Bradesco (BBDC4): lucro recorde em 2021, mas ação cai 8%; o que explica a forte baixa?

Dados do 4º trimestre já apontaram alguns efeitos negativos como o aumento das provisões e das despesas operacionais, além do guidance "menos inspirador"

André Cabette Fábio Lara Rizério

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Se o resultado do Santander (SANB11), divulgado na semana passada, foi visto negativamente pelos analistas de mercado, os números do Bradesco (BBDC4) desanimaram ainda mais os analistas.

As ações BBDC3 fecharam com a maior queda do Ibovespa, recuando 8,80%, a R$ 17,21; os papéis BBDC4, em segundo lugar na lista de principais baixas, recuaram 8,58%, a R$ 20,77. Os números do segundo maior banco privado do país já apresentaram alguns efeitos negativos como o aumento das provisões e das despesas operacionais, com números abaixo das expectativas do mercado, além de projeções menos inspiradoras para o ano.

Cabe destacar ainda que, junto com o balanço, o Bradesco anunciou um aumento de capital de R$ 4 bilhões com o uso das reservas de lucros e uma bonificação em ações. Assim, os acionistas receberão uma 1 nova ação do banco para cada dez que possuírem.

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O lucro líquido recorrente foi de R$ 6,6 bilhões no trimestre, uma queda de 2,3% quando comparado ao terceiro trimestre de 2021 e de 2,8 % em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Isso ainda que tenha reportado lucro recorde de R$ 26,2 bilhões em 2021, alta de 34,7% frente ao ano anterior.

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O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) atingiu 17,5%, uma queda de 2,5 pontos percentuais em relação ao resultado do quarto trimestre de 2020 e de 1,1 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre de 2021.

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As provisões para devedores duvidosos foram expandidas (PDD), maior motivo para forte queda no lucro dos bancos em 2020, atingiram R$ 4,2 bilhões, representando uma forte alta de 27,5% no trimestre, ainda que em queda de 6,2% em doze meses.

A inadimplência acima de 90 dias teve uma alta quando comparado com o trimestre passado, chegando a 2,8%, ante 2,6% no terceiro e 2,2% em igual período de 2020.

Um ponto a ser destacado pelos analistas é que, mesmo com o crescimento do PDD, o índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) acima de 90 dias teve queda. Esse é um sinal de piora de qualidade dos ativos.

“Vemos uma baixa qualidade dos ativos no trimestre, uma vez que o Bradesco aumentou as provisões em grande parte devido ao crescimento da carteira de crédito, enquanto o índice de cobertura diminuiu 36 pontos percentuais na base trimestral e 142 pontos percentuais na base anual para 261%, e o índice de inadimplência aumentou. Isso nos leva a acreditar que há mais espaço para provisões nos próximos trimestres”, destacam Renan Manda e Matheus Odaguil, analistas da XP.

Para a Levante Ideias de Investimentos, o índice de cobertura segue em um patamar saudável para o banco, mas indica que a inadimplência tem uma tendência de alta e as quedas nas provisões do último trimestre podem ter sido
exageradas.

“Os números apresentados pelo Bradesco acendem o sinal amarelo para os resultados dos bancos, uma vez que é o segundo banco que entrega resultados abaixo da expectativa do mercado e com tendências semelhantes (ainda que melhores) às observadas no resultado do Santander”, aponta a Levante.

Em teleconferência, Octavio de Lazari Jr, o CEO do banco disse que o incremento na taxa de inadimplência visto nos últimos trimestres não é tão preocupante. “Os índices de inadimplência continuam controlados em consequência da boa gestão da carteira”, disse.

Cabe ressaltar ainda que o lucro foi impactado por um ajuste não recorrente de marcação a mercado de TVM que foram reclassificados de “disponíveis para venda” para “negociação”.

Na teleconferência com analistas, Lazari Jr. afirmou que o forte crescimento da taxa de juros, de 2% para 10,75% em menos de dez meses, justificou a rodagem dos títulos. Ele classificou o movimento como “pontual”, e disse que este ocorreu em busca de uma taxa de juros mais favorável, visando ter “normalidade da carteira” em 2022.

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Projeções também desanimam

Segundo os analistas do Itaú BBA, o lucro líquido ter vindo um pouco abaixo do consenso por si só seria bom, mas os resultados foram “menos limpos” do que o esperado (com vários itens não recorrentes) e o guidance (projeção) para 2022 não foi inspirador. O ponto médio do intervalo de orientação indica lucro líquido de R$ 28 bilhões, contra estimativa e consenso de R$ 29 bilhões.

Ainda para este ano, o banco divulgou o guidance que prevê crescimento de 10% a 14% no crédito e de 8% a 12% na margem com clientes.

A PDD expandida passou de R$ 15 bilhões em 2021 para um intervalo entre R$ 15 e R$ 19 bilhões em 2022, “o que nos indica que as últimas projeções foram otimistas demais”, aponta a Levante.

Embora a orientação para o crescimento da carteira de empréstimos esteja bem à frente do setor, as margens do cliente são mais lentas e decepcionantes, avaliam os analistas.

Eles complementam que o ponto mais relevante do guidance foi a margem com clientes que veio 10% de crescimento, enquanto esperavam perto de 20%. Isso resulta em um lucro, considerando o centro do guidance, de aproximadamente R$ 28 bilhões, ligeiramente abaixo das estimativas da casa de R$ 29 bilhões.

“Embora a projeção para o lucro líquido esteja próxima da nossa estimativa, é importante ressaltar que os números no geral indicam uma dinâmica de menor qualidade para o lucro deste ano. Esperávamos aumento no resultado decorrente de melhores receitas fruto de uma melhora na margem com clientes. O resultado que indicaram, no entanto, deve vir através de menores despesas de provisão, o que não é ideal considerando as expectativas do mercado e a dinâmica de spreads da indústria”, apontam.

O Credit Suisse também destacou o balanço como ligeiramente negativo.  Na avaliação do Credit, os gastos operacionais (opex na sigla em inglês) foram o principal destaque com crescimento de 12,1% na base anual, com despesas básicas e outras prejudicadas por um cenário de aumento da inflação, em que as despesas de pessoal cresceram 12,5% após a contabilização completa dos reajustes salariais.

Em relação ao guidance para 2022, o Credit corroborou a visão de forte margem financeira líquida (NII, na sigla em inglês) e ambiente de qualidade de ativos controlada para o Bradesco. Mas avalia que o ritmo de recuperação do negócio de seguros incorporado no guidance, embora significativo, ainda está aquém das expectativas e do mercado.

O lucro gerencial implícito de R$ 27,8 bilhões no ponto médio de 2022 está 6% abaixo do consenso e 4,8% abaixo da expectativa do banco suíço. Isso, entretanto, não afeta as expectativas de médio e longo prazo para o Bradesco, afirma o Credit.

O banco suíço mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para as ações, com preço-alvo de R$ 30, ou um potencial de alta de 32% em relação ao fechamento da véspera. O BBA também tem uma recomendação equivalente à compra, com preço-alvo de R$ 28,34, ou um potencial de alta de 25% frente o último fechamento.

A XP, por sua vez, aponta que há mais espaço para provisões nos próximos trimestres e, assim, reitera recomendação neutra e preço alvo de R$ 26 por ação BBDC4, ou potencial de alta de 14,4% em relação ao último fechamento.

De acordo com compilação da Refinitiv, de 15 casas que cobrem o papel BBDC4, 13 recomendam compra e só 2 manutenção, com preço-alvo médio de R$ 28,66, ou alta de 26% em relação ao fechamento da véspera, seguindo assim majoritariamente otimistas com o papel. O próximo resultado de banco a ser divulgado será o do Itaú (ITUB4), em 10 de fevereiro, podendo confirmar ou contrariar as tendências vistas como mais negativas para o setor.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney