Ação da C&A (CEAB3) fecha com salto de 7,7% após fim da parceria com Bradesco; analistas veem avenida de crescimento

Fim da joint venture resolve problema de longa data e também traz à tona uma das principais alavancas que foi apresentada durante o IPO da varejista

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma avenida de possibilidades de crescimento. Essa perspectiva que se abriu para a C&A (CEAB3) após a notícia, ainda que esperada, de que a varejista encerrou a joint venture de serviços financeiros com o Bradesco (BBDC4). Após a notícia, as ações CEAB3 dispaarram, com salto de 7,7%, a R$ 7,83.

Por meio de fato relevante, a C&A explicou que “investirá” R$ 415 milhões para recomprar o direito, que era exclusivo do Bradesco. Com isso, a C&A lançará em dezembro sua solução de pagamento própria, o C&A Pay.

Conforme destaca o BBI, a administração da companhia já havia comentado no seu release de resultados do segundo trimestre de 2021 que estava confiante de que esse “problema” seria resolvido até o final do ano. A JV existe desde 2009, quando o Bradesco adquiriu o Banco Ibi, braço de serviços financeiros da C&A, por R$ 1,4 bilhão.

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No entanto, a C&A deixou claro durante sua abertura de capital (IPO) que precisava renegociar ou sair da parceria, citando o baixo nível de vendas (cerca de 20% em 2019, que agora caiu para aproximadamente 15%) usando seu produto de crédito em comparação com seus concorrentes (menos de 40% de vendas utilizando soluções de crédito próprias). “Isso estava efetivamente deprimindo as vendas da C&A”, aponta o BBI.

Assim, o fim da parceria resolve um problema de longa data e também traz à tona uma das principais alavancas de crescimento que foi apresentada durante o IPO.

“Devemos, portanto, esperar ver soluções de crédito próprias com maior penetração nas vendas da C&A, com a gestão visando níveis semelhantes aos pares dentro de 3-5 anos”, avaliam os analistas.

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Eles apontam ser difícil estimar como exatamente isso impactará o demonstrativo de resultados da varejista nos próximos anos, pois isso dependerá de 1) quantas pessoas se inscreveram para a solução de crédito, 2) quantas dessas pessoas não estavam comprando na C&A porque elas não conseguiram acesso ao crédito (ou seja, quanto isso será incremental às vendas); e 3) despesas e provisões.

Para os analistas, a prioridade é acelerar o crescimento no negócio de varejo, em vez de gerar lucro considerável com a operação de serviços financeiros. Eles apontam que um ativo que a C&A usará para acelerar o crescimento é o programa de fidelidade C&A e VC, que atualmente conta com 18 milhões de clientes cadastrados, dos quais aproximadamente metade terá limites de crédito pré-aprovados.

“Acreditamos que o início das operações provavelmente será mais rápido do que esperávamos quando a C&A anunciou em agosto que era provável que chegasse a um acordo com o Bradesco até o final do ano, mas o nível absoluto de aceitação e a extensão para qual isso vai acelerar o crescimento ainda é incerto”, apontam. Os cálculos iniciais dos analistas sugerem que um aumento de receita de 10-20% até 2024 e um pequeno lucro de serviços financeiros a partir do Ano 3 seriam suficientes para cobrir o preço pago ao Bradesco.

Eles avaliam que os riscos são comuns a todas as operações de crédito – especificamente o risco de crédito e esta é uma área em que a C&A tem menos experiência do que seus concorrentes. No geral, o BBI vê as notícias como positivas para a C&A, mas não altera a recomendação neutra ou preço-alvo de R$ 10, ou potencial de alta de 38% em relação ao fechamento da véspera.

A XP também viu a notícia como positiva, mas manteve a recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de R$ 8,50 por ação, ou potencial de alta de 17% frente o último fechamento.

“Embora tenhamos visto o anúncio como positivo e acreditemos que deve destravar valor no médio prazo, mantemos nosso neutro pois esperamos um momento desafiador de resultados de curto prazo frente ao cenário macro difícil, enquanto devemos inicialmente ver apenas os investimentos da construção dessa operação sendo refletidos nos resultados e os benefícios devem ser colhidos mais à frente”, apontam Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, analistas da XP, em relatório.

Os analistas avaliam o anúncio como positivo estrategicamente uma vez que veem a oferta de crédito proprietária como um diferencial competitivo para varejistas, especialmente com um público alvo de classes mais baixas. Além disso, estima que a transação poderá destravar muito valor à medida que ela ganhe escale.

“Embora vejamos com bons olhos a iniciativa da empresa em desenvolver seu braço de serviços financeiros, acreditamos que os benefícios devem demorar para serem refletidos nos resultados da companhia, dado que (i) a companhia deve primeiramente investir na construção da equipe e da plataforma para apoiar a operação; (ii) esperamos que eles sejam conservadores no curto prazo, dado que ainda estão no início da operação de concessão de crédito em um cenário macro difícil; e (iii) a migração dos consumidores deve ser gradual à medida que eles vão se familiarizando com o novo serviço. No entanto, observamos que o fato de o C&A Pay ser integrado ao programa de fidelidade da empresa (C&A & VC), que tem cerca de 18 milhões de usuários, deve ajudar”, apontam.

Eles avaliam ser fundamental que a empresa adote uma postura conservadora no início da operação, uma vez que os dados recentes do perfil dos consumidores podem ter sido distorcidos pelo auxílio emergencial, enquanto as perspectivas econômicas de curto prazo seguem desafiadoras.

Além disso, a empresa não terá acesso aos dados da base de clientes do Bradesco devido às leis de confidencialidade (LGPD), enquanto o programa C&A & VC é bastante recente (cerca de 3 anos) e, portanto, os dados dos clientes também estão sujeitos às distorções trazidas pela pandemia. “Por fim, destacamos que o negócio de serviços financeiros não é simples de ser operado, o que traz riscos de execução para a história da companhia”, avaliam.

Outra instituição que avaliou a notícia como positiva, mas que não mudou as suas projeções para a ação foi o Morgan Stanley, que segue com avaliação equalweight (exposição em linha com a média do mercado), também com preço-alvo de R$ 10.

O Morgan destacou que o acordo abrirá uma alavanca de crescimento, enxergando na operação uma oportunidade para a C&A impulsionar as vendas e a fidelizar com uma oferta de serviços financeiros.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.