Buffett comenta crise do setor bancário nos EUA e acredita que dólar seguirá como moeda de reserva mundial

Para o CEO da Berkshire, executivos das instituições financeiras deveriam ser responsáveis pelos bancos falidos

Equipe InfoMoney

Warren Buffett e Charles Munger (Foto: Reprodução/CNBC)

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O CEO da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, vê a tomada de riscos nos bancos como a raiz da turbulência bancária de 2023. Ele pediu em, encontro anual da Berkshire Hathaway neste sábado (6), práticas bancárias mais conservadoras e melhor comunicação dos reguladores, em fala durante a segunda etapa da reunião anual de acionistas da Berkshire em 2023, realizada neste sábado (6).

“A situação no setor bancário é a mesma de sempre”, disse Buffett. “O medo é contagioso. Às vezes o medo é justificado, às vezes não.” Buffett lembrou que seu pai, Howard Buffett, perdeu o emprego durante uma corrida aos bancos durante a Grande Depressão.

Buffett elogiou o Federal Deposit Insurance Corp.(FDIC, equivalente ao Fundo Garantidor de Crédito) pela maior estabilidade do sistema bancário oferecida pelo seguro de depósito dos reguladores, mas disse que a instituição precisaria se comunicar melhor com o público americano para evitar novas corridas bancárias em potencial. Ele também apontou que o FDIC poderia considerar potencialmente garantir 100% dos depósitos, até que a turbulência atual tenha passado. Isso é especialmente relevante hoje, disse ele.

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Mais cedo, ele apontou que haveria consequências “catastróficas” se os reguladores dos EUA não tivessem garantido os depósitos no Silicon Valley Bank e Signature Bank, uma vez que essas falências criaram o risco de uma corrida aos bancos em todo o país.

Buffett culpou a administração do First Republic Bank – que sofreu intervenção do FDIC no mês passado antes de sua aquisição pelo JPMorgan Chase (JPM) – por concentrar seu balanço em ativos que perderam fortemente o valor com o aumento das taxas de juros no ano passado.

O “Oráculo de Omaha” disse ainda que deveria haver “punição” para os diretores e executivos responsáveis por qualquer má gestão nos bancos. No entanto, ele observou que os depositantes podem ter certeza de que seu dinheiro está seguro, dado o apoio do governo.

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Buffett colocou cartazes com os dizeres “Disponível para venda” e “Mantido até o vencimento” na mesa à sua frente e Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire, provocando risos da plateia. Esses são termos que se referem ao tratamento contábil de títulos no balanço de um banco.

“Sou antiquado”, disse Munger. “Eu gostava quando os bancos não atuavam como bancos de investimento… Acho que ter muitos banqueiros de investimento tentando ficar ricos não é uma coisa boa. Acho que os banqueiros deveriam ser mais como engenheiros, pensando no que pode dar errado.”

Buffett destacou que, no setor bancário, segue com sua aposta no Bank of America (BofA). “Eu gosto do Bank of America, gosto da administração e propus o negócio para eles. Então eu sigo com eles”, disse.

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Ele disse que as recentes crises no setor bancário reafirmaram sua crença de que o público e os legisladores americanos não conseguem entender o setor bancário.

“Mas eu sei projetar o que vai acontecer a partir daqui? A resposta é que não, porque vi tantas coisas nos últimos meses, que realmente não eram tão inesperadas para mim. Mas o que confirmou minha crença de que o público americano não entende nosso sistema bancário.”

Buffett espera que os problemas no setor bancário devam continuar, mas disse que os depositantes não devem se preocupar com seu dinheiro.

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“Mantemos nosso dinheiro em espécie e títulos do tesouro na Berkshire”, disse Buffett. “Queremos estar lá se o sistema bancário ficar temporariamente parado de alguma forma. Eu não acho que vá, mas acho que é uma possibilidade.”

Dólar seguirá como moeda de reserva

Ao ser questionado sobre possíveis movimentações, incluindo do Brasil, no sentido de usar outras moedas além do dólar como de reserva e principalmente como base das transações comerciais, Buffett disse ser improvável que o dólar americano seja destronado como moeda de reserva, mesmo em meio a preocupações com o teto da dívida.

“Somos [o dólar] a moeda de reserva”, disse ele. “Não vejo nenhuma opção para qualquer outra moeda ser a moeda de reserva.”

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Ao falar sobre o imbróglio sobre a elevação do teto da dívida nos EUA, Buffett disse que ninguém entende a situação da dívida como Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, mas ele não é o responsável pela política fiscal. E Buffett disse que as pessoas agem de maneira diferente quando desconfiam da moeda.

Buffett disse que é difícil se preparar para mudanças no teto da dívida e seu impacto no dólar, já que é uma decisão política.

Para o CEO da Berkshire, as pessoas podem estar perdendo a fé no dólar, mas isso não faz com que seja o momento de o Bitcoin brilhar.

“É uma piada pensar nisso, isso é loucura”, quando se trata da moeda de reserva do mundo, disse ele. “Mas também é uma loucura continuar imprimindo dinheiro.”

Buffett fez um alerta sobre até que ponto os EUA estão fazendo impressão de sua moeda.

“É fácil para a América ‘imprimir’, mas se fizermos muito, é muito difícil ver como será a recuperação depois de ‘deixar o gênio sair da garrafa’”, disse ele. “As pessoas perdem a fé na moeda e se comportam de maneira totalmente diferente do que quando sentem… que vão manter poder de compra. Isso muda a economia.”

Munger fez críticas mais duras, dizendo que “em algum momento imprimir dinheiro para comprar barcos se tornará contraproducente”.