Bom para todo mundo: JBS ganha a Europa e Marfrig perde dívida com venda da Moy Park

Aquisição de subsidiária europeia foi avaliada em US$ 1,5 bilhão e deixará o frigorífico liderado por Martin Secco Arias com R$ 5 bilhões a menos de endividamento

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Passada a surpresa inicial com o anúncio de que a Marfrig (MRFG3) iria vender a sua subsidiária europeia, Moy Park, para a JBS (JBSS3) ficou a dúvida em um primeiro momento acerca do que ocorrerá com ambas as empresas depois da operação. A resposta do mercado, no entanto, não deixou espaço para interpretações: a Marfrig sobe 10,97% desde ontem, enquanto a JBS tem um desempenho bem menos espetacular, apenas 0,36% de valorização. 

A diferença reflete o que muitos viram ontem – entre eles, a agência classificadora de rating Fitch – a operação foi positiva para a vendedora e neutra Wesley Batista também se beneficiará da operação, já que ela ganhará um importante mercado. 

Marfrig: o melhor cenário
Pelas avaliações de analistas, a ideia de trocar o IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) por uma venda foi a mais eficiente possível para o frigorífico controlador da Moy Park. 

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Para começar, segundo a Bloomberg, a operação envolvendo a subsidiária, avaliada em US$ 1,5 bilhão dos quais 21,1% é dívida, reduzirá o endividamento da Marfrig em R$ 5 bilhões. Para uma empresa que sofre há anos com uma alavancagem em níveis perigosamente elevados, a solução cai como uma luva, já que com isso, o múltiplo dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) passará de 6,2 vezes para 4,7 vezes, segundo alguns analistas e até para 3,5 vezes na avaliação de outros. “Ainda desconfortável”, como lembra a equipe de análise do Besi em relatório, mas bem melhor do que o nível anterior. 

Para Angelo Larozi, analista da Walpires Corretora, a operação ainda é positiva porque mostra a intenção da empresa de cumprir suas metas dentro da sua estratégia de “focar para ganhar”, que está lá desde o turnaround promovido pelo ex-presidente da companhia, Sérgio Rial, e que se manteve viva sob a gestão do uruguaio Martin Secco Arias. “Isto mostra o comprometimento da empresa em fazer seus ajustes internos, reestruturação e ter fôlego para tocar suas estratégias e negócios”, afirma.

Em relatório, o BofA (Bank of America Merrill Lynch) elevou o preço-objetivo da companhia de R$ 4,20 para R$ 7,00 por ação e fez saltar a recomendação de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para compra. O upside (potencial de valorização) em relação ao preço atual é de 42%. “Ao nosso ver, a venda anunciada da Moy Park para a JBS ajudará a reduzir significativamente o risco das ações da Marfrig”, dizem os analistas Fernando Ferreira, Isabella Simonato e João Almeida, no paper do BofA. 

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Friboi também comemora
Se é bom para a vendedora, porque ganhará o caixa que precisa tanto para reduzir a sua dívida, também é bom para a compradora, que ganhará o mercado europeu, consolidando o seu segmento de produção de aves internacionalmente. “Eleva a participação e não compromete o nível de endividamento da companhia”, explica o estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido. 

Apesar do tamanho da operação, o valor da Moy Park é de apenas 6% do da JBS. Assim, de acordo com a equipe do BTG Pactual, a assunção de dívida só vai levar a alavancagem do frigorífico de 2,3 vezes no múltiplo dívida líquida sobre Ebitda para 2,6 vezes. Observando isso, o BofA também elevou o preço-objetivo da JBS de R$ 18,50 para R$ 19,50, dando um upside de 18% em relação aos preços atuais. 

Na teleconferência desta terça-feira (23), o presidente da JBS, Wesley Batista, disse que as estimativas de sinergia refletem cenários conservadores. “A JBS está avançando em produtos de maior valor agregado”, disse Wesley, que ainda elogiou a equipe da companhia como “super sólida”. 

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Consolidada a aquisição, a Moy Park deverá responder por 5% da geração de caixa da JBS, saindo de uma situação em que tinha pouca sinergia com a Marfrig, de acordo com o BofA. Ou seja, o melhor dos mundos está desenhado para dois dos maiores produtores de carne brasileiros, restará saber como a dona da Friboi irá gerir seus novos ativos europeus para ver se ela conseguirá arrancar mais do que um “neutro” da Fitch no futuro.