenas um membro do comitê americano poderá levar o mercado a projetar 4 altas de juros este ano, algo que ainda não foi precificado.

Continua depois da publicidade

A linha de compra de curto prazo projetada por ele está próxima de R$ 3,70, porém a moeda já está bem acima deste nível. “Esta linha sempre deve ser considera como o primeiro ponto de compra, ou seja, as melhores oportunidades compras parecem que ficaram para trás e as chances do dólar cair em direção a R$ 3,60 parecem cada vez mais remotas”, afirma Faria.

Já Sidnei Nehme, diretor executivo da corretora NGO, destaca que outro tipo de movimento terá de ser tomado. “Embora o BC venha irrigando o mercado futuro com a oferta contundente de proteção com os swaps cambiais, acreditamos que este instrumento perderá eficácia pois com o incremento da tendência de saída dos recursos estrangeiros do mercado financeiro, a demanda se acentuará no mercado a vista de dólar”, afirma em relatório.

“Temos destacado que haverá esta necessidade de ação por parte do BC, podendo diminuir a oferta de swaps cambiais e mixá-la com a oferta de liquidez com o leilão de linhas de financiamento em moeda estrangeira com compromisso de recompra, antecipando-se a pressão de demanda para atenuar o viés de alta e a volatilidade”, explica o analista.

Ele afirma que a suposição de que o maior volume do mercado está com “hedge” é o que tem mantido o mercado em um nível entre R$ 3,70 e R$ 3,75. “Mas se o governo não agir rapidamente com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, e a demanda se deslocar para o mercado a vista, a taxa cambial poderá ser pressionada e ir além dos níveis praticados até ontem”, conclui.

Quer investir em ações pagando só R$ 0,80 de corretagem? Clique aqui e abra sua conta na Clear

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.