Bolsa abaixo dos 100 mil pontos pode abrir oportunidade, mas também exige cautela

Cenário mundial ainda é incerto e risco fiscal no Brasil também gera desconfiança aos investidores

Vitor Azevedo | Mitchel Diniz

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Em mais uma sessão, a segunda consecutiva, a bolsa brasileira fechou com o Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos, algo que não acontecia desde o ano passado. A derrocada coloca investidores em alerta, pelo fato de o nível atual ser visto como um suporte para uma pior ou melhor performance do benchmark da Bolsa brasileira – mas também existem aqueles que falam em oportunidade.

“A base dos 100 mil pontos é importante do ponto de vista psicológico”, comenta Luiz Cesta, head de análise da Monett. “É uma região que foi testada duas vezes, no final de 2021 e no começo de 2022, e perder esses níveis pode significar quedas ainda maiores”.

Hoje, o Ibovespa operou, na mínima, aos 98.409 pontos e, na máxima, aos 100.481, mas fechou praticamente estável, com alta de apenas 0,03%, aos 99.852 pontos pontos, em dia de mercado fechado nos Estados Unidos, por conta do feriado do fim da escravidão no país.

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Vários fatores são responsáveis pela atual performance da Bolsa brasileira. Inflação mundial, ciclos de altas de juros em vários países desenvolvidos e a perspectiva de um crescimento menor da economia mundial são, talvez, as principais âncoras do Ibovespa neste momento.

“Tudo isso atrapalhar o mercado de risco, aumentando as taxas de desconto e dificultando a competição desses ativos com a renda fixa, que por aqui está beirando os 13% e 14% ao ano”, explica Cesta.

Nos Estados Unidos, a inflação mais duradoura do que o esperado levou o Federal Reserve, na última semana, a elevar a taxa básica do país de forma mais acelerada daquilo que era dito anteriormente, o que atrai um fluxo de capital para os treasuries e mingua a perspectiva de crescimento da maior economia do mundo.

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Já na China, segunda maior economia do mundo, restrições por conta da covid-19 são ameaça o avanço do Produto Interno Bruto (PIB), tendo ainda impacto direto sobre a bolsa brasileira, por conta das commodities.

China, recessão e fiscal impactam Ibovespa

“O Ibovespa hoje reflete um contexto global que é influenciado pelo aumento do sentimento do investidor de que viveremos uma recessão, que traz impacto significativo na demanda por commodities. Isso pressiona as ações brasileiras”, afirma Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.

“O medo de recessão nas grandes economias ocidentais e a expectativa baixa para o desempenho econômico na China enfraqueceram as empresas de produtos não manufaturados, principais responsáveis por sustentar o Ibovespa nos últimos tempos”.

O especialista da Genial ainda aponta que, no cenário interno, as recentes ameaças fiscais também vêm pesando na performance do índice.

Nas últimas semanas, o Governo Federal vem tentando achar formas de conter a alta dos preços dos combustíveis, tendo aprovado um corte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre esses produtos – sem explicar, no entanto, exatamente como compensará os impactos que isso deixará na receita. Além disso, políticos vêm pressionando a Petrobras (PETR3;PETR4) a não aumentar o preço da gasolina e do diesel.

“O mercado está bastante desconfiado da força tarefa do Governo Federal em relação a todas medidas que estão sendo tomadas para conter os processos inflacionários. Há um aumento da precificação do Risco Brasil, o que pesa no juros”, contextualiza Villegas. Segundo ele, além de tudo, a aproximação das eleições deve aumentar as pressões nesta frente.

O Risco Brasil é um instrumento utilizado por investidores para avaliar a capacidade do país de pagar ou não suas dívidas públicas. A sinalização de maiores gastos, sem contrapartes, levou esse índice a saltar para os 272 pontos na última semana, máxima em dois anos.

“Entramos em um cenário em que a blindagem que o Ibovespa tinha no primeiro trimestre, com o mercado se posicionando em commodities e sem notícias de impacto para a questão fiscal brasileira, acabou”, destaca o estrategista da Genial Investimentos.

“Apesar das ações brasileiras estarem a preços atrativos, a dinâmica envolvendo os noticiários externo e local acaba sendo negativa. Enquanto as manchetes não melhorarem, os ativos brasileiros devem ficar pressionados”, acrescentou.

Copo meio cheio ou meio vazio

Apesar da queda, Villegas vê que a Bolsa brasileira pode, em breve, se deparar com gatilhos positivos.

Uma perspectiva de melhora, conforme o especialista da Genial, pode vir das empresas domésticas, no caso de a economia brasileira continuar resiliente e a inflação realmente ter atingido um pico, como sugerem as divulgações recentes de alguns índices.

“Se tivermos sinais mais positivos quanto à inflação, como o Banco Central brasileiro já está no fim do seu ciclo, temos a possibilidade de surfar um bom momento, uma vez que nos países desenvolvidos este processo está ainda começando”, defende.

Com grande parte dos países do mundo ainda começando a elevar suas taxas de juros, e com isso a restringir suas economias, uma queda da Selic no Brasil pode impulsionar os ativos de risco e a performance do PIB brasileiro pode se destacar.

André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, defende que uma bolsa de valores costuma funcionar como uma espécie de mola.  “Às vezes ela está muito esticada e tende a recuar, mas ao ficar muito pressionada, quando a pressão acaba, a mola também acaba voltando a expandir”, diz Luzbel.

“Vemos que a bolsa está neste momento muito pressionada e a qualquer hora, basta algumas coisas melhorarem no mundo no Brasil, ela pode voltar a decolar para 110 mil 120 mil pontos.”

O especialista pontua que há empresas pagando diviend yields atrativos e com múltiplos descontados, no entanto, Luzbel ainda não vê o Brasil como “estando de graça”. “Há o copo meio cheio e meio vazio. O cheio é que há várias oportunidades de compra o vazio, é que pode cair muito mais”.

Entre os riscos, Welliam Wang, head de renda variável da AZ Quest, pontua que acontecimentos como a mudança do presidente da Petrobras, bem como a CPI envolvendo essa estatal, podem pesar sobre o Ibovespa, uma vez que a petroleira tem participação importante no índice. Interferências na estatal, de acordo com o gestor, também podem ser vista por investidores como demonstração de insegurança jurídica, o que também tende a reduzir o fluxo de capital para o país.

Analistas da XP Investimentos comentam que os ativos brasileiros seguem baratos, negociando a forte desconto frente à media histórica, mas que não é hora de “ser herói”.

“Nós seguimos otimistas com a Bolsa brasileiros, mas ressaltamos que em cenários de recessão global, os ativos locais tendem a sofrer também”, explicam os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, em relatório. “Não acreditamos que seja a hora de se tomar riscos desnecessários, pois o cenário global segue exigindo cautela”.

Para eles, o investidor brasileiro está em uma posição privilegiada em relação à investidores de outros países, pois as taxas de juros locais já estão bem elevadas, o que proporciona bons retornos com baixo risco até o cenário global ficar mais claro.

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